sexta-feira, maio 02, 2008

O verdadeiro Senhor do Universo

Quando recebi de presente dos meus ex-alunos do Colégio Adventista de Florianópolis e li A Dança do Universo, quase uma década atrás, passei a considerar o físico Marcelo Gleiser um cientista de mente aberta, especialmente por estes tipos de declaração:

“...Existem limites tanto para a ciência como para a religião. Cientistas não devem abusar da ciência, aplicando-a a situações claramente especulativas, e, apesar disso, sentirem-se justificados em declarar que resolveram ou que podem resolver questões de natureza teológica [aqui, para mim, é inevitável pensar na questão da origem da vida]. Teólogos não devem tentar interpretar textos sagrados cientificamente, porque estes não foram escritos com esse objetivo. Para mim, o que é realmente fascinante é que tanto a ciência como a religião expressam nossa reverência e fascínio pela natureza. Sua complementaridade se manifesta na motivação essencialmente religiosa dos maiores cientistas de todos os tempos” (pág. 40).

“O fato de a ciência ser racional não a distancia necessariamente do divino. Essa separação depende de maneira crucial da interpretação subjetiva do que cada cientista entende por ‘divino’. [...] Para [Isaac] Newton, a natureza era uma manifestação da inteligência infinita de Deus. A racionalidade de sua ciência era carregada de espiritualidade” (pág. 169).

“A ciência é muito mais do que apreciação e a aplicação de sua linguagem técnica à explicação dos fenômenos atuais. A beleza da ciência está em seu poder de nos aproximar da natureza” (pág. 189).

“...É talvez surpreendente que quando ensinamos ciência hoje em dia não se faça nenhuma menção à religião, a menos que seja para enfatizar que as duas não devem ser confundidas” (pág. 192).

“Você deve duvidar seriamente de qualquer cientista que tente convencê-lo, baseado em argumentos científicos, da futilidade de sua crença religiosa. Em contrapartida, você também deve duvidar de qualquer sacerdote que tente convencê-lo, baseado em argumentos religiosos, da futilidade da ciência moderna. O importante aqui é evitar uma competição entre ciência e religião” (pág. 348).

Desde a publicação de A Dança do Universo, em 1997, a popularidade de Gleiser só fez crescer. Ele escreveu outros livros, assina uma coluna de sucesso na Folha de S. Paulo e agora é a revista Época (7/08/06) que, mais uma vez, incensa o professor brasileiro que leciona nos Estados Unidos. Na reportagem “O senhor do Universo”, a jornalista Eliane Brum (figura conhecida dos criacionistas brasileiros – confira aqui [quando entrar na página, desça até o texto “Preconceito da Época”]) informa que “a partir do domingo 20, o cientista de 47 anos, olhos azuis e sorriso enigmático vai participar do jantar de domingo de 40 milhões de brasileiros. Essa é a audiência média do Fantástico, onde Gleiser vai apresentar uma série de 12 episódios, cada um deles com 10 minutos, batizada Poeira das Estrelas. Nela, vão responder às grandes questões que nos assaltam desde que descemos das árvores [sic].”

Curiosamente, Elaine fez algumas perguntas ao cientista, cujas respostas foram publicadas ao longo da matéria. Note algumas delas:

“Como tudo começou?”

Ainda não sabemos. Mas estamos cada vez mais próximos de uma resposta, ao menos no que tange à ciência.”

“Qual é a origem da vida?”

“Essa é outra pergunta a que ainda não podemos responder. Não sabemos como átomos inanimados organizam-se de tal forma que, após atingir certo nível de complexidade, passam a ser ‘vivos’. Essa passagem do inanimado ao animado é uma das questões mais fascinantes da ciência moderna.”

“Existe vida extraterrestre?”

Não sabemos. Mas tudo indica que a vida não deve ser apenas algo que ocorre na Terra.” [Itálicos acrescentados.]

A sinceridade do físico é elogiável, mas fiquei na dúvida sobre as “grandes questões” que serão, afinal, respondidas...

Admiro cientistas que têm o talento de popularizar a ciência e gostaria de poder torcer por esse novo quadro do Fantástico, na esperança de que ele eleve o nível da programação televisiva dos domingos à noite e faça as pessoas pensar acima das banalidades da vida (isso sem contar um certo orgulho que sinto pelo sucesso de um cientista brasileiro). Mas fico com um pé atrás ao recordar que o mesmo Gleiser que parece defender a tolerância religiosa sustentou posição tremendamente intolerante em relação aos criacionistas, ao chamá-los de “criminosos”. Na ocasião, minha admiração por ele foi seriamente arranhada. No texto publicado pela Folha de S. Paulo, o físico diz que "tentar entender [a criação da vida] invocando uma entidade sobrenatural é deter o conhecimento, e incluir isso no currículo escolar é um crime". E diz também que "à medida que você considera um criacionista um cientista, está dando uma credibilidade que ele não merece".

Declarações realmente lamentáveis. Mas prefiro ficar com algo que ele escreveu antes: “Você deve duvidar seriamente de qualquer cientista que tente convencê-lo, baseado em argumentos científicos, da futilidade de sua crença religiosa."

Bem, seres humanos, cientistas ou não, são assim mesmo – preconceituosos e parciais. Talvez Gleiser precise reler o que escreveu à página 187 de seu primeiro livro: “Ciência só faz sentido se baseada numa rígida metodologia, construída a partir da interação entre experimentação e dedução. Uma hipótese que não pode ser testada quantitativamente por meio de experimentos permanecerá uma hipótese. Como tal, ela não pertence à ciência, pelo menos segundo a definição de Newton e seus seguidores.”

As pressuposições básicas do criacionismo talvez não possam ser demonstradas empiricamente. Mas o mesmo se dá com o evolucionismo. Assim, as perguntas básicas para as "grandes questões que nos assaltam" (De onde viemos? Para onde vamos? Etc.), do ponto de vista da ciência, permanecem sem resposta. Mas para o verdadeiro Senhor do Universo, elas existem e podem ser descobertas na linguagem simples e direta das Escrituras Sagradas: "No princípio, criou Deus" (Gênesis 1:1).

Michelson Borges