sábado, maio 03, 2008

Abiogênese: uma teoria em crise (última parte)

O que é necessário para se criar uma célula? A célula é definida como uma unidade viva auto-duplicante, capaz de crescimento, metabolismo e outras funções associadas à vida. Focalizarei aqui o aspecto da auto-duplicação da célula para que se possa determinar a possibilidade de uma célula ter surgido por acaso. Se pudermos visualizar os requisitos mínimos, podemos então questionar se tal entidade seria capaz de se auto-originar.

Os requisitos são formidáveis – primeiro, precisamos ter a informação necessária para a construção celular, já que, sem informação, a construção celular e a própria vida são impossíveis. Todas as células vivas contêm informações precisas sobre a sua composição e divisão, armazenadas sob a forma de DNA, que é a representação molecular das informações codificadas para o processo e estrutura da vida. Podemos argumentar, sem base, sobre de onde se originou essa informação, mas a experiência humana e análises cibernéticas nos confirmam que a informação provém de um informante, criando assim a necessidade de um doador de informações.

Grande número de cientistas respeitados, incluindo o astrônomo Hoyle, o paleontologista Patterson, o ciberneticista Yockey e outros chegaram a conclusões semelhantes por razões muito diferentes. Ainda assim persiste a crença de que, se houvesse condições adequadas e a quantidade de tempo suficiente, qualquer coisa seria possível. Analisemos, então, essa proposição para testar sua validade.

Perguntemos quais os requisitos mínimos para se obter uma célula viva. Todas as células precisam de uma membrana constituída, nos casos mais simples, de lipídios do tipo triglicerídeos ou fosfoglicerídeos associados a proteínas especializadas, que estabilizam a membrana e asseguram a sua integridade estrutural. Pode-se observar a formação espontânea de bi-camadas lipídicas em estruturas esféricas semelhantes a células. Assim, poder-se-ia concluir que a presença de fosfolipídios no “mar pré-biótico” asseguraria que o invólucro das células estava presente. Mas o caso não é tão simples.

É extremamente difícil de se produzir ácidos graxos, o componente primário de todas as membranas celulares, sob condições abiogênicas, mesmo em atmosferas reduzidas. E, mesmo se tais moléculas fossem produzidas, cátions bivalentes tais como Mg++ e Ca++ iriam se combinar com os ácidos graxos fazendo com que se precipitassem para o fundo do mar e fossem incorporados aos sedimentos pré-cambrianos. Assim, mesmo se tivessem sido inicialmente formados, eles não estariam disponíveis para a formação de membranas. Elas são moléculas complexas que certamente não seriam nada comuns sob as condições primitivas da Terra. Assim, é muito improvável a existência de membranas celulares.

Mas o problema vai mais além, já que as membranas fosfolipídicas são impermeáveis à maioria das moléculas de que a célula precisaria para crescer. As membranas das células modernas driblam esse problema tendo como componentes integrais proteínas muito sofisticadas, que admitem as moléculas desejadas seletivamente. Claro que não é concebível que tais proteínas estivessem à disposição da primeira "proto-célula". Assim, a existência de uma membrana celular retardaria o desenvolvimento de uma proto-célula. E, sem uma membrana, não pode haver célula. Mais uma questão complexa. E agora?

Tentemos uma nova abordagem – esqueça a célula, esqueça a membrana. O que seria necessário, no mínimo, só para produzir uma molécula de proteína? Poderíamos imaginar proteínas menores do que as atuais, digamos, com 100 aminoácidos de comprimento, utilizando menos de 20 dos aminoácidos proteicos, um sistema primitivo de polimerase, talvez apenas 100 proteínas específicas no total, ou mesmo só 80. Vamos supor que os aminoácidos não-proteicos pudessem ser utilizados, e também os enantiômeros. Todas essas suposições são ridículas. Não temos os materiais para começar, nem mesmo os materiais corretos. Não temos idéia alguma de como poderíamos produzir um polímero de 100 aminoácidos sob condições pré-biológicas. Não há possibilidade alguma de que essas condições extremamente desfavoráveis pudessem produzir um sistema auto-duplicante. Mas já que estamos neste jogo, vamos piorá-lo ainda mais.

Das 80 proteínas que dissemos serem necessárias, vamos permitir que as primeiras 60 tenham qualquer seqüência de aminoácidos. Das 20 proteínas restantes, a primeira tem um aminoácido específico, e os 99 restantes podem ser de qualquer tipo. A segunda tem dois aminoácidos específicos e assim por diante, até que a vigésima tenha 20 aminoácidos específicos. Permitiremos que o oceano tenha seis quilômetros de profundidade, cobrindo toda a Terra, e que a concentração de aminoácidos seja 1 molar para cada tipo. Dividiremos o oceano em parcelas de 1 litro e vamos considerar a façanha realizada quando qualquer um dos litros produzir todas as proteínas necessárias. Permitiremos que as proteínas sejam produzidas a uma velocidade de um milhão de tentativas por litro por segundo. Vamos admitir a mesma probabilidade para os ácidos nucleicos. Com todas estas suposições feitas a favor para produzir nossa "célula primitiva" extremamente liberal, nós só conseguiremos alcançar esse objetivo, com 50% de probabilidade, uma vez em 10 elevado a 186 anos.

