Parafraseando Marcelo Leite, me
perdoe o leitor a imagem violenta do título, mas é por motivo nobilíssimo e tem
apenas um sentido figurado – a lâmina afiada deste blogueiro se volta contra os
argumentos exarados nos artigos de três buldogues tupiniquins de Darwin
publicados na Folha de S. Paulo
contra a indicação do Dr. Benedito Aguiar para a presidência da CAPES, e
negando a cientificidade e robustez epistêmica da Teoria do Design Inteligente:
Buldogue tupiniquim de Darwin 1: Diogo
Meyer
Diogo Meyer começa seu artigo
respondendo à pergunta do que tornaria uma explicação científica – ela deve ser
testada contra observações do mundo natural, ser consistente com o conhecimento
vigente e ter passado pelo crivo da comunidade científica, e destacou que nos
seus congressos, livros e revistas, cientistas examinam, avaliam, endossam ou
refutam explicações.
Convenhamos, a resposta de Meyer,
segundo a Filosofia da Ciência, é muito demarcacionista, pragmaticamente
seletiva e desatualizada, pois há proposições científicas que não podem ser
testadas. Por exemplo, as de longo alcance histórico que lidam com a origem e
evolução do universo (Big Bang) e da vida, ou a de multiversos, buracos negros
que, apesar de não ser possível testá-las, têm sido aceitas quase unanimemente
(consenso!) pela comunidade científica. Meyer, na biologia evolucionária a
descendência com modificação, entre outras hipóteses, passaria por esse crivo
epistemológico rigoroso? Não passa. É reprovada magna cum laude!
Meyer afirmou existir formas não
científicas de explicar o mundo, sendo a religião uma delas, mas que a ciência
e a religião oferecem explicações profundamente diferentes, porém legítimas, e
que refletem aspectos distintos da nossa cultura. Mas, apesar de ter dourado a pílula
da legitimidade da explicação religiosa, isso ficou somente nesse parágrafo
tipo uma no cravo, outra na ferradura.
Meyer destacou existirem duas
explicações para a diversidade (e complexidade) dos seres vivos na Terra: uma
científica e a outra religiosa. Na explicação científica, a teoria da evolução
explicaria que toda a vida na Terra resulta de um processo de descendência
comum com modificação, e os seres vivos são conectados uns aos outros por elos
de ancestralidade comum. E que a teoria da evolução sobreviveu aos testes
contra observações e passou pelo controle de qualidade da comunidade
científica.
Nada mais falso! Eugene Koonin, do
Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia, afirmou na Trends in Genetics que, devido a
falhas nos princípios neodarwinistas centrais, como o “conceito tradicional da
árvore da vida” ou a visão de que “a seleção natural é a principal força motriz
da evolução” indicam que “a síntese moderna desmoronou, aparentemente, além do
reparo”, e “todos os principais princípios da síntese moderna foram, se não
totalmente revertidos, substituídos por uma visão nova e incomparavelmente mais
complexa dos aspectos principais da evolução”. Koonin concluiu: “Para não medir
as palavras, a síntese moderna já era” (E. V. Koonin, “The Origin at 150: Is a
New Evolutionary Synthesis in Sight?” Trends
in Genetics, 25:473-474 [2009]).
Não quero ser deselegante com Meyer,
um cientista respeitado na USP, uma das universidades bem-conceituadas no
mundo, mas a afirmação seria desonestidade acadêmica seletiva – ele sabe, mas
não quer dar o braço a torcer – ou desconhecimento profundo de literatura
científica com revisão paritária questionando algum aspecto sobre toda a vida
na Terra ser resultado do processo de descendência comum com modificação.
Buldogue
tupiniquim de Darwin 2: Marcelo Leite
A
la
Leite, pois o título melhor para esta LONGA réplica seria: Navalhada na NOMA.
O subtítulo do artigo afirma que o design inteligente (DI) não é teoria,
mesmo sabendo que não existe A teoria científica, mas VÁRIAS teorias
científicas, pois diversas são as áreas científicas com suas características
epistemológicas exclusivas, e que, a la
Gould, ciência e religião são magistérios que não se sobrepõem, sem contudo
considerar os problemas sabidos na aplicação do NOMA: navalha que corta dos
dois lados! Mais um café requentado que já rebatemos ad nauseam!
A definição de teoria científica na
mente de Leite deve ser esta: “Uma explicação bem fundamentada de algum aspecto
do mundo natural que pode incorporar fatos, leis e hipóteses testadas” (National
Academy of Sciences, “Science and Creationism: A view from the National Academy
of Sciences”, p. 2 [2nd ed., National Academy Press, 1999]).
“Uma explicação abrangente de algum
aspecto da natureza que é apoiada por um vasto corpo de evidências” (National
Academy of Sciences, “Science, Evolution, and Creationism”, p. 11 [National
Academy Press, 2008]).
Leite, jornalista renomado,
especializado em ciência, deveria saber que quando os cientistas usam a palavra
TEORIA, nem sempre significa uma ideia bem estabelecida, apoiada por uma ampla
gama de evidências. Até mesmo nos seus escritos profissionais os cientistas às
vezes a usam para se referir a uma conjectura ou hipótese ainda não confirmada
pela evidência.
Por exemplo, Bruce G. Charlton, um
pesquisador médico, escrevendo em uma revista científica, usou a palavra TEORIA
para se referir a uma ideia que ainda pode ou não ser estabelecida na ciência