As plantas são organismos eucarióticos (cujo
núcleo das células é envolvido por uma membrana, o nucléolo), multicelulares e
fotossintetizantes. Os vegetais são
encontrados em quase todos os biomas da Terra, adaptando-se aos extremos
climáticos como no Ártico e no Deserto.[3] E se, além de utilizarem dióxido de carbono e água
para obter glicose através da energia solar, esses organismos
clorofilados pudessem ouvir? O conceito de
comunicação floral tem sido controverso, especialmente depois de décadas
de afirmações pseudocientíficas sobre plantas crescendo bem para a
música clássica ou sintonizadas com
emoções humanas. Essas alegações falsas “nunca foram substanciadas por experimentos rigorosos”,
diz especialista em
interações entre plantas e pragas da Universidade da Califórnia em Davis. Contudo, uma nova pesquisa sugere que algumas flores são
capazes de detectar o zumbido de insetos e, consequentemente, aprimoram seu
néctar.[3]
Para
espanto de muitos, esse foi o tema de uma pesquisa publicada pela National Geografic em 22 de janeiro
deste ano. Os cientistas dos departamentos
de Zoologia e Ciências de Plantas da Universidade de Tel Aviv, em Israel,
descobriram como as plantas respondem ao zumbido das abelhas: elas ouvem as
abelhas se aproximando e tentam atraí-las com um néctar mais doce. “É preciso
entender que a audição não é exclusividade dos ouvidos”, diz a pesquisadora Lilach Hadany.[1]
A “audição” das plantas é de fato
uma grande surpresa para a maioria dos pesquisadores, tendo em vista que os
vegetais não têm ouvidos. O ceticismo perdurou por muito tempo em virtude de os
cientistas não acreditarem na possibilidade de esses seres vivos possuírem
órgãos estruturais que lhes permitissem detectar e processar as ondas
sonoras.[3] (Lembrando que o som é uma
série de vibrações criadas por ondas mecânicas de pressão e transmitidas
através de um meio, como ar ou água.)
Mas se as plantas podem ouvir,
então, quais são as “orelhas” delas? A resposta da equipe é surpreendente:
são as próprias flores. Eles
usaram lasers para mostrar que as pétalas da prímula vibram quando atingidas
pelos sons das batidas das asas de uma abelha. Se eles cobriam as flores
com potes de vidro, essas vibrações não ocorriam e o néctar não adoçava. A
flor, então, poderia agir como as dobras carnudas dos nossos ouvidos externos,
canalizando o som para dentro da planta. (Onde? Ninguém sabe ainda!) Nos vários
experimentos realizados, descobriram que tocar gravações de áudio de abelhas
zumbindo em torno de determinadas flores faz com que a concentração de açúcar
no néctar suba em cerca de 20% em torno de três minutos. Anteriormente, nunca
havia sido relatada uma reação tão rápida das plantas ao som.[1]
As flores vibram em resposta ao som
e aumentam a concentração de açúcar no néctar (direita). Flores cobertas com
vidro não respondem (no meio). (Imagem: Universidade de Tel Aviv)
Captando o som
Quando a equipe refletiu sobre a
fisiologia do som, por meio da transmissão e interpretação de vibrações, o
papel das flores se tornou cada vez mais intrigante. Embora as flores tenham
grande variação de formato e tamanho, boa parte delas é côncava e em forma de
tigela, o que as torna perfeitas para receber e amplificar ondas sonoras de
maneira bem semelhante a uma antena parabólica.[1]
Os autores apontam que o comportamento está realmente
alinhado com a ordem natural das coisas, considerando que a capacidade de uma
planta de sentir seu ambiente e responder a ele é crítica para sua
sobrevivência. “É
preciso considerar que as flores evoluíram junto com os polinizadores por um
bom tempo”, afirma Hadany. Entretanto, Karban tem suas dúvidas, especificamente
sobre as vantagens evolucionárias que as respostas sonoras oferecem às plantas.
Estudos anteriores
Bem, essa não é a primeira vez que
elas reagem ao que estão ouvindo ao redor. Em um estudo de 2009, a Royal
Horticultural Society da Grã-Bretanha descobriu que a voz das mulheres ajuda a
fazer as plantas crescer mais rapidamente. Nesse experimento, descobriu-se
que as plantas de tomate crescem até cinco centímetros mais altas quando são
cuidadas por um jardineiro feminino. “Os resultados confirmam os
comentários feitos pelo príncipe Charles de que ele fala com suas plantas,
embora eles sugiram que, para resultados máximos, seria melhor recrutar a
duquesa da Cornualha”, escreveu o The
Telegraph na época.
Um estudo australiano de 2017
descobriu que algumas flores eram capazes de sentir ruídos, como o fluxo de
água através de um tubo. “As vibrações sonoras podem desencadear uma
resposta da planta via mecanorreceptores – podem ser estruturas muito finas e
peludas, qualquer coisa que funcione como uma membrana”, disse o biólogo
Michael Schöner à revista Scientific
American.[2]
Considerações finais do estudo
Para convencer
os críticos, Hadany e sua equipe claramente precisam fazer mais
experimentos. Eles pretendem repetir o estudo em um ambiente mais natural,
ao ar livre, para avaliar se esses sons são transmitidos em meio a ruídos
ambientais. “Também precisamos testar organismos relevantes específicos
para ver se eles respondem”, diz Hadany. “E, claro, a perspectiva mais
interessante para nós é: plantas capazes de ouvir os sons das plantas?”[2]
Nota: Como é difícil estudar os mundos sensoriais de organismos
tão diferentes de nós.
Como bióloga, estudei as estruturas anatômicas e morfofisiológicas dos animais
e vegetais. Tendo em vista os registros fósseis de plantas ancestrais,
percebe-se que mesmo os tipos mais básicos desses seres clorofilados possuem
notória complexidade. A evolução gradual não explica, por meio de suas etapas
consecutivas, o desenvolvimento de “habilidades” ou “adaptações” que não fossem
funcionais. Nesse sentido, a “comunicação floral” não pode ser consequência de
processos evolutivos.
É preciso muita energia para tornar o
néctar mais doce, e ainda esse produto resultante pode ser degradado por
micróbios ou “roubado” por outros indivíduos não polinizadores. Nesse
sentido, existe um momento certo para adoçar esse fluído e o estímulo que
indica a hora perfeita para isso é o zumbido de uma abelha. Como explicar a
“evolução” individual e independente desses dois indivíduos, para que
atingissem, ao acaso, essa perfeita interação? Não vejo resposta evolutiva à
luz das evidências da ciência!
É mais coerente perceber que um Designer
inteligente arquitetou a natureza, inclusive a forma côncava das flores,
propositalmente, para que fossem capazes de perceber a vibração de seus
polinizadores e, com isso, serem capazes de aprimorar a qualidade de seu néctar,
no momento exato!
Concluo com o seguinte pensamento: “Os sons da natureza são
encantadores, há música na criação de Deus, a mais bela de que poderíamos
desfrutar. Simplesmente aquiete-se e ouça” (Matth Seraph).
(Liziane Nunes Conrad Costa é formada
em Ciências Biológicas
com ênfase em Biotecnologia [UNIPAR], especialista em Morfofisiologia Animal
[UFLA] e mestranda em Biociências e Saúde [UNIOESTE]. É diretora-presidente do
Núcleo cascavelense da SCB [Nuvel-SCB])
Referências:
[1] National Geographic: https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2019/01/flores-podem-ouvir-o-zumbido-de-abelhas-e-deixar-seu-nectar-mais-doce
[2] Scientific American: https://www.scientificamerican.com/article/can-plants-hear/
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