A
revista Veja desta semana publicou
uma reportagem de quatro páginas intitulada “Um dogma que começa a derreter”,
apontando evidências de que os céticos do aquecimento global causado pelo ser
humano (estre os quais este blogueiro) podem estar com a razão. Segundo a semanal, o próprio ambientalista
inglês James Lovelock, de 92 anos, ainda lúcido, afirmou ter sido alarmista em
suas considerações sobre as mudanças no clima (noticiamos isso aqui no blog). “Foi uma tolice de minha parte”,
reiterou Lovelock a Veja. “O ser
humano não é mais culpado do que as árvores no que diz respeito ao aumento das
temperaturas.” Para Veja, nem o
Climagate, o escândalo sobre a manipulação de dados nos relatórios do IPCC, o
painel climático da ONU, foi um golpe tão duro para os defensores da ideia de
que a humanidade vive uma emergência planetária iminente, resultado da
emissão excessiva de CO2 na atmosfera, quanto as palavras de Lovelock. Isso
porque ele é tido como uma espécie de guru dos aquecimentistas, mais ou menos como
o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, que comprou uma casa à beira-mar
avaliada em milhões de dólares, muito embora pregue que o mar vai subir!
“Até
mudar de ideia, Lovelock reverberava previsões aterrorizantes sobre o futuro do
planeta. Em uma delas, ele afirmava que 80% da população mundial seria dizimada
por catástrofes até 2100”, diz a reportagem. Aproveitando a onda alarmista, os
defensores do ECOmenismo não perderam tempo e
divulgaram suas propostas de salvamento do planeta, entre elas a separação do domingo como dia da
família e de baixa emissão de carbono (proposta incentivada e abraçada de
imediato pela Igreja Católica). Em 2010, numa entrevista
concedida ao jornal Folha de S. Paulo,
procurei mostrar a relação entre aquecimento global e neopaganismo (confira aqui).
Veja
(que no passado também embarcou no oba-oba do aquecimento com capas bem
alarmistas) mostra que “Lovelock não foi o único cientista de renome a
protagonizar uma mudança de prumo recentemente. Em setembro do ano passado, o
físico norueguês Ivar Giaever, laureado com o Nobel em sua área, em 1973,
deixou a Sociedade Americana de Física (APS) por discordar da postura da
instituição em relação ao tema. Disse Giaever, na ocasião: ‘A APS aceita
discutir se ocorrem alterações na massa de um próton ou os múltiplos
universos, mas a evidência do aquecimento global é indiscutível? Esse assunto
está se tornando uma religião. Sou um descrente.’”
Palavras
semelhantes foram usadas pelo teólogo adventista Sérgio Santelli, em e-mail
publicado na revista Veja do dia
29/12/2008 (confira aqui). Segundo o teólogo, o
ECOmenismo estava se transformando numa “religião urbana de alcance global”.
Que bom que outras pessoas perceberam a mesma coisa.
Mas
a parte da declaração de Giaever que mais me chamou a atenção foi esta: “A APS
aceita discutir se ocorrem alterações na massa de um próton ou os
múltiplos universos [ideia totalmente hipotética],
mas a evidência do aquecimento global é indiscutível?” Outras evidências também
não são discutidas pelos defensores do mainstream
científico, especialmente os darwinistas. Voltarei a este ponto mais adiante.
É
bom lembrar – e Veja lembra – que os
céticos do aquecimento “não negam o fato de que o planeta está mais quente –
quase todos os cientistas hoje concordam que a temperatura média da terra subiu
0,8 grau no século passado. A divergência recai sobre as causas da oscilação”.
Entre elas, talvez, a atividade solar intensificada
em anos recentes. Só que um fenômeno “natural” de aquecimento não poderia ser
usado como argumento para promover mudanças (como a guarda do domingo)
profundas entre a humanidade, com o fim de “salvar a Terra” da ação humana
desastrosa.
Ponderação
interessante da semanal: “A discussão, em si, não é um problema. Dos debates
nascem as melhores soluções para uma questão. O perigo está no dogmatismo e na
polarização exagerada.” Pena que esse argumento nem sempre seja defendido ou
praticado, quando o assunto é criacionismo e evolucionismo, por exemplo. E aqui
eu volto ao ponto que deixei aberto lá em cima.
Veja
cita as palavras do climatologista americano Richard Lindzen: “Quando uma
questão se torna parte do programa político, a posição politicamente aceitável
passa a ser o objetivo e não a consequência da pesquisa científica.” Esse
programa pode ser, também, ideológico. Deixando mais claro: quando os
cientistas se esforçam para defender o naturalismo filosófico, tratam de
acomodar os fatos a essa cosmovisão, mesmo que esses fatos apontem noutra
direção, no caso, a do teísmo e do design
inteligente. E essa motivação, à semelhança da motivação política, nada tem que
ver com a ciência experimental. Os céticos (nesse caso, os criacionistas e
defensores do design inteligente) são
vistos com preconceito e/ou indiferença; suas ideias e refutações são ignoradas,
como eram as dos céticos do aquecimento, poucos anos atrás.
Veja
diz mais (e dá vontade de colocar estas palavras num quadro e pendurar na
parede): “Não existem certezas absolutas na ciência. No entanto, não há
como negar a contribuição do ceticismo para a elucidação da questão climática.”
Que bom se isso fosse igualmente aplicado ao darwinismo... Repita a frase entre
aspas trocando apenas “questão climática” por “origem da vida”.
Nota do jornalista Ruben Holdorf: "Eu já havia comentado que Veja tinha uma posição contrária ao aquecimento, a despeito das reportagens favoráveis, e que isso se detectava pelo diálogo entre os títulos de capa e das páginas amarelas, uma das teses que defendo. Outras visões a respeito de Veja são puramente empíricas, pois quem não é jornalista e não se atém às políticas editoriais, o que é básico para qualquer crítica de mídia, não consegue perceber o contrato comunicacional existente entre o enunciador e o leitor. Sem isso, as análises permanecem na superficialidade. Confira textos aqui e aqui."