No dia 28 de março, o blog
Desafiando a Nomenklatura Científica destacou o artigo “Processes and
patterns of interaction as units of selection: An introduction to ITSNTS
thinking”, de W. Ford Doolittle e S. Andrew Inkpen, publicado no PNAS. Após leitura atenta do artigo de Doolittle e Inkpen, depreende-se que os
cientistas evolucionistas não sabem o que faz a seleção natural como mecanismo
evolucionário, e os autores deixaram isso bem claro no artigo. Consideremos
seus questionamentos. “O pensamento ITSNTS” questiona a teoria evolutiva padrão
ESN (evolução por seleção natural):
1. A seleção natural não tem uma
teoria de como ela age nas comunidades.
2. Os pontos de vista padrões da
seleção natural não abordam a adaptação e a função de “multiespécies.”
3. A seleção natural não pode
explicar as comunidades estáveis ou comunidades bacterianas redundantes.
4. A seleção natural não pode explicar
os processos que beneficiam as comunidades de reprodutores dissimilares.
5. A seleção natural não pode
explicar como os processos que beneficiam as múltiplas comunidades
reestabelecerem a si mesmos.
6. Dupre argumenta que “muito da
biologia contemporânea defende uma ontologia geralmente mecanicista e
reducionista de ‘coisa’ (ou ‘substância’)”.
7. O lugar-comum do livro-texto
focaliza no sucesso reprodutivo dos indivíduos, um hábito de pensamento que
ignora a história contingente da síntese moderna e da genética de população.
8. Algumas formulações de seleção
natural são vagas porque as unidades de seleção propostas têm “demais
progenitores” (a reclamação de Godfrey-Smith). Isso desnorteia os conceitos de
herança.
9. A seleção natural é ambígua
sobre o que significa “benéfico”. “Não é claro que qualquer propriedade pode
ser considerada ‘benéfica’ a comunidades não permanentes e não reprodutoras.”
10. Algumas formulações de seleção
natural violam o Princípio de William que afirma que “a adaptação em um nível
requer que tenha havido seleção naquele nível”.
11. Algumas funções “são mais
estáveis ou ecologicamente resilientes do que são as composições taxonômicas
das montagens executando-as”. Isso demanda uma explicação evolucionária.
12. A ESN não explica facilmente a
redundância.
13. A ESN é vaga na questão do que
é mais relevante para a evolução: a frequência de alelos na população ou o
indivíduo portando-os?
14. Os biólogos estão indecisos
sobre se os memes sofrem seleção natural. Sperber é um desses “céticos de memes”
que Doolittle menciona.
15. Os biólogos também debatem se a
linguagem ou a cultura são submetidas pela seleção natural.
16. É difícil determinar se a
seleção natural se constitui em um mecanismo ou uma necessidade lógica (uma
premissa aceita a priori).
17. Sober argumenta que a ENS é
“uma verdade a priori no sentido de
que nenhum experimento poderia refutá-la”.
18. A teoria da construção de
nichos é outro “mecanismo” da ENS que está sendo questionado entre os
evolucionistas.
19. Os evolucionistas enfrentam as
“transições embaraçosas em recontar a história da vida”, tal como a etapa da
unicelularidade para a multicelularidade.
20. O que é mais importante: o
diferencial de reprodução ou o diferencial de persistência? O que faz mais
sentido e é mais “satisfatório”?
21. A dificuldade de se estabelecer
linhagens relevantes para a ESN pode ser assim ilustrada: “Eu sou o filho de
meu pai, mas o meu coração não é a descendência do coração de meu pai.”
22. Em quais variedades pode a ESN
ser comparada? A evolução das funções da comunidade microbiana através dos
intestinos análoga à evolução dos lagartos pelas ilhas?
23. Antes da proposta de Doolittle,
estava faltando “um jeito sensível de se discutirem as adaptações e funções
relevantes às comunidades e ecossistemas em geral”.
24. Alguns evolucionistas têm dito
que há uma “urgente necessidade de uma estrutura [teórica] geral” para decidir
o que constitui a “saúde” de um sistema.
25. Um problema importante na
teoria evolucionária é o papel dos componentes abióticos em ecossistemas. Eles
podem desempenhar papéis importantes, mas não são reproduzidos biologicamente.
Bouchard destacou que “a evolução como mudança em frequências alélicas parece
não se aplicar aos sistemas que têm um grupo heterogêneo de alelos e material
abiótico interagindo de modo sistemático”.
26. Há um século os biólogos têm
debatido em quais níveis o “princípio tipo lei” da seleção natural de Darwin
opera. Ela opera em processos bem como em coisas?
Nota: “Charbel Niño El-Hani, lembra de uma conversa que tivemos
após minha palestra sobre a Teoria do Design
Inteligente numa sessão da ABFHiB,
na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, em 2007 (se não me falha
a memória), na qual você me disse que eu tinha embarcado numa canoa furada?
Lembra da minha resposta? Eu disse que apostava todas as minhas fichas no
cavalo da TDI contra o pangaré da seleção natural de Darwin. Charbel, meu amigo,
Doolittle e Inkpen estão me vindicando, e até aqui eu estou ganhando o derby.”