Prezados membros da diretoria da Associação Brasileira
de Ensino de Biologia, sou o Prof. Christiano Pinto da Silva Neto, professor
universitário hoje aposentado, atual presidente da ABPC – Associação Brasileira
de Pesquisa da Criação, um dos braços do movimento criacionista em nosso país. Nosso
objetivo neste documento é produzir uma resposta à NOTA DE ESCLARECIMENTO divulgada pela Associação Brasileira
de Ensino de Biologia (SBEnBIO) em defesa da laicidade da educação brasileira,
por ocasião e motivada pelo fato de ter sido nomeado presidente da Capes o
Prof. Benedito Guimarães Aguiar Neto, simpatizante do criacionismo. Este
documento está sendo enviado, também, às demais organizações que assinaram aquele
documento.
Inicialmente, afirmamos que também somos favoráveis a
uma educação laica em nosso sistema educacional. Não entendo, entretanto, toda
a celeuma causada pela recente nomeação acima referida, uma vez que o
presidente da Capes não tem qualquer ingerência nos currículos escolares e que
sua posição em relação ao criacionismo também em nada afetará sua conduta à
frente da Capes. Registre-se, de passagem, que o referido professor tem uma
respeitável folha de serviços prestados à ciência e à educação brasileira, com
doutorado e pós-doutorado em respeitadas instituições internacionais, na
Alemanha e nos Estados Unidos.
Seu currículo, por si só, se constituí em uma
invejável apresentação do referido professor, muito mais do que as palavras que
aqui registramos, conferindo ao documento da SBEnBIO um caráter de intolerância
e de preconceito e, por que não dizer, de profundo desrespeito, uma vez que
avalizado por seus pares em nosso sistema educacional. Registramos, também, o
nosso repúdio à participação do Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, ao
noticiar esse fato de modo totalmente parcial. Veja este vídeo em https://globoplay.globo.com/v/8273798
Aí, perguntamos, onde fica a regra máxima do
jornalismo de que, ao se noticiar um fato, ambos os lados devem ser ouvidos?
Nesse vídeo, vários profissionais se pronunciaram contra a referida nomeação e
todos se mostraram completamente ignorantes em relação às bases em que se
fundamenta o criacionismo. Como exemplo, citamos o Prof. Sandro José de Souza,
da UFRN, que considerou o criacionismo equivalente ao conceito de que a Terra é
plana.
Neste documento, entretanto, vamos nos reportar mais
ao conceito que os senhores fazem do criacionismo, como uma interpretação
dogmática e religiosa da realidade acerca das nossas origens. Vamos mostrar
algumas das razões pelas quais consideramos essa visão um tanto quanto
equivocada dessa estrutura de pensamento.
Permitam-me a apresentação de uma breve história do
criacionismo. O correto a ser registrado é que, no início do século passado,
alguns cientistas cristãos, incomodados que estavam com o advento e com os
avanços do evolucionismo, decidiram empreender uma viagem de volta à natureza
para conferir se ela falava mesmo a linguagem da evolução, como então se
proclamava em todos os círculos intelectuais.
Após algum tempo de pesquisa, esses pioneiros chegaram
à conclusão de que a teoria da evolução era uma falácia e que, para nossa
surpresa, o que a natureza diz a respeito de nossas origens coincide plenamente
com as afirmações bíblicas acerca dos mesmos fatos. Em outras palavras, o
criacionismo não extrai suas conclusões das Escrituras, mas da natureza, e aí
reside a sua força, que tem levado tantos aficionados do evolucionismo à
compreensão de que só o modelo da criação explica de modo racional e científico
as origens do Universo e da vida.
Se partisse de um ponto de vista bíblico, levando uma
carta marcada da existência do Criador, essa viagem não faria o menor sentido.
Tampouco seriam eles considerados cientistas de respeito porque a existência de
um Criador é, por excelência, exatamente o ponto crítico a ser discutido. Sua
inexistência caracterizaria de imediato a necessidade de um processo de
evolução para explicar nossa realidade.
Há alguns anos passados, por ocasião de um projeto em
favor do ensino do criacionismo, que esteve presente no Congresso, a biomédica
Helena Nader, ex-presidente da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência, veio a público dizer que a organização estava entrando com uma moção
para que o referido projeto fosse arquivado. Ela assim se pronunciou: “O criacionismo não
é uma teoria científica, não satisfaz a condição essencial de poder ser
testada, refutada, confrontada com a realidade por meio de observações e
experiências, de tal modo que se possa verificar se suas afirmações são
conforme aos fatos.”
Examinemos, então, por alguns instantes, o que dizem
os evolucionistas sobre a origem da vida. Um ponto muito interessante a
respeito do Universo é que toda a matéria de que ele se compõe é formada a
partir de átomos de diferentes tipos. Os átomos são entidades que têm um núcleo
formado a partir de prótons (elementos com carga positiva) e nêutrons
(elementos com carga neutra). À volta de seus núcleos encontram-se os elétrons
(elementos com carga negativa). Tudo no Universo é formado a partir de átomos,
incluindo os seres vivos e, mais particularmente, todos nós, seres humanos.
