
Em retrospecto, a missão de Collins, pesquisador da Universidade de Cardiff (País de Gales, Reino Unido), não parece tão impossível assim. Afinal, ele é sociólogo da ciência e há 30 anos estuda a comunidade de físicos de ondas gravitacionais. Mas, com sua divertida impostura, Collins considera ter demonstrado que não é preciso saber matemática avançada ou ter prática de laboratório para entender a fundo os conceitos de um ramo da ciência – coisa que muitos cientistas de verdade ainda negam. (...)
A tese de Collins era simples: um estranho no ninho da física de ondas gravitacionais, mesmo que não soubesse fazer as contas complicadas que a disciplina exige, seria capaz de adquirir a chamada “especialização interativa”, ou seja, o domínio dos conceitos por trás daquele ramo de pesquisa e a capacidade de interagir com pesquisadores e até dar sugestões ou fazer comentários. (...)
O trabalho pode ter implicações, por exemplo, para a avaliação de artigos científicos para publicação (a chamada revisão por pares), ou mesmo para a alocação de verbas. Afinal, pesquisadores de áreas diferentes podem ser tão competentes para julgar o mérito de um estudo ou projeto quanto especialistas no ramo. (...)
(Reinaldo José Lopes, da Folha de S. Paulo)

No prefácio, os autores advertem que “esta obra trata da mistificação da linguagem deliberadamente obscura, dos pensamentos confusos e do emprego incorreto dos conceitos científicos”. E na página 15, afirmam que “vastos setores das ciências sociais e das humanidades parecem ter adotado uma filosofia que chamaremos, à falta de melhor termo, de ‘pós-modernismo’: uma corrente intelectual caracterizada pela rejeição mais ou menos explícita da tradição racionalista do Iluminismo, por discursos teóricos desconectados de qualquer teste empírico, e por um relativismo cognitivo e cultural que encara a ciência como nada mais que uma ‘narração’, um ‘mito’ ou uma construção social entre muitas outras”.
A constatação de Sokal me chama a atenção pelo fato de que são os cientistas (a maioria, me parece) que acusam os religiosos de não-racionalistas. No entanto, essa “contaminação” da ciência pelo pensamento pós-moderno mostra, uma vez mais, que não importa de que lado esteja e que idéias ou métodos adote, o ser humano é um ser emocional, nem sempre lógico e muitas vezes preconceituoso – seja cientista ou não, religioso ou não.