sábado, janeiro 09, 2010

O erro do racionalismo

Encontrei num sebo o ótimo livro O Ateísmo Moderno, de Georg Siegmund (Loyola), publicado em 1960. O autor faz uma viagem pela história, começando pelas primeiras manifestações tidas como ateístas, com o grego Epicuro, visitando depois grandes figuras como Kant, Hegel, Nietzsche e outros. A Revolução Francesa e o ateísmo russo também são analisados, entre outros temas. É uma grande obra que ajuda a entender a evolução do pensamento filosófico ocidental e as principais ideias que formam o arcabouço neoateu de nossos dias. Publicado há 50 anos, continua bem atual. Está sendo muito útil em minhas pesquisas sobre o neoateísmo.

Cito aqui um trecho interessante, entre tantos: “Salta aos olhos o erro do racionalismo. Por um lado se admite que a existência de um Ser absolutamente necessário se prova partindo da experiência, mas depois se afirma que a absoluta necessidade é uma existência de meros conceitos. O argumento cosmológico [tudo o que teve um começo teve uma causa; o Universo teve um começo, portanto, teve uma causa] conclui da contingência das coisas existentes, para a existência de um Ser necessário como a causa das mesmas. Se as coisas realmente contingentes não existem por si mesmas, mas começaram a existir, devem, finalmente, depender de um Ser que exista por si mesmo e que, por conseguinte, não teve princípio, mas que é necessário. Logo, é evidente que a existência de um Ser necessário é demonstrável pela experiência, e não decorre de conceitos puros. (...) De modo algum é necessário que haja logo de início um conceito completo do objeto do conhecimento, para que se possa sequer falar de conhecimento. Instrumentos de pedra encontrados nas cavernas e armas dos homens da Idade de Pedra [sic] nos fornecem informes seguros de sua existência em termos remotos, ainda que não se achasse um esqueleto inteiro, que pudesse dar testemunho de sua configuração externa. Por isso é suficiente que, ao estudarmos a Criação, topemos com vestígios que nos deem notícia segura de Deus, ainda que com isso não se consiga um conceito completo dele mesmo” (p. 169, 170).