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terça-feira, janeiro 28, 2020

A grande imprensa e a academia detonariam César Lattes


Na revista Brasil – Almanaque de Cultura Popular (edição de novembro de 2006), que encontrei a bordo de um avião da Tam, havia um texto alusivo ao Dia Mundial da Ciência (24/11). A pequena matéria dizia que “se o Brasil tivesse um panteão das ciências, nele estaria o curitibano César Lattes. Nascido em 1924, só é batizado na adolescência. Judeu, o pai teme a perseguição fascista. Aos seis anos, César joga xadrez. Aos 22, pesquisa na Universidade de Bristol, Inglaterra, uma partícula do átomo, prevista mas inédita”. Lattes descobriu o méson pi e chamou atenção para a ciência nacional. Ele recebeu vários prêmios, mas não o Nobel de Física. “Em 1950”, prossegue o texto, “fatores mal explicados dão o prêmio a Cecil Powell, seu colega de equipe inglês. Depois, com Eugene Garner, cria artificialmente o méson. Mas o parceiro morre, e a academia só premia vivos. Lattes morre em 8 de março de 2005, reconhecido como o maior cientista do Brasil. ‘Ele era para as pessoas esclarecidas o que Pelé é para o povão’, diz Iuda Goldman, seu colega de USP.”

Em agosto de 2001, o Jornal da Unicamp publicou uma entrevista com o nosso Pelé da ciência. Leia alguns trechos a seguir e depois minha nota final:

“– No princípio, Deus criou os céus e a terra.
“– Os céus e a terra, está bem? E depois criou as águas. Continue lendo...
“– A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas.
“– Tinha o céu, a terra e as águas. Então, o que Ele disse?
“– Deus disse: ‘Faça-se a luz.’
“– Ele estava no escuro...
“– E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou ‘dia’ a luz e às trevas, ‘noite’. Assim surgiu a tarde e em seguida a manhã. Foi o primeiro dia.
“– Está bom? Então você queria saber sobre a origem do Universo? Está aqui a origem do Universo. Você conhece, já ouviu falar desse livro?"

“Foi assim que começou o diálogo entre uma repórter e o físico Cesar Lattes, professor emérito da Unicamp. O peso do livro do Gênesis foi maior que o dos livros todos reunidos na Bíblia pousada sobre o sofá, lida pela jornalista a pedido do cientista. [...]

“Em 1947 Lattes descobriu o méson-pi, depois de expor chapas fotográficas muito sensíveis, conhecidas como emulsões nucleares, à altitude de 5,6 mil metros do Monte Chacaltaya, na Bolívia, onde a detecção dessas partículas seria presumivelmente mais favorável. ‘Mas mais emocionante foi detectar os mésons produzidos artificialmente, com Eugene Gardner, em Berkeley’, relembra o mestre.


“Verbete da Enciclopédia Britânica, Lattes dizia aceitar a Bíblia como a origem da matéria. Curitibano, foi um dos criadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e tornou-se professor da Unicamp em 1967.”

Em resposta à jornalista, Lattes também criticou o conceito popular de Big Bang (segundo o qual o Universo teria começado em uma grande explosão), para então afirmar que Deus criou a matéria. “Se a teoria do Big Bang ainda é aceita, não em sua essência, mas em algumas nuances, podemos questionar de onde veio a matéria antes da grande explosão... Deus criou. E eu não brigo com astrônomos por isso.”

Como se pode ver, o homem que dá nome à maior plataforma de currículos virtuais do Brasil, criada e mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
acreditava em Deus e na Bíblia Sagrada, como muitos outros cientistas do passado e do presente; como os próprios pioneiros da ciência – Newton, Galileu, Copérnico, Pascal... No entanto, isso não impediu que Lattes pudesse lecionar na prestigiada Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e se destacar no campo da ciência.

Se fosse hoje, com o crescimento da atuação da militância anticriacionista, além de César Lattes ser impedido de falar no campus, digamos, sobre o design inteligente do Universo, imagine o que aconteceria se ele fosse indicado para presidir, digamos, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fundação vinculada ao Ministério da Educação... A grande imprensa “cairia de pau” nele e em quem o indicasse. Alguns vociferariam: “Como pode colocarem um fundamentalista religioso desses para dirigir uma instituição ligada à ciência e ao ensino?” “Ele acredita em Deus e na Bíblia! Não deve ser um cientista de verdade.” Onde se viu um físico acreditar na Bíblia!” Criacionistas, que creem que Deus criou o Universo e a vida, e defensores da teoria do design inteligente não sabem fazer boa ciência. E por aí vai.

Ainda bem que isso tudo é só imaginação...

Michelson Borges

quinta-feira, outubro 03, 2019

Isaac Newton era ocultista?

Já escutou que Isaac Newton, que para muitos foi o maior cientista de todos os tempos, não era cristão? Há bons esclarecimentos no vídeo abaixo (essa moça cursou doutorado em Física na França e faz pós-doutorado no CERN do Japão). Ela não é religiosa, mas é mais equilibrada que muitos ditos cristãos, inclusive não vendo problema nos estudos que Newton fez da Bíblia. Chega mesmo a comentar a visão dele de buscar unir ciência e religião como não sendo algo anticientífico, mas uma motivação pela curiosidade, pelo rigor e pela busca por desenvolver tudo que fez em direção à verdade. Ela também comenta a acusação de que Newton era da Rosa-Cruz.

