[Meus comentários seguem entre colchetes. – MB] Cadê seu Deus
agora? Em lugar nenhum – a trabalheira é convencer os 98% da população que
dizem acreditar na ideia do Criador, segundo pesquisa Datafolha de setembro, e assegurar “a
verdadeira laicidade do Estado”. Eis as bandeiras da Atea (Associação
Brasileira de Ateus e Agnósticos), que representa um de cada dez brasileiros,
somando ateus (1%) e quem se declara sem religião ou agnóstico (8%). [Conheço
agnósticos e até ateus que têm vergonha da Atea e não se sentem minimamente
representados pela entidade, mas a Folha
não quis tocar nesse assunto.] Em nome dessas causas, o grupo ajuizou dezenas
de ações civis públicas contra o que considera serem atentados ao princípio de
um Estado imune à interferência religiosa. A maioria desses processos questiona
iniciativas evangélicas respaldadas pelo poder público. Caso, por exemplo, de
uma ação contra o prefeito Marcelo Crivella e a cidade que gere, o Rio, “pela
realização de eventos religiosos nas escolas da rede municipal”. Há outra
contrária à instalação de um templo evangélico na sede do Bope, tropa de
elite da PM-RJ. [Quando não se pode vencer no argumento, o jeito é partir para
a truculência, para o sensacionalismo que garante espaço na mídia, para o
deboche e o escárnio e para os processos judiciais.]
A investida judicial se estende a outros credos, como o católico
(“doação de um terreno para imagens em Aparecida, SP”) e a umbanda (“construção
de monumento à Iemanjá em Cidreira, RS”).
Mas a Atea também está na outra ponta da espada – como alvo do
Ministério Público paulista, que já pediu a instauração de inquérito policial
por postagens no Facebook da associação consideradas ofensivas e que poderiam
incorrer na “prática de crime de ultraje a culto”. [Sim, eles são especialistas
em atacar a fé dos cristãos e dos seguidores de religiões de matriz africana,
mas nunca os vi apontando as armas para Maomé, por exemplo...] Em outras
palavras: intolerância religiosa. É isso mesmo, admite o presidente da Atea, o
engenheiro Daniel Sottomaior, 46 [foto acima]. “A gente quer odiar a religião, ela merece.
Querem nos culpar por memes religiosos? Pois nos declaramos culpados desde já.”
[O ódio nunca faz bem a ninguém, religiosos ou ateus. Pregar o ódio em uma
sociedade já tão machucada por ele é um verdadeiro desserviço. Infelizmente,
Sottomaior é um instigador de guerras e não promotor de diálogo. E como a
imprensa precisa de “sangue” para vender jornais, concede-lhe espaço. A revista
Veja também já fez o mesmo. Confira.]
Publicação recente traz a reportagem de um museu em Amsterdã com “a
maior coleção de deformidades humanas” (fetos com deficiências guardados em
jarros). A legenda: “Obrigado, Senhor!!!” [A velha tática satânica de culpar
Deus pelo que Ele não causou: o pecado. Se uma mulher grávida, usando seu
livre-arbítrio, consome drogas pesadas e o filho nasce com deformidades, de
quem é a culpa? Obviamente que o exemplo é extremo e meramente ilustrativo,
pois ocorrem problemas também com pessoas que não consomem substâncias perigosas.
Ocorre que este mundo não é o ideal e justamente por isso Jesus prometeu voltar
para nos devolver à condição de perfeição edênica. Mas se Deus não existe e o
pecado é uma ilusão, por que os ateus da Atea vivem atribuindo a Ele o mal que
há no mundo? É tipo assim: Deus não existe, mas eu O odeio! Os ateus não podem
sequer ficar indignados com as mazelas do mundo e com o sofrimento das pessoas,
afinal, são consequências naturais da evolução humana e da sociedade.]
