sexta-feira, maio 02, 2008

Um mundo que agoniza

A matéria de capa da última edição de 2006 da revista Veja traz, mais uma vez, o alerta: "Nada fará reverter a marcha rumo ao aquecimento catastrófico [da Terra]." Depois de apresentar, ainda, a crua realidade dos atentados terroristas, da instabilidade política do Oriente Médio e das guerras (muitas das quais alimentadas por motivações religiosas), a edição especial de fim de ano da maior publicação jornalística do Brasil traz algumas "soluções" mirabolantes para o que chama de "megaproblema": 1. Trocar o carvão pelo átomo; 2. Enterrar os gases tóxicos; 3. Colocar refletores de calor em órbita; 4. Pôr um guarda-sol no espaço; 5. Espalhar enxofre na atmosfera; 6. Multiplicar o fitoplâncton; 7. Colocar mais água nas núvens. "São abordagens radicais, mas podem ser a única saída para uma situação de emergência", diz a reportagem. Tudo bem. Mas quanto vão custar? Quem vai pagar a conta? E quanto tempo será necessário para serem implementadas? As previsões mais realistas apontam 2050 como a data do colapso global.

Ainda segundo a reportagem, "como uma praga apocalíptica, as mudanças climáticas já afetam o cotidiano de bilhões de pessoas de forma impossível de ser ignorada. Uma prévia do relatório anual da Organização Meteorológica Mundial, órgão da ONU que avalia o clima na Terra, divulgada em dezembro, mostra que 2006 foi marcado por uma série de recordes sombrios no terreno das alterações climáticas e das catástrofes naturais".

Edward Teller, do Lawrence Liwermore National Laboratory, na Califórnia (morto em 2003), acreditava ser muito difícil conseguir que a humanidade cooperasse para o bem comum, sacrificando a produtividade das indústrias ou o bem-estar individual para diminuir o aquecimento global. Isso de fato parece coisa de ficção científica (como na série Jornada nas Estrelas, em que existe uma Federação dos Planetas Unidos, que resolveu problemas como a fome e a violência). Só que os especialistas sabem que não dá tempo de esperar pelo futuro: se a temperatura da Terra aumentar mais de 0,2 grau por década, as gerações futuras talvez precisem colocar em prática projetos ambiciosos de combate ao aquecimento global.

Soluções para problemas globais que exijam cooperação entre as nações ainda são coisa de ficção científica, como ocorre na série Jornada nas Estrelas

As conseqüências drásticas do aquecimento planetário já estão aí: furacões 50% mais fortes e duradouros no Golfo do México; alterações no padrão de circulação dos ventos, deslocando massas de ar seco para algumas regiões, entre elas a amazônica, causando escassez de chuva; aumento da acidez das águas oceânicas, pela absorção excessiva de gás carbônico, o que já arruinou 60% dos bancos de corais do planeta; redução das neves nos topos das montanhas à menor quantidade nos últimos 5 mil anos (o Monte Kilimanjaro, antes sempre coberto de neve o ano inteiro, já não tem cobertura gelada no verão); redução de 20% no volume das chuvas na Península Hibérica nos últimos 100 anos, o que aumentou a ocorrência de incêndios florestais em Portugal e na Espanha (nos Estados Unidos, o número de incêndios florestais quadruplicou em relação à década de 80). O inglês Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial aponta outro problema: se o aquecimento global continuar na atual marcha, dentro de algumas décadas o PIB mundial terá encolhido entre 5% e 20% em decorrências das secas, inundações e furacões cada vez mais freqüentes.

Enquanto isso, em outros meios de comunicação mais populares, como a TV aberta, o foco está nas festas de fim de ano, em quem fica com quem no mundo das celebridades, na nova novela que vai começar... Nas viagens, vejo motoristas irresponsáveis jogando latas de cerveja pela janela do automóvel; copos plásticos espalhados pelas praias; churrascadas e mais churrascadas (é bom lembrar que a criação de gado para abate tem sido responsável por grandes desmatamentos). Enfim, vejo um mundo alienado das grandes questões que não dizem mais respeito apenas às futuras gerações. Pessoas sorrindo à luz de fogos de artifício como se o mundo fosse durar para sempre, tentando eternizar um momento fugaz de alegria artificial, embalada a muita música e copos de champanhe.

Para encerrar esta postagem com o tom pessimista que prenuncia 2007, reproduzo as palavras do Millor, em sua seção na mesma Veja de 30/12: "No fim do século XX estávamos à beira da guerra. Neste princípio do XXI não estamos nem à beira da paz."

Independente da posição religiosa, é impossível para a pessoa bem informada deixar de ver que há algo de errado neste mundo. A maldade humana tem se intensificado; a fome está aumentando (não por falta de alimento, mas em decorrência da injusta distribuição de renda); doenças ceifam a vida de milhares que não têm acesso aos tratamentos caríssimos; o ateísmo militante faz um barulho danado e a religião do tipo self-service só faz crescer. Graças a Deus, não fomos abandonados neste mundo agonizante e confuso. A solução virá do Alto, com a volta de Jesus para levar aqueles que O aguardam para uma viagem de mil anos pelo Universo e, depois, morar neste mundo que será recriado pelo poder divino e restabelecido à sua dinâmica e equilíbrio originais.

Mas enquanto essa esperança não se concretiza, que Deus nos ajude a enfrentar o que virá.