[Continue lendo.]

segunda-feira, setembro 16, 2019

Fantástico exibe reportagem sobre a Terra plana

O programa dominical de TV “Fantástico” exibiu ontem uma reportagem alusiva aos 500 anos da primeira viagem de circunavegação de Fernão de Magalhães, e tratou também da teoria conspiratória da Terra plana (veja aqui a matéria). Graças a Deus, desta vez os repórteres não relacionaram essa ideia mirabolante com o criacionismo nem com a Bíblia. Sim, porque, infelizmente, os chamados terraplanistas (que, por sinal, estão organizando um encontro no Brasil para o mês que vem) frequentemente se identificam como defensores das Escrituras Sagradas, do criacionismo e até do design inteligente (DI), como um rapaz que tem um canal no YouTube aparentemente criado para defender a TDI, mas que ultimamente mais se ocupa de tentar mostrar que o homem não pisou na Lua e que a Terra seria um disco tipo pizza! O que esse pessoal mais consegue, na verdade, é atrair o escárnio e denegrir o cristianismo/criacionismo diante do público em geral. Por isso o diabo gosta tanto dessa ideia e leva as pessoas a perder tanto tempo com ela. E por isso, a Sociedade Criacionista Brasileira teve que emitir em 2017 uma nota de esclarecimento em que deixa claro não ser de forma alguma terraplanista (leia a nota).
Vou deixar aqui embaixo alguns vídeos para que você possa se inteirar desse assunto e dois links para textos que refutam o terraplanismo (veja aqui e aqui). E MAIS IMPORTANTE: deixo aqui o link para um extenso documento escrito por meu amigo astrofísico Eduardo Lütz, até agora não refutado por nenhum terraplanista. É bem evidente que esse pessoal não gosta de matemática nem da verdadeira ciência, essa, sim, em harmonia com a Bíblia Sagrada e o verdadeiro criacionismo. [MB]

sexta-feira, agosto 30, 2019

O caráter científico das teorias de criação


Inicialmente, é importante destacar (conforme já mencionado aqui neste blog em vários outros artigos) que há dois tipos de ciência praticados atualmente: a ciência humana e a ciência verdadeira. O que as diferencia significativamente é o tipo de raciocínio adotado. Enquanto a ciência humana (que remonta a Aristóteles) faz uso predominante de um raciocínio intuitivo/filosófico, mais aberto à especulação/interpretação, a ciência verdadeira (descoberta durante a Revolução Científica dos séculos 16 a 18) se utiliza do raciocínio formal (matemático), muito menos limitado e muito mais confiável, o qual deixa o mínimo espaço possível (ou nenhum) para a especulação/interpretação.[1-4] A ciência verdadeira é, portanto, muito mais eficiente em produzir conhecimento genuíno, mas a ciência humana também possui seu mérito. Neste artigo, estarei lidando, de forma geral, com a ciência humana (assim como em meu artigo anterior), haja vista ser esse o tipo de ciência praticada atualmente nas áreas de conhecimento que lidam com a questão das origens – tais como biologia evolutiva e geologia histórica.

A ciência de hoje possui uma visão essencialmente ateísta. Como diria Basil Willey: “A ciência deve ser provisoriamente ateísta, ou deixar de ser ela mesma.”[5] O que explica essa presente condição da ciência é a regra, supostamente necessária para o avanço científico, chamada naturalismo (ou materialismo) metodológico (NM). Stephen Meyer define essa norma da seguinte maneira: “...um princípio que especifica que os cientistas devem explicar todos os eventos através de causas materialísticas (não inteligentes), seja qual for a evidência.”[6] Por “causas materialísticas” entenda-se causas naturais (processos físicos, químicos, biológicos). Dentro desse contexto, qualquer cogitação de uma possível causa sobrenatural para explicar algum fenômeno natural, ainda que baseada em evidências do mundo natural, é descartada sob a acusação de ser metafísica ou teológica – em outras palavras, não científica.

Os defensores do princípio do NM argumentam que a proibição de invocar Deus ou alguma outra inteligência criativa em teorias científicas é bem fundamentada, nem um pouco arbitrária. Para eles, teorias de criação (Teoria do Design Inteligente – TDI – e Criacionismo Científico) não satisfazem padrões objetivos do método científico, conhecidos como critérios de demarcação. Não explicam por meio de causas naturais apenas, nem manifestam várias outras características de verdadeiras teorias científicas, tais como testabilidade, observabilidade e falseabilidade. Assim, diferente de teorias evolucionistas naturalísticas, teorias de criação seriam metodologicamente deficientes.[5]

Porém, há pelo menos três linhas de argumentação que demonstram a falibilidade dessa tentativa de imputar um caráter não científico à TDI,[5] a qual, por definição, “simplesmente diz que certas feições do Universo e dos seres vivos são mais bem explicadas por uma causa inteligente, ao invés de um processo não direcionado, como a seleção natural”.[7] Essa teoria não se preocupa em dizer quem seria essa causa inteligente (que pode ser Deus ou algum ser extraterrestre superevoluído, por exemplo). Apenas afirma que algumas evidências apontam para sua ação no Universo e nos seres vivos.

Em primeiro lugar, a maioria dos filósofos da ciência de hoje considera a questão “Quais métodos distinguem a ciência da não ciência?” como intratável e desinteressante. Eles têm aprendido com os sucessivos fracassos das tentativas de estabelecer critérios de demarcação, ao longo da história, capazes de distinguir com precisão a ciência da pseudociência, tendo chegado à conclusão de que a principal questão não é se uma teoria é ou não científica, mas se ela é ou não verdadeira ou garantida pela evidência. Como Martin Eger resume bem, “argumentos (ou critérios) de demarcação colapsaram. Filósofos da ciência não os consideram mais. Eles podem ainda desfrutar aceitação no mundo popular, mas esse é um mundo diferente”.[5]

Embora os argumentos de demarcação tenham caído em descrédito, de modo geral, para os filósofos da ciência, eles ainda são bastante valorizados por muitos cientistas. Em função disso, o segundo argumento tem por objetivo demonstrar a inaptidão de tais argumentos em desqualificar a TDI. Mais especificamente, é importante lidar com os seguintes critérios de demarcação, comumente utilizados como justificativa para atribuir o status de pseudociência à TDI: (a) explicações através de causas naturais apenas (é proibido recorrer a qualquer tipo de inteligência criativa), (b) observabilidade, (c) testabilidade, e (d) falseabilidade.[5]

