domingo, maio 04, 2008

Nos passos de Michelson

Meu nome foi escolhido quando minha mãe folheava uma enciclopédia científica, há 35 anos. Albert Abraham Michelson, além de cientista, cultivava também o gosto pela pintura, quando lhe sobrava tempo de seus complicados cálculos e experiências. E colocava na arte o mesmo entusiasmo que punha em seus trabalhos de pesquisa. Afirmou certa vez que "somente na ciência a arte pôde encontrar sua expressão máxima".

Em toda a sua obra de cientista transparece a persistente busca de uma exatidão sempre maior; não é por simples coincidência que seu último livro versa ainda sobre o mesmo assunto de sua primeira publicação: a medida da velocidade da luz. O aparelho que construiu para medi-la passou também por sucessivos aperfeiçoamentos.

Quando, algumas semanas antes de sua morte, Einstein lhe perguntou por que consagrara tanto tempo aperfeiçoando suas medições da velocidade da luz, ele respondeu: "Porque isso me diverte." Confirmava, nessa frase, que fizera da ciência uma arte.

Albert Michelson nasceu a 19 de dezembro de 1852, em Strelno, na Polônia. Quando contava dois anos de idade, seus pais, Samuel e Rosalie, emigraram para os Estados Unidos e se estabeleceram em São Francisco, na Califórnia.

Michelson, após completar a escola secundária, entrou para a Escola Naval, por nomeação especial do Presidente Grant, que criou para ele uma vaga extra. Aí foi instrutor de física e química de 1875 a 1879.

Nessa época revelou grande interesse pelo estudo da luz e, aproveitando-se dos laboratórios à sua disposição, tentou a montagem de diversos aparelhos para medir a velocidade da luz e estudar fenômenos de interferência óptica. Acreditava-se, até a segunda metade do século 17, que a velocidade da luz fosse infinita e que ela se propagasse num fluido hipotético chamado "éter".

Depois de calcular a velocidade da luz com tremenda precisão, Michelson teve a idéia de construir um aparelho - o interferômetro -, com o qual tentaria estabelecer a influência do movimento da Terra, com relação ao "éter", sobre a velocidade da luz.

O princípio de funcionamento do interferômetro era o de fazer com que dois feixes de luz percorressem dois caminhos ópticos de mesmo comprimento, um paralelo e outro perpendicular ao movimento da Terra em órbita. Se a velocidade da luz se somasse à da Terra, o tempo de percurso nos dois caminhos seria diferente; isto comprovaria a existência do "éter".

Depois de anos de pesquisa e experiências, Michelson não conseguiu observar qualquer influência do movimento da Terra na velocidade da luz. Isso o levou a concluir que a velocidade da luz é constante e que o "éter" não existe. Mais um "mito" científico chegava ao fim.

Pela precisão de seu trabalho e pelas conclusões a que chegou, Michelson foi o primeiro cientista norte-americano a receber o prêmio Nobel de física, em 1907. Suas descobertas causaram grande agitação nos meios científicos da época. Novas teorias começaram a ser desenvolvidas para explicar os fenômenos ópticos - agora, porém, abandonando o "éter"; terminaria pela formulação da teoria relativística (Albert Einstein), iniciando uma nova era para a física.

(Clique aqui para ver um gráfico animado do experimento de Michelson)

Por que resolvi falar de Albert Michelson aqui? Existe um texto bíblico que diz que João Batista veio na "virtude e no poder" do profeta Elias, significando que ambos tinham missão semelhante: preparar o povo para ouvir verdades que iriam ter grande impacto sobre eles.

Albert Michelson ajudou a derrubar um mito científico persistente – o éter luminífero. Longe de mim querer me comparar ao grande físico. Mas, sem querer, minha mãe, ao escolher meu nome, acabou me colocando sob a influência do cientista. Desde criança tenho lido sobre a obra dele e sempre achei que a ciência experimental está aí para nos ajudar a conhecer a realidade objetiva e derrubar mitos que nada têm que ver com essa realidade. E essa busca pela verdade dos fatos deve ser feita com mente aberta e nos ajudar a ter a disposição de ir aonde os fatos nos levem, desejosos de estar do lado da verdade e não simplesmente de ter a verdade do nosso lado.

Essa é a postura deste blog que, embora não seja exata e puramente científico, procura seguir os passos de Michelson.