Dois posts em particular
provocaram ira ao pegar carona em momentos de comoção global para questionar a
fé de bilhões. Ante a foto de um menino sírio de três anos de rosto enterrado
na areia, após se afogar tentando chegar à Grécia, a Atea fustigou: “Se Deus
existisse, seria um canalha.” Dois dias após a tragédia aérea com a
Chapecoense, nova provocação: uma foto do time rezando em campo e outra do avião
destroçado, mais a legenda “pode confiar, amiguinho, Deus é fiel”. [Puro
oportunismo insensível. Curiosamente, são as pessoas que mais sofrem as que
mais manifestam fé e solidariedade. É muito fácil para o engenheiro Sottomaior,
em sua sala refrigerada, ficar discorrendo nas redes sociais sobre Deus, a dor
e o sofrimento humanos. Pergunte-se a um refugiado cristão que foge de
terroristas islâmicos, ou a um africano que luta entre a vida e a morte por
falta de alimento. Estes, sim, poderão lhe falar sobre a fé e o sofrimento.]
A Atea se desculpou depois “por não ter mostrado mais claramente
como a religião se aproveita de momentos de dor como este para impedir o
pensamento racional”. [Em outra evidência de total insensibilidade.]
À Folha Sottomaior lança uma
metáfora para explicar sua birra com a “ficção divina”. “Digamos que um belo
dia alguém evoque o Supremo Enxugador de Gelo, um ser incorpóreo. O movimento
dá crias, começam as desavenças entre os grupos, o enriquecimento com
enxugamento de gelo alheio, a ideia de que quem não enxugar gelo é mau. E, no
fim, enxugar gelo não vai ajudar ninguém.” [Comparação descabida que ignora as
muitas evidências da existência de Deus e de que a Bíblia é a revelação dEle.
Danem-se a arqueologia, as profecias cumpridas, a história, a física, a
biologia, as provas de que a religião faz bem à saúde, de que fomos criados
para crer e de que os religiosos operam obras assistenciais em todo o mundo.
Enxugar gelo é brigar com um Deus em quem não se crê e jogar para baixo do
tapete os méritos da boa religião.] [...]
Sottomaior prega o ódio contra religiões e acha que isso não é
sinônimo de intolerância contra seus adeptos (“ideias não têm direito, pessoas
sim”). Ao mesmo tempo, critica o que julga ser preconceito contra os
descrentes. [É preciso admitir que esse preconceito existe, mas não é
promovendo um preconceito que se combate outro.]
Exemplos não faltam. O estudante paraense Jhonatas, 18, prefere
omitir o sobrenome para não se indispor ainda mais com a família – que por
pouco não o expulsou de casa por ser ateu. “Assistimos a uma reportagem sobre o
terror do Estado Islâmico. Disse: ‘Fazem isso em nome de um deus que nem existe.’
Para eles era fase, eu tomaria jeito. Mas perceberam que eu não ia mudar e
começaram a falar que quem não tem Deus no coração não ama ninguém.” [...]
[Outro mal exemplo de tomar o todo pela parte. Quem disse que os membros do
Estado Islâmico representam a totalidade dos religiosos? Muito pelo contrário:
esse tipo de radical é a minoria. E se eu usar o mesmo argumento para dizer que
o ditador da Coreia do Norte – ou outro doido comunista – representa os ateus
de todo o mundo?]
“É preciso ter presente que o Estado é laico, mas a cultura
brasileira é marcada pela religiosidade. O próprio Estado deve garantir a
liberdade de expressão religiosa, não somente privada, mas também pública”, diz
dom Sergio da Rocha, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil). “Quem combate as manifestações religiosas não contribui para a construção
de uma democracia madura.”
Para Sottomaior, haverá sempre uma boia de salvação na América
Latina: o Uruguai, onde 4 a cada 10 habitantes dizem não ter religião e os
prédios públicos não exibem imagens religiosas. Definitivamente não graças a
Deus. [Sottomaior devia falar também dos inúmeros prêmio Nobel judeus, da pujança
científica e tecnológica de um dos maiores países cristãos do mundo (EUA) e por
aí vai. A culpa de o Brasil ser o que é não é da religião cristã, mas isso todo
mundo deveria saber.]
Nota: Causa-me revolta ver a Folha de S. Paulo concedendo tanto
espaço para ateus militantes irados e até blasfemadores (confira aqui). A atitude de certos setores da mídia é a de dar um megafone às minorias e ignorar
a voz da maioria. [MB]
Clique aqui e leia mais sobre as ideias e ações de Sottomaior.
Leia também a crítica de um ateu ex-membro da Atea e sobre a tremenda insensibilidade da Atea quando do acidente envolvendo a equipe da Chapecoense.