Quanto ao item (a), que corresponde ao NM, é relevante atentarmos para o programa de pesquisa SETI (Busca por Inteligência Extraterrestre), o qual tem como missão explorar, entender e explicar a origem da vida no Universo e a evolução da inteligência.[8] Os cientistas desse instituto se dedicam a detectar sinais de vida inteligente em algum lugar do Universo. Para isso, buscam ondas de rádio especiais, diferentes das que são comumente detectadas por seus telescópios (produzidas no espaço por causas naturais), que lhes garantam estar diante de uma evidência clara de inteligência. Ou seja, para os cientistas do SETI é fundamental diferenciar fenômenos produzidos por causas naturais daqueles produzidos por uma mente inteligente. Logo, esse programa científico sozinho lança por terra a obrigatoriedade imposta pelo NM de uma teoria utilizar-se apenas de causas naturais em seu recurso explanatório para ser considerada científica.[9] Adicionalmente, a ciência forense, a história e a arqueologia, cujo caráter científico não é questionado, também postulam, assim como o SETI, a ação passada de seres inteligentes para explicar eventos ou objetos em estudo.[5]

Os itens (b) e (c) costumam estar interligados nas críticas feitas à TDI, já que se presume que o caráter inobservável de um agente inteligente o torna inacessível à investigação empírica, tornando a teoria impossível de ser testada.[5]

Porém, a realidade é que muitas áreas de conhecimento já consideradas científicas (por exemplo física, geologia, arqueologia, biologia) lidam rotineiramente com elementos inobserváveis (ex.: forças, átomos, eventos passados, feições geológicas da subsuperfície, estruturas biológicas moleculares), tendo que inferir sua existência a partir de elementos observáveis – ou seja, o teste é indireto. Até mesmo a teoria evolutiva apresenta elementos inobserváveis em sua estrutura, tais como: as formas de vida transicionais que ocupariam os nódulos da árvore da vida evolutiva de Darwin, mutações do passado, e eventos de rápida evolução (Pontualismo).[5]

O próprio Darwin argumentou que a inobservância de eventos/processos passados não significa que teorias sobre as origens sejam intestáveis. Ele afirmou: “Esta hipótese (descendência comum) deve ser testada... tentando ver se ela explica várias classes de fatos grandes e independentes; tais como a sucessão geológica dos seres orgânicos, sua distribuição no passado e no presente, e suas afinidades mútuas e homologias.” Para ele, essas teorias podem ser testadas indiretamente, avaliando seu poder explanatório com respeito a uma variedade de dados relevantes.[5]

Phillip Kitcher, que não é simpático às teorias de criação, reconheceu: “Mesmo postular um Criador que não pode ser observado não precisa ser menos científico do que postular partículas inobserváveis. O que importa é o caráter das propostas e os modos pelos quais elas são articuladas e defendidas.”[5]

O critério de falseabilidade (hipóteses científicas devem fazer previsões passíveis de refutação), item (d), é de difícil aplicação para qualquer teoria das origens. Mesmo que não haja dados que corroborem suas hipóteses preditivas de que certas evidências devem ser encontradas (ex.: os inúmeros fósseis intermediários previstos pela teoria da evolução), elas não podem ser refutadas, pois quase sempre haverá a possibilidade, ainda que mínima, de que tais dados surjam futuramente, já que a evidência e a compreensão do passado que temos são incompletas. Porém, a ciência deve ser capaz, afinal, trabalhando com hipóteses discordantes, e comparando-as com os dados, de identificar quais hipóteses não condizem com a realidade.[5, 10].  

Por fim, como último argumento contra a ideia de que a TDI não é científica, apresenta-se o fato de que ela é metodologicamente equivalente à teoria da evolução (TE), podendo ambas ser classificadas como ciências históricas – as quais lidam com eventos passados únicos, irreprodutíveis em laboratório, buscando explicá-los a partir de feições da natureza do presente, o que as torna significativamente diferentes das ciências não históricas (ex.: física e química), que se preocupam, primariamente, em descobrir, classificar ou explicar regularidades (leis) e propriedades da natureza. A ideia principal desse argumento é que, haja vista a equivalência mencionada, torna-se impossível considerar como científica ou pseudocientífica apenas uma dessas teorias (TDI ou TE). Já que são metodologicamente equivalentes, e a ciência é definida por seus métodos, ou ambas são ciência ou pseudociência.[5]

É pertinente destacar ainda que o doutor em ecologia e biologia evolutiva Leonard Brand propõe que hipóteses úteis (testáveis) podem ser derivadas do Criacionismo Bíblico (que pode ser definido como uma cosmovisão ou filosofia que considera a Bíblia como uma fonte confiável de revelação da verdade). Ele afirma: “Não podemos testar diretamente se Deus esteve envolvido na história da Terra; porém, se Ele Se envolveu das maneiras descritas na Bíblia (criação e catástrofe geológica global), esses eventos deveriam ter deixado alguma evidência no mundo natural (por exemplo, limitada evidência para intermediários evolucionários e evidência pervasiva de ação catastrófica global).” E no decorrer de sua argumentação ele apresenta várias dessas hipóteses, demonstrando como elas têm apresentado considerável poder explanatório.[10]

Portanto, o que temos aqui, mais uma vez, é um exemplo claro de uma ciência histórica,[11] a qual, assim como a TDI, utiliza os mesmos recursos metodológicos e explicativos característicos da TE. Sim, o Criacionismo Científico tem um componente filosófico (suas crenças) que embasa suas hipóteses, mas o mesmo pode ser dito quanto ao Darwinismo (cujas hipóteses se baseiam na crença ateísta do NM) ou TDI (que admite tanto o teísmo quanto o ateísmo). Ademais, é fácil notar, depois de tudo o que foi exposto, que os critérios de demarcação já mencionados também falham em atribuir um caráter de pseudociência ao Criacionismo Científico, como ocorre com a TDI. Logo, a realidade é que, independentemente da cosmovisão adotada para o estudo das origens, seja ela naturalística ou teísta, é possível criar verdadeiras hipóteses científicas para estudar o passado da vida e do Universo. O que, afinal, realmente importa e deve ser levado em consideração é o poder explanatório revelado por cada uma dessas hipóteses quando confrontadas com os dados.

