Por
um século após Charles Lyell (popularizador do princípio do uniformitarismo), não
foi dispensada séria consideração às interpretações catastróficas dos dados
geológicos. O acúmulo de dados finalmente forçou uma reconsideração, e a
tendência recente no sentido de aceitar mais interpretações catastróficas se
movimenta na direção predita por catastrofistas.[1]
Na
década de 1920, o geólogo J. Harlan Bretz iniciou seu estudo dos Channeled
Scablands, no estado de Washington, o qual culminou no enfraquecimento do
rígido uniformitarismo de Lyell.[1] Essa região está situada na parte oriental
de Washington e corresponde a um terreno plano elevado profundamente marcado
por uma rede de cerca de 150 canais entalhada no Basalto do Rio Colúmbia,
atingindo mais de uma centena de metros de profundidade.[2, 3]
O
pensamento padrão insistia que a água em movimento no decorrer de longas eras
era o único agente conhecido que poderia erodir profundamente uma rocha dura.
Mas, respondendo aos dados, Bretz concluiu que a feição em questão era o
resultado de uma inundação cataclísmica.[4] A resistência à sua hipótese foi
firme por mais de duas décadas. Finalmente se tornou claro que Bretz estava certo
– os canais dos Scablands foram escavados pelo escoamento repentino de dois
quatrilhões de litros de água do Lago Missoula quando uma represa glacial rompeu.[1,
3] Um paredão de água de mais de uma centena de metros de altura foi formado, o
qual levou tudo em seu caminho em uma questão de dias.[3]
O
fluxo de água dessa megainundação foi tão grande quanto o fluxo combinado de
todos os rios no mundo inteiro vezes dez, tendo atingido um fluxo máximo de
aproximadamente 11 milhões de metros cúbicos por segundo. Para comparação, o
fluxo do maior rio do mundo, o Amazonas, é de apenas 170 mil metros cúbicos por
segundo.[3,5] Geólogos calculam que essa inundação causou seus próprios
terremotos enquanto cruzava a paisagem. A evidência mais dramática deixada
foram as Dry Falls (Quedas Secas), que correspondem a um penhasco de mais de
5,5 km de largura e 120 m de altura. Em seu pico as águas inundantes
possivelmente alcançaram 240 m de profundidade no topo dos penhascos formados,
de maneira que o volume de água, icebergs e pedregulhos do tamanho de uma casa
colidindo com os penhascos em formação naquele momento deve ter sido
inimaginável.[3]
Outra
feição marcante desenvolvida por essa inundação são as “marcas onduladas
gigantes”, que se formaram em muitos lugares. Elas são em tudo similares às
marcas onduladas de centímetros de altura que podem ser observadas em qualquer
praia, como resultado da ação das ondas, a não ser pelo tamanho. Cobrindo uma
área de mais de 6 km quadrados, elas medem de 6 a 9 m de altura e de 60 a 90 m
de largura. Alguns desses cordões ondulados individuais alcançam aproximadamente
3 km de comprimento.[5]
A
aceitação da realidade desse evento, a grande inundação de Spokane, abriu o
caminho para o reconhecimento de outros eventos catastróficos na história
geológica previamente ignorados.[1] Nada como isso acontece hoje. A erosão
acontece, mas ela comumente não é observada escavando profundamente as rochas.
No entanto, os cientistas descobriram que a água fluindo sobre uma superfície
rochosa em um fluxo rápido pode erodir mesmo rocha dura em um curto intervalo
de tempo. Moléculas de água movendo-se rapidamente sobre as superfícies rugosas
formam bolhas de vácuo que verdadeiramente “implodem” com grande força e
fraturam a rocha adjacente, acelerando dessa forma a erosão (um processo
chamado cavitação).[4]
Na
década de 1960, Bretz ganhou o dia e convenceu os geólogos de que, ao menos nessa
ocasião, processos catastróficos ocorreram. Se tanto dano assim resultou de um
grande, porém local lago rompido fluindo sobre um canto do continente, qual
dano poderia ser esperado do grande dilúvio de Noé?[4]
Para
os geólogos evolucionistas os Channeled Scablands foram formados por sucessivas
megainundações, como a descrita acima, resultantes do rompimento da mesma
represa glacial várias vezes, no decorrer de milhares de anos, ao longo de
repetidos ciclos de glaciação e deglaciação.[3, 5] Para os criacionistas,
porém, houve uma só era do gelo, que ocorreu após o dilúvio de Noé[6] e,
portanto, a feição geológica em questão deve ter se originado a partir de um só
evento catastrófico pós-dilúvio. Apesar dessa divergência, é interessante notar
o que há em comum nessas hipóteses: uma grande inundação ocorreu. Isso
demonstra claramente que muitas feições geológicas atualmente interpretadas a
partir da cosmovisão uniformitarista podem, talvez, ser reinterpretadas sob o
prisma criacionista diluviano.
(Hérlon Costa é geólogo formado
pela UFPA e mestre em Geologia Exploratória pela UFPR)
Referências:
[1] Brand,
L. (2009). Faith, reason, and earth history: a paradigm of earth and
biological origins by intelligent design. Andrews University Press; p.
245 e 246.
[6] Oard M.
The Ice Age and the Genesis Flood. Acts
& Facts. 1987; 16(6)