Naturalmente, essa cifra é incompreensível. Para termos uma idéia de quão incompreensível, usemos a seguinte ilustração proposta por Arthur V. Chadwick: uma ameba está de um lado do Universo e começa a se locomover para o outro lado, distante 100 trilhões de anos-luz. Ela viaja à velocidade de 1 metro por bilhão de anos e carrega um átomo consigo. Quando ela atinge o outro lado, descarrega o átomo e começa a caminhada de volta. Em 10 elevado a 186 anos, a ameba terá transportado toda a massa do Universo de um lado para o outro, trilhões, trilhões, trilhões, trilhões, trilhões, trilhões de vezes. “Esta é a minha definição de impossível”, diz Chadwick.

E o que resultaria se o experimento fosse bem-sucedido não seria uma célula viva, nem mesmo uma combinação promissora. A origem espontânea da vida em uma “Terra pré-biótica” é, portanto, impossível.

** ALTERNATIVAS PARA A ABIOGÊNESE

Que alternativas restam para os defensores da abiogênese? Várias foram propostas:

 Origem em outro planeta. Mas no que isso ajuda? Nós já investigamos as melhores condições possíveis e descobrimos que elas não são produtivas. Além do mais “as formas de vida conhecidas dificilmente resistiriam, sem proteção adequada, às adversidades cósmicas, tais como as grandes variações térmicas e a presença de radiações mortais de alta intensidade.” - Wilson Roberto Paulino. Biologia Atual, vol.1, pág.82 – Ed. Ática. E “qualquer corpo que entre com alta velocidade na atmosfera terrestre, como um meteorito, sofre um intenso aquecimento, devido ao atrito com o ar. As elevadas temperaturas destruiriam qualquer ser vivo existente nessas rochas.” - Cesar e Sezar. Biologia, Vol.1, pág.241 – Ed. Saraiva. Jogar o problema para outro local é admitir a falha.

 Predestinação bioquímica. Uma tentativa de atribuir as propriedades dos sistemas vivos às moléculas das quais eles são formados. Um livro popular de 1969 com este título – Predestinação Bioquímica – sugeria tal cenário. Essa linha tem sido abraçada por teóricos e sociobiologistas. Definitivamente, a viabilidade de um modelo não deve depender do fato de ele ser um conceito atrativo, mas do fato de ser ele verdadeiro. Não existe evidência de que precursores biológicos sejam energizados para produzir células vivas. (Um dos autores do livro, Dean Kenyon, agora é criacionista.)

 Criação por um poder inteligente que está fora de nossa esfera de investigação. Esta possibilidade é melhor investigada ao se considerarem quais alternativas existem. Nós já fizemos isso. Se alguém estiver procurando a verdade, não pode excluir arbitrariamente essa possibilidade.

À luz dessas alternativas, o conceito da Criação se torna extremamente atrativo, não só como uma alternativa, mas como a única alternativa razoável. Só alguém que não quer admitir a possibilidade de uma Inteligência Superior excluiria tal consideração. Essa conclusão ao menos faz sentido à luz das muitas observações que consideramos, pois explica (1) a fonte de informação, (2) o arranjo não casual do código genético, e (3) as respostas dos insondáveis mistérios de quem veio primeiro: as proteínas ou o código genético. Os cientistas deveriam dar boas-vindas a uma solução que traz entendimento e ordem ao caos. Os cientistas deveriam ser os primeiros a dar boas-vindas ao Criador!

Agora leia esta comparação: caso uma expedição espacial voltasse à Terra trazendo alguns artefatos mecânicos de outro planeta e os submetesse aos especialistas e estes, após o estudo das peças, concluíssem que elas são produto da operação das leis da probabilidade e do desenvolvimento durante milhões de anos pelo acúmulo de organização da matéria por mera casualidade e não são obras de alguma mente inteligente. O que você acharia?

Seria possível – pergunta o teólogo inglês William Paley – que, sacudindo uma sacola com as peças de um relógio durante milhões ou bilhões de anos, surgiria num dado momento um relógio funcionando? Guardadas as proporções, o evolucionismo defende algo semelhante, mas sem as peças pré-fabricadas: o Universo, bem como tudo o que nele existe, com toda a sua complexidade, teria surgido do nada e caminharia para a perfeição. Quanta fé para se crer nisso!

Lembre-se: “Uma coisa é um cientista altamente especializado, em um laboratório, usando complexos e sofisticados aparelhos, sintetizar compostos orgânicos, e outra é ocorrer o inverso: simples compostos orgânicos terem a capacidade de organizarem-se espontaneamente até formar cientistas.”