(David Ramos Pereira é geólogo e mestre em Geologia e Geoquímica pela UFPA)

Referências:
[1] A verdadeira e a falsa ciências. http://www.criacionismo.com.br/2016/07/a-verdadeira-e-falsa-ciencias.html; acessado em 20/8/2019.
[2] Ciência não é pesquisa comum. http://www.criacionismo.com.br/2016/09/ciencia-nao-e-pesquisa-comum.html; acessado em 20/8/2019.
[3] A descoberta da ciência. http://www.criacionismo.com.br/2017/03/a-descoberta-da-ciencia.html; acessado em 20/8/2019.
[4] Scientific Revolution. https://www.britannica.com/science/Scientific-Revolution; acessado em 20/8/2019.
[5] The Methodological Equivalence of Design and Descent. https://www.discovery.org/a/1696/; acessado em 18/8/2019.
[6] Denying the Signature: Methodological Naturalism and Materialism-of-the Gaps. https://evolutionnews.org/2015/11/denying_the_sig_4/; acessado em 17/8/2019.
[7] What is Intelligent Design. https://www.discovery.org/v/what-is-intelligent-design/; acessado em 18/9/2019.
[8] SETI Institute – Mission. https://www.seti.org/about-us/mission; acessado em 23/8/2019.
[9] Do You Like SETI? Fine, Then Let’s Dump Methodological Naturalism. https://evolutionnews.org/2014/09/do_you_like_set/; acessado em 20/8/2019.
[10] Brand, L. (2009). Faith, reason, and earth history: a paradigm of earth and biological origins by intelligent design. Andrews University Press, 332 p.
[11] It’s not science. https://creation.com/its-not-science; acessado em 25/8/2019.

quarta-feira, junho 05, 2019

O mínimo que você precisa saber sobre ciência e intuição

"Mais pessoas acreditam em Einstein do que nos seus próprios olhos." - Olavo de Carvalho

A maioria das pessoas não tem ideia do que Einstein disse ou deixou de dizer. Quanto aos físicos, nenhuma das informações que usam tem Einstein como origem. Ele apenas reuniu informações já conhecidas em uma única teoria (sistema de equações diferenciais). E ele mesmo não acreditou inicialmente em todas as consequências das equações que reuniu.

Mas em quem devemos acreditar, na Matemática ou em nossos próprios olhos? Quando estamos mergulhados em uma piscina e, de lá vemos um objeto a dois metros de altura, se fizermos os cálculos levando em conta o índice de refração da água e do ar obteremos que o objeto está a um metro de altura e não dois. Mas nossa visão nos mostra que sua altura é de dois metros. Se colocarmos a cabeça para fora da água, nossa visão concordará com o nosso cálculo. Em quem vamos acreditar, em nossa visão sob a água ou em nossa visão acima da água? Esse é um exemplo simples e cotidiano (pelo menos para quem costuma mergulhar e olhar para fora da água a partir de um ambiente subaquático, como eu) que mostra que nem sempre nossos sentidos são confiáveis, que temos meios de calcular correções a nossas distorções de percepção, correções essas que podem ser testadas e confirmadas.

Porém, o maior problema não são as distorções sensoriais a que todos estamos expostos. São as generalizações equivocadas que a intuição humana faz com frequência. Uma pessoa que passa a vida toda em ambiente semiárido sem acesso a informações sobre outras regiões tende a imaginar que o mundo todo é igual a sua vizinhança. Uma pessoa que nunca viajou a velocidades comparáveis à da luz no vácuo tende a imaginar que o tempo é absoluto e qualquer ideia diferente disso é absurda (como os próprios físicos pensaram no século 19). Na verdade, nos últimos séculos temos nos deparado com diversas situações em que as previsões resultantes das equações das leis físicas pareciam absurdas à intuição, mas a experimentação mostrava que a previsão matemática estava correta e a previsão da intuição é que era incompatível com a realidade.

Isso significa que devemos jogar fora a intuição e tudo o que depende dela, como a Filosofia? De maneira nenhuma. A intuição é um importante instrumento que nos permite entender o ambiente imediato e suas principais interações, e tende a funcionar razoavelmente bem nesse contexto. A Filosofia é uma importante maneira de organizarmos socialmente esse entendimento. Mas a intuição tem-se mostrado tão mais enganosa quanto mais os assuntos se afastam do cotidiano.

O fato de haver pessoas que estudam, testam e descobrem fenômenos que desafiam a intuição humana (e consequentemente correntes filosóficas com muitos adeptos) e divulgam esses resultados tende a irritar pessoas que preferem pensar diferente. É um direito que têm. Porém, apesar de não acreditar no que lhes parece contraintuitivo, elas se beneficiam direta ou indiretamente de tecnologias que só funcionam graças a fenômenos que essas pessoas consideram absurdos e inexistentes.

