quinta-feira, dezembro 18, 2008

Em busca do ancestral comum

Uma pesquisa realizada por cientistas no Canadá e na França sugere um novo perfil para o mais antigo ancestral comum universal (LUCA, na sigla em inglês), tido como o organismo que antecede toda a vida na Terra. "Até agora a comunidade científica acreditava que o LUCA era um organismo 'hipertermofílico', que vivia a temperaturas acima dos 90ºC", disse o especialista em bio-informática Nicolas Lartillot, da Universidade de Montreal, e um dos autores da pesquisa. "Mas os dados que coletamos sugerem que o LUCA era, na realidade, bastante sensível ao calor e vivia em climas onde a temperatura era abaixo dos 50ºC", completou.

Segundo os cientistas, as descobertas sobre esse organismo ancestral de 3,8 milhões de anos podem explicar as teorias existentes sobre a composição dos primeiros seres vivos terrestres.

Uma das teorias é de que esses organismos eram compostos pelo ácido ribonucleico (RNA) e não pelo ácido desoxirribonucleico (DNA), que faz parte dos seres vivos hoje em dia. O RNA, no entanto, é sensível ao calor e não poderia viver nas altas temperaturas que caracterizavam a Terra no início. Segundo os cientistas, LUCA teria encontrado um microclima mais ameno para se desenvolver.

"Somente depois os descendentes desse organismo descobriram o DNA, que eles provavelmente adquiriam de vírus, e o utilizaram para substituir o frágil RNA", explicou Lartillot. "Isso os possibilitou sair desse microclima, se desenvolver e se diversificar em uma variedade de organismos mais sofisticados capazes de tolerar melhor o calor.

No estudo, do qual também participaram as universidades francesas de Lyon e Montpellier, a equipe de pesquisadores comparou as informações genéticas dos organismos modernos para caracterizar o LUCA.

"Nosso estudo é muito parecido com o da etimologia das línguas modernas", disse Lartillot. "Identificamos traços genéticos comuns entre animais, plantas e bactérias, e os usamos para criar uma árvore da vida, cujos galhos representavam espécies separadas. Todos eles vinham do mesmo tronco, o LUCA, cuja genética nós depois caracterizamos."

As descobertas foram publicadas em artigo na revista científica Nature.

(Terra)

Nota: Interessante notar como, a despeito das mudanças radicais de ambiente e cenários "primordiais", a luta para salvar o modelo da ancestralidade comum é ferrenha. O "organismo ancestral" teórico que antes vivia em ambientes escaldantes, agora precisa ter vivido em baixíssimas temperaturas. O Natal se aproxima, mas alguém precisa dizer pra esse pessoal chegado num modelo computacional que Papai Noel não existe.[MB]