Mais que a defesa de hábitos locais, a luta Loma Linda versus McDonald’s é símbolo da defesa de um futuro saudável
A
batalha foi árdua e durou cinco horas. De um lado, moradores de Loma Linda,
Califórnia, Estados Unidos. Do outro, prefeito e vereadores da cidade. Questão:
deve-se permitir a instalação de um restaurante McDonald’s na cidade? Em
qualquer outra parte a questão não provocaria qualquer dúvida. Mas Loma Linda é
diferente. Considerada uma das poucas regiões do mundo em que grande
porcentagem da população chega aos cem anos saudável e ativa, Loma Linda é uma
das três Zonas Azuis, regiões caracterizadas pela longa vida de seus
habitantes. As outras duas ficam na Sardenha, Itália e