Esse ceticismo não é exclusivo de pessoas que desconhecem Física. Os próprios descobridores dessas coisas foram muito céticos com elas inicialmente. A previsão (a partir das equações do eletromagnetismo) de ser absoluta a velocidade da luz no vácuo foi inicialmente considerada absurda e foram buscadas alternativas. Entre elas, pensou-se na possibilidade de que essa velocidade fosse em relação a um suposto éter luminífero, o que implicaria em que as equações do eletromagnetismo só funcionam no referencial do éter e falham em outros referenciais (o que é falso, pois verifica-se que aquelas equações são válidas nos demais referenciais). O experimento de Michelson e Morley mostrou que, ou estamos sempre parados em relação ao éter (se as equações do eletromagnetismo só valem no referencial do éter), ou a velocidade da luz é realmente absoluta. Mesmo com esses resultados, os físicos demoraram muito tempo para fazer as pazes com aquele "absurdo" em função das consequências sobre a relatividade do tempo e do espaço. Chegaram mesmo a calcular essas consequências sem aceitá-las. O mérito de Einstein foi o de parar de dar murro em ponta de faca, aceitar as descobertas e organizá-las na forma de uma teoria.

Outro exemplo foi a descoberta, feita independentemente por Hilbert e Einstein, de uma equação que mostra como o espaço e o tempo se encurvam por causa da energia. Essa equação também tem consequências que o próprio Einstein não aceitou; entre elas a de que o próprio tempo teve uma origem, que o Universo está em expansão e que a luz que chega até nós vinda de um aglomerado de galáxias distantes será tão mais avermelhada quanto mais distante estiver o aglomerado. Esses resultados foram desprezados por Einstein, até que ele viu observações confirmando essas previsões. Só então aceitou as previsões de sua própria teoria.

A visão ingênua de ciência que muitos têm, como se fosse uma construção social, impede que se perceba que ela permite lidar com informações externas à humanidade e que desafiam nossa filosofia, provendo a todos nós, inclusive físicos, uma oportunidade para sermos humildes e reconhecer o quão limitados somos e que muitas vezes o que nos parece razoável é absurdo e o que nos parece absurdo é a realidade.

Eduardo Lütz

quarta-feira, maio 29, 2019

A [R]evolução científica de 29 de maio de 1919

29 de maio de 1919 é a data chave para a abertura de um capítulo importante da história, não apenas da ciência, mas de toda a humanidade. O registro fotográfico da deflexão da luz correspondente ao eclipse ocorrido nessa data, abriu um amplo campo de possibilidades de desenvolvimento científico, influenciando o cotidiano do ser humano de forma direta e profunda há exatamente cem anos. As fotografias desse eclipse estabeleceram uma das primeiras bases experimentais para a confirmação de aspectos fundamentais da Teoria Geral da Relatividade, de Albert Einstein (1879-1955). A partir de então, ferramentas tecnológicas que favorecem a instrumentalização da energia nuclear e o uso do GPS, entre outras inovações, tornaram-se possíveis, mudando efetivamente o modus operandi da Idade Contemporânea.

O princípio da Teoria Geral da Relatividade está no coração de muitos dispositivos médicos, como os scanners para tomografia por emissões de pósitrons (PET), usados para encontrar tumores; também está em aparelhos domésticos, como televisores e alarmes de fumaça. Ainda nesse sentido, uma perspectiva significativa para a teoria de Einstein está no seu poder para a explicar como as estrelas se inflamam e nosso planeta se aquece; e como buracos negros são criados.[1]

No entanto, as peças da linha de montagem da teoria que revolucionou a história dos dois últimos séculos não começam a ser engendradas por um funcionário público alemão em um escritório de patentes em Berna, na Suíça de 1905. Einstein desenvolveu a teoria geral “para explicação da realidade”, como uma metonímia da busca da ciência ao conhecimento pleno do mundo físico, e ele próprio menciona que essa odisseia científica é semelhante a uma história de mistério perfeito em que se procura por “uma solução completa antes de sua revelação pelo autor no fim do livro”.[2]

Segundo Einstein e Infeld, a despeito de todos os volumes lidos e compreendidos, ainda estamos longe de uma solução completa, e em cada etapa tentamos encontrar uma solução geral compatível com todas as pistas conhecidas. Quanto mais lemos, tanto mais plenamente apreciamos a perfeita construção do livro, muito embora a solução completa pareça recuar ao avançarmos. Para obter até mesmo uma solução parcial o cientista tem de coligir os fatos desordenados disponíveis, tornando-os coerentes e compreensíveis pelo pensamento criador.[3]

A linha histórica de montagem da Teoria Geral Relatividade possui peças que podem nos remeter à formação dos rudimentos da linguagem matemática, entretanto, Galileu Galilei (1564-1642) e Isaac Newton (1643-1727) são catalisadores na aceleração do processo de descoberta científica quando substituem o ponto de vista intuitivo pelo pensamento consistente com uma observação padronizada pela linguagem matemática, ao desenvolverem a lei da inércia em contrapartida à definição intuitiva de movimento de Aristóteles. Dentro dessa perspectiva, conforme afirma Einstein, há apenas quatrocentos anos os cientistas começaram a entender a linguagem da história:

Desde esse tempo, a época de Galileu e Newton, a leitura prosseguiu rapidamente. Foram desenvolvidas técnicas de investigação e métodos sistemáticos de encontrar e seguir pistas. [...] A descoberta e o uso do raciocínio científico por Galileu foram uma das mais importantes conquistas da história do pensamento humano e marcam o começo real da Física. Essa descoberta nos ensinou que as conclusões intuitivas baseadas na observação imediata nem sempre devem merecer confiança, pois algumas vezes conduzem a pistas erradas. [...] A experiência idealizada jamais pode ser realmente levada a efeito, embora conduza a uma profunda compreensão das experiências reais. O pensamento humano cria um quadro sempre mutável do Universo. A contribuição de Galileu consistiu em destruir o ponto de vista intuitivo, substituindo-o por outro novo.”[4]

