sexta-feira, maio 09, 2008

"Criacionismo, não", diz a Folha

O editorial da Folha de S. Paulo de hoje: "Graves e complexos problemas não faltam à ministra Marina Silva, em suas atividades na pasta do Meio Ambiente. Como se estes não bastassem, sua participação no 3º Simpósio sobre Criacionismo e Mídia, promovido pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, veio a colocá-la em dificuldades de outro tipo, diante das quais o cargo que ocupa no Estado brasileiro recomenda cautela que não soube observar.

"Em palestra intitulada 'Meio Ambiente e Cristianismo', Marina Silva valeu-se de sua formação evangélica para transpor em chave religiosa o tema da preservação dos recursos do planeta.

"Nada que inspirasse maiores reparos, portanto - assim como não se discute o direito de um ministro professar, pessoalmente, qualquer tipo de crença ou descrença religiosa.

"Os adeptos do criacionismo, entretanto, não se contentam com pouco - e depois da conferência a ministra foi instada, em entrevista, a dar sua opinião sobre o ensino das teorias antidarwinistas. Num estilo próximo ao dos neoconservadores americanos, considerou que 'as duas visões' devem ser oferecidas aos alunos, para que 'decidam' por si mesmos.

"Sob uma aparência de equanimidade, a tese faz parte de uma investida anticientífica que, com firmeza, cumpre repudiar. Pode-se, é claro, sustentar que a fé pessoal é compatível com o espírito científico; que religião e ciência não se opõem.

"Talvez não se oponham, mas certamente não se misturam. E é isto o que o criacionismo tenta fazer, sem base comprovada, e com um aparato de falácias que um estudante médio, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, não tem condições de identificar. Que a religião fique onde está, e não se faça de ciência: eis uma exigência, afinal modesta, mas inegociável, da modernidade."

Nota: E as insuficiências epistêmicas do darwinismo, os estudantes - não só do ensino médio, mas também os das universidades - sabem identificar? E a "contaminação" do ensino científico pelo naturalismo filosófico, alguém chama atenção para isso? Seria bom realmente que convições políticas, filosóficas e religiosas (ou a falta delas) não se misturassem à prática científica, mas não é isso o que se percebe. O que tenho notado é um forte anti-cracionismo se desenvolvendo em nosso país, graças a textos como esse do editorial da Folha. Nem o Design Inteligente, para quem não importa necessariamente a identidade do Designer, é permitido nas escolas, sendo taxado de criacionismo travestido, o que não é correto. Parece estar se desenvolvendo por aqui uma espécie de ditadura evolucionista. Por que uma pessoa importante ou um cientista só é respeitado se advoga o darwinismo? Se se atreve a criticar a teoria dominante ou se consegue detectar as digitais de um Designer na natureza é visto como retrógrado. Se o evolucionismo é assim tão coerente, um edifício teórico tão bem construído, por que querem proibir os estudantes de ter contato com as debilidades da teoria? Quando foi indicada para o cargo de ministra, Marina Silva já era uma pessoa religiosa, fato que não deslustrou nem deslustra seu trabalho mundialmente reconhecido. Por que agora deveria esconder suas convicções quando lhe perguntam a respeito delas? É uma nova Inquisição surgindo?