Para os evolucionistas, situados no contexto do
naturalismo, não lhes restou alternativa que não explicar a origem da vida
através de um processo casuístico em que os átomos, ligando-se livremente uns
aos outros, um dia teriam logrado uma combinação unicelular capaz de se auto-replicar,
e que teria sido o primeiro ser vivo sobre a face da Terra.
Agora, perguntamos: Essa concepção acerca do
surgimento do primeiro ser vivo se ajusta à definição de teoria científica da biomédica
Helena Nader, podendo ser testada, refutada, confrontada com a realidade por
meio de observações e experiências, de tal modo que se possa verificar se suas
afirmações são conforme os fatos? É óbvio que não!
Tal comprovação até foi tentada em 1953, com a
experiência dos cientistas Stanley Miller e Harold Urey, da Universidade de
Chicago. A experiência, por seus parcos resultados, dificilmente poderia ter
sido considerada bem-sucedida e, significativamente, nunca mais foi repetida.
Para chegar a uma proteína precisaríamos de aminoácidos bem específicos,
dezenas deles, uma reação para cada ligação e, quando lográssemos construir uma
proteína, ainda estaríamos demasiadamente longe de um ser vivo.
Evolucionistas, na verdade, são os modernos adeptos da
geração espontânea, um conceito que foi descartado na idade média, com os
trabalhos de Francesco Redi, em 1668 e, posteriormente, de Louis Pasteur
(1822-1895), onde ficou caracterizado que o correto é admitirmos a lei da
biogênese, que afirma ser cada ser vivo descendente de outro ser vivo a ele
semelhante. Mesmo assim, e espertamente, hoje evolucionistas defendem a ideia de
que a geração espontânea ocorreu uma única vez no passado, há bilhões de anos,
quando ninguém estava lá para testemunhar esse acontecimento. Isso é ciência?
Vejam o que disse a esse respeito o bioquímico
norte-americano George Wald, falecido em 1997, mas que foi o detentor do prêmio
Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1967:
“A respeito da evolução espontânea, ela continuou
encontrando aceitação, até ser finalmente descartada pelo trabalho de Louis
Pasteur. É curioso que, até bem recentemente, professores de biologia
habitualmente contavam essa história como parte de suas introduções a
estudantes de biologia. Eles então terminavam o relato excitados pela convicção
de que haviam dado uma demonstração de aniquilamento de noções místicas,
através da experimentação científica e pura. Seus estudantes costumavam ficar
tão inebriados que se esqueciam por completo de perguntar ao professor como ele
explicava a origem da vida. Essa teria sido uma questão embaraçosa, pois há
somente duas possibilidades: ou a vida surgiu através da geração espontânea, o
que o professor já havia refutado, ou então surgiu através da criação
sobrenatural, o que ele provavelmente teria considerado como anticientífico. De
minha parte, penso que a única posição científica sustentável é que a vida
originalmente surgiu mesmo através da geração espontânea. O que a história
revista demonstrou é que a geração espontânea não ocorre mais em nossos dias.”
Assim, como podemos bem observar, Wald apenas usa de
retórica. Não há qualquer evidência científica que ele possa citar em suporte à
sua conclusão, mas, mesmo assim, ele a classifica de científica. Ele é, como
todo evolucionista, apenas mais um moderno defensor da geração espontânea. Só
que agora eles tiveram o cuidado de posicioná-la em uma época que não pode ser
alcançada pela experimentação. Em outras palavras, evolucionistas mostram que
pertencem ao grupo dos que preferem apoiar suas conclusões em meras hipóteses,
e não em fatos que podem ser comprovados à luz da ciência.
Esse mesmo tipo de raciocínio poderia ser estendido a
praticamente todos os outros pontos que caracterizam o evolucionismo. Por que,
então, fazer uso de “dois pesos e duas medidas” no tratamento dessa questão? A
verdade é que o criacionismo, tanto quanto o evolucionismo, é uma interpretação
de fatos da natureza relacionados com as origens do Universo e da vida. Os
fatos aqui referidos ocorreram no passado, e este pertence mais à história do
que à ciência.
Eis porque somos de opinião que, se desejamos fazer
valer a nossa condição como seres pensantes, e honestamente analisar a questão
das origens além de todo e qualquer tipo de preconceito e de intolerância,
devemos permitir que nossos alunos e, de resto, toda a sociedade tenham o
direito de ouvir ambos os lados da controvérsia criação x evolução
e de pesar todos os prós e contras dos argumentos apresentados. A censura,
em seus múltiplos aspectos, nunca foi e nunca será a melhor opção.
Atenciosamente,
Christiano P. da Silva Neto
Presidente da ABPC – Associação Brasileira de Pesquisa
da Criação