Partindo desse pressuposto, é possível estabelecer um esboço com uma breve descrição histórica da linha do tempo que conduz a ciência do raciocínio científico de Galileu à Teoria Geral da Relatividade de Einstein:

 1607 – Galileu Galilei (1564-1642) chega a uma formulação matemática da lei da queda de objetos com base em suas experiências anteriores.[5]
 1609 – Johannes Kepler (1571-1630) descreve o movimento dos planetas ao redor do Sol, conhecido atualmente como “as leis do movimento planetário de Kepler”.[6]
 1640 – Ismaël Bullialdus sugere uma lei de força gravitacional quadrática-inversa.[7]
 1676 – Ole Rømer (1644-1710) estabelece a primeira medida quantitativa da velocidade da luz.[8]
 1665 – Isaac Newton (1643-1727) introduz a lei quadrática-inversa em sua lei de gravitação universal, unificando as teorias de movimento terrestres e celestes, e usando esse princípio para calcular a órbita da Lua e o arco parabólico de projéteis.[9]
 1684 – Isaac Newton prova que os planetas se movem sob uma lei de força gravitacional quadrática-inversa, que obedece às leis de Kepler.[10]
 1686 – Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) afirma que a energia cinética é proporcional à velocidade ao quadrado ou que a velocidade é proporcional à raiz quadrada da energia.[11]
 1744 – Pierre Louis Moreau de Maupertuis (1698-1759) publica seu tratado concernente ao princípio da ação mínima, proposto com base em ensinamentos bíblicos sobre Deus e o que Ele faz. Esse princípio estabelece a otimização das leis físicas, o que permite deduzir equações que as descrevem, como as da mecânica newtoniana, da Teoria Eletromagnética e da Relatividade Geral.[12]
 c.1755 – Leonhard Paul Euler (1707-1783) e Joseph-Louis Lagrange (1736-1813) instrumentalizam o princípio da ação mínima para deduzir as equações diferenciais das leis físicas, representadas pelas equações de Euler-Lagrange.[13]
 1749 – Emilie du Chatêlet (1706-1749) completa sua tradução para o francês do Philosophiae Naturalis Principia Mathematica de Newton, incluindo sua noção de conservação de energia, e ampliando a visão concernente à relação entre massa e velocidade.[14]
 1833 – William Rowan Hamilton (1805-1865) desenvolve a mecânica hamiltoniana, ampliando o método de Euler e Lagrange, estabelecendo a definição moderna de energia. A partir de Hamilton, a energia é conceituada como um sistema físico responsável por qualquer alteração ao longo do tempo.[15]
 1774 – Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794) comprova a Lei da Conservação das Massas.[16]
 1798 – Henry Cavendish (1731-1810) mede a força da gravidade entre duas massas, apresentando o primeiro registro histórico de um valor preciso para a constante gravitacional.[17]
 Michael Faraday (1791-1867), um influenciador direto de James Clerk Maxwell, começa a estudar as relações entre a eletricidade e o magnetismo.[18]
 1827 – André-Marie Ampère (1775-1836) publica Mémoire sur la théorie mathématique des phénomènes électrodynamiques uniquement déduite de l'experience, fundando a eletrodinâmica.[19]
 1855 – James Clerk Maxwell (1831-1879) começa a desenvolver um trabalho teórico visando a unificar a luz, a eletricidade e o magnetismo.[20] As equações dele serão fundamentais para o desenvolvimento da Teoria Geral da Relatividade.[21]
 1855 – Urbain Le Verrier (1811-1877) observa uma precessão no periélio de Mercúrio e atribui erroneamente à existência de outro planeta, que supostamente interferiria em sua órbita.[22]
 1867 – Os estudos de Georg Friedrich Bernhard Riemann (1826-1866) sobre Geometria Diferencial, essenciais para a formulação da Teoria Geral, são publicados postumamente.[23]
 1892 – Hendrik Lorentz (1853-1928) publica uma pesquisa sobre o movimento relativo da terra e do éter, sendo esse último um conceito hipotético em voga, na época.[24]
 1900 – Formulação do Cálculo Tensorial, por Gregorio Ricci-Curbastro (1853-1925) e Tullio Levi-Civita (1873-1941), elemento-chave para o conceito de curvatura do espaço.[25]
 1904 – Henri Poincaré apresenta o princípio da relatividade, que havia sido denominado quatro anos antes de o princípio do movimento relativo.[26]
 1905 – Albert Einstein completa a Teoria da Relatividade Especial e determina a lei da proporcionalidade entre energia e massa: E = mc2.[27]
 1915 - Albert Einstein completa a Teoria Geral da Relatividade, explicando com precisão a precessão do periélio de Mercúrio.[28]
 1919 – Arthur Eddington lidera uma expedição que afirma detectar a deflexão gravitacional da luz do Sol, por meio do registro de algumas fotografias do eclipse de 29 de maio de 1919.[29]

A partir da data de confirmação da deflexão da luz com o ângulo previsto, a Teoria Geral da Relatividade ganhou vida própria. Em 1939, no limiar da Segunda Guerra Mundial, Lise Meitner (1868-1978) publicou, juntamente com Otto Robert Frisch (1904-1979), uma pesquisa referente à desintegração do urânio, como o prenúncio de um desdobramento sombrio para a aplicação prática da teoria de Albert Einstein.[29]

Seis anos depois, duas bombas atômicas caíram sobre Hiroshima e Nagasaki e, nos últimos trinta anos, testemunhamos duas grandes catástrofes com usinas nucleares. Como diria Einstein, todo o nosso progresso tecnológico parece ser “como um machado nas mãos de um demente”.[30] Essa é uma prova patente de que uma grande força necessita de grande autocontrole.

IMPLICAÇÕES CRIACIONISTAS DA TEORIA GERAL DA RELATIVIDADE

As equações das leis do eletromagnetismo permitiram a dedução de características fundamentais do espaço-tempo por Lorentz e Poincaré, as quais foram utilizadas por Einstein na formulação da Relatividade Especial. Uma das consequências da Relatividade Especial é a famosa fórmula E=mc².

Esses estudos desdobraram-se em pesquisas que resultaram na formulação da Relatividade Geral. Einstein utilizou o princípio da ação mínima para deduzir a equação de uma lei que relaciona energia com a curvatura do espaço-tempo. Combinando-se essa equação com as leis da Relatividade Especial aplicadas ponto a ponto no espaço-tempo, obtém-se a Relatividade Geral.

Essa teoria (ou conjunto de leis), por sua vez, possui várias implicações notáveis. Entre elas, podem-se citar buracos negros, “buracos de minhoca” (buracos de verme), ondas gravitacionais, lentes gravitacionais e equações que dizem que o Universo foi criado e vem se expandindo desde então. Este último conjunto de equações é popularmente conhecido como “Teoria do Big Bang”, e é um dos modelos mais mal-entendidos do último século.

O modelo do Big Bang é possivelmente o desdobramento da Relatividade Geral com maiores implicações para o materialismo e para o criacionismo. Até à época da formulação da Relatividade Geral, era comum a crença de que o Universo fosse eterno. A descoberta da Relatividade Geral implica, por meio de constatação, no princípio de que o Universo não pode estar em equilíbrio desde sempre e que tende a se expandir ou se contrair.

Diversos pesquisadores, como o próprio Einstein, Friedmann e outros, trabalharam para encontrar uma solução na qual o Universo fosse estável e eterno. Não foi possível. Einstein chegou a pensar que havia cometido erros de cálculo na dedução da equação da Relatividade Geral. Na verdade, ele havia mesmo omitido um termo que poderia ser importante, mas o acréscimo daquele termo não modificou as consequências da equação quanto à eternidade do Universo. É importante destacar que, quando falamos em Universo nesse contexto, não nos referimos ao material presente no Universo, mas ao tempo e ao espaço em si.

Em 1927, o padre belga Georges Henri Joseph Édouard Lemaître (1894-1966) publicou um trabalho no qual refazia os cálculos com cuidado e incluía também as leis da Termodinâmica. Isso permitiu a formulação de um modelo mais realista com a eliminação de soluções da equação de Einstein que fossem incompatíveis com aquelas leis.

O conjunto de equações resultante mostrava um universo que foi criado em algum momento do passado e expandia-se desde então. Lemaître verificou ainda as consequências mensuráveis daquele sistema de equações, e uma delas é o fenômeno que ocorre ao observarmos grupos de objetos muito distantes no Universo. Quanto maior for a distância desses objetos, maior será o avermelhamento deles. Isso pode ser observado pelas medidas dos comprimentos de onda do espectro de elementos conhecidos presentes na luz vinda de objetos distantes. Lemaître incluiu em seu trabalho essas observações e notou que a curva de avermelhamento observada estava de acordo com a previsão teórica do modelo.

Ainda sobre a lei do avermelhamento, Edwin Powell Hubble (1889-1953) publicou, em 1929, observações que a confirmavam e, por meio desse estudo, o próprio Einstein convenceu-se de que o Universo (espaço-tempo) não é eterno. O modelo de Lemaître continuou a ser visto com grande ceticismo e até desdém por parte de muitos no mundo acadêmico, chegando mesmo a ser chamado de “Big Bang” em um deboche feito por Fred Hoyle (1915-2001). E o modelo ficou conhecido por esse nome até os dias atuais. Com o tempo, porém, mais e mais previsões do modelo foram observadas até o ponto em que praticamente deixou de ser razoável desprezá-lo.

Um fator fundamental, que induz muitos criacionistas a combater o Big Bang, está contido na ideia de que esse modelo nos diz que o Universo tem quase 14 bilhões de anos de idade; no entanto, o modelo do Big Bang não determina essa idade para o Universo e a Bíblia também não fornece uma datação precisa. O que converge para a hipótese de que o  Universo é realmente antigo é o grande número de observações do espaço profundo.

Resumindo, em contraposição aos erros conceituais, resta o fato de que uma lei física importante, correspondente à equação fundamental da Relatividade Geral, implica em um universo criado,[31] o que marca pontos para o criacionismo. Se o desenvolvimento científico tem sido mal-utilizado, em algumas ocasiões, “como um machado nas mãos de um demente”, a premissa de um Criador que ama até o fim conduz aquele que assim desejar para a segurança de Quem conhece o fim desde o começo.

(Flávio Pereira da Silva Filho, pós-graduado em Teologia Bíblica pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp); bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela UFMA-MA e em Teologia pelo Unasp)

Referências:
1. Ver: Bodanis, David. E=Mc²: A Biography of the World's Most Famous Equation. New York: Walker, 2000. p. ix.
2. Ver: Einstein, Albert; Leopold Infeld. The Evolution of Physics: The Growth of Ideas from Early Concepts to Relativity and Quanta. Cambridge: U.P., 1971. p. 3.
3. Einstein, Albert; Leopold Infeld. A Evolução da Fisica. Rio de Janeiro (RJ): Zahar, 1976. p. 14.
4. Idem, pp. 15-17.
5. Ver: Drake, Stillman. Galileo at Work: His Scientific Biography. Chicago: University of Chicago Press, 1982. pp. 126, 127.
6. Ver: Kepler, Johannes; Tycho Brahe. Astronomia Nova Aitiologetos. Heidelberg: G. Voegelinus, 1610.
7. Boulliau, Ismael. Astronomia Philolaica. Parisiis: Piget, 1645. p. 23.
8. Römer, Ole. Vitesse de la Lumière. Disponível em: https://archive.org/details/47Romer. Acesso em 28 de maio de 2019. Ver também: Francis Beaubois, “Rœmer et la vitesse de la lumière”, Bibnum [En ligne], Physique, mis en ligne le 01 juillet 2014. Disponível em: http://journals.openedition.org/bibnum/688. Acesso em 28 de maio de 2019.
9. Ver: Jeans, James. The Growth of Physical Science. Cambridge: University Press, 1947. pp. 184, 185.
10. Ver: Newton, Isaac. De motu corporum in gyrum. The Newton Project. University of Oxford. Disponível em: http://bit.ly/motucorporum. Acesso em: 28 de maio de 2019. Ver também: Newton, Isaac. MS Add.3965. Cambridge University Library. Disponível em: http://bit.ly/motucorporum0. Acesso em 28 de maio de 2019.  
11. Iltis, Carolyn Merchant. The Controversy Over Living Force: Leibniz to D'Alembert. Ph.D. diss., University of Wisconsin, 1967. pp. 1, 4, 69-71.
12. A expressão formal (fórmula) deste princípio permite deduzir leis físicas e tem tido importância estratégica para as pesquisas mais avançadas até os dias atuais. Trata-se de uma contribuição criacionista à pesquisa científica. Ver: P. L. M. Maupertuis. Accord de différentes loix de la nature qui avoient jusqu'ici paru incompatibles. Institut de France, 1748. pp. 417-426.
13. Lagrange, J. L. Mécanique analytique, v. 1 e 2. Paris: Librairie Pour Les Mathématiques, 1811.
14. Du Châtelet, Gabrielle Emilie; Newton, Isaac. Principes mathématiques de la philosophie naturelle, 1. Paris: Desaint & Saillant, 1759. Du Châtelet, Gabrielle Émilie; Newton, Isaac (1642-1727). Principes mathématiques de la philosophie naturelle, 2. Paris: Desaint & Saillant, 1759. Ver também: Du Châtelet, Gabrielle Emilie; Chazal, Gérard. Institutions de physique. Paris, France: Prault, 1740. Du Châtelet, Gabrielle Emilie. Dissertation sur la nature et la propagation du feu. Prault. Paris, France: Prault, 1744. p. 31.
15. Estas pesquisas tornaram-se significativas especialmente em futuros estudos na área da Mecânica Quântica. O seu trabalho em quatérnios, um sistema numérico desenvolvido  por ele, é seminal para os futuros avanços na área da relatividade. Ver: Hamilton, Sir William Rowan. On a general method in dynamics. London: Richard Taylor, 1834. Ver também: Hamilton, William Rowan. Elements of quaternions. London: Longmans, Green & Company, 1866.
16. Lavoisier, Antoine. Traité élémentaire de chimie, v. 1.  París: Chez Cuchet Libraire, 1789. pp. 140, 141.
17. Newton, Isaac et al. The Laws of Gravitation: Memoirs by Newton, Bouguer and Cavendish, Together with Abstracts of Other Important Memoirs. New York: American book Company, 1900. pp. 57-102.
18. Faraday, Michael; Martin, Thomas. Faraday's Diary. London: G. Bell and Sons, 1932. pp. 49-57.
19. Ampère, André Marie. Mémoires sur l'électromagnétisme et l'électrodynamique. Les maitres de la pensée scientifique, v. 9. Paris: Gauthier-Villars, 1921.
20. Maxwell, James Clerk. On Faraday's Lines of Force. Transactions of the Cambridge Philosophical Society, v. 10. Cambridge: University Press, 1856. pp. 155-229.
21. Maxwell formulou a Teoria Eletromagnética, permitindo a descoberta de consequências contraintuitivas das leis do eletromagnetismo, tais como a dilatação do tempo e a contração do espaço, conforme demonstrado por Lorentz. Isso foi o que realmente abriu as portas para a Relatividade Especial.
22. Le Verrier, U. J. Recherches sur l'orbite de Mercure et sur ses perturbations. Détermination de la masse de Vénus et du diamètre du Soleil. Journal de mathématiques pures et appliquées, Paris: Bachelier, 1843. p. 273-359.
23. Riemann, Bernhard.  Ueber die Hypothesen, welche der Geometrie zu Grunde liegen. Disponível em: http://bit.ly/riemann1867. Acesso em 29 de maio de 2019.
24. Lorentz, H. A. The Relative Motion of the Earth and the Aether. Disponível em: http://bit.ly/relativemotion. Acesso em 29 de maio de 2019.  
25. Tullio Levi-Civita. Encyclopædia Britannica. Disponível em: http://bit.ly/tensorcalculus. Acesso em 29 de maio de 2019.  
26. Poincaré, Henri. The principles of mathematical physics. The Monist, v. 15, 1. Boston: Houghton, Mifflin: 1905. pp. 1-24.
27. Einstein, Albert. Zur elektrodynamik bewegter körper. Annalen der physik, v. 322, 10. Leipzig: 1905. pp. 891-921.
28. Einstein, Albert. Die Grundlage der allgemeinen Relativitätstheorie. Annalen Der Physik, v. 49, 7. 1916. pp. 769-822.
29. Lights All Askew in the Heavens. Men of Science More or Less Agog Over Results of Eclipse Observations. Einstein Theory Triumphs. New York Times, May 29, 1919.
30. Meitner, Lise; Frisch, Otto Robert. Disintegration of uranium by neutrons: a new type of nuclear reaction. A Century of Nature: Twenty-One Discoveries that Changed Science and the World, p. 70-72, 1939.
31. Einstein, Albert. Albert Einstein, the human side: New glimpses from his archives. Princeton University Press, 1981. p. 88.
32. Nesse sentido a fundamentação grega da expressão “κατηρτίσθαι τοὺς αἰῶνας ῥήματι θεοῦ”, de Hebreus 11:3, converge para o conceito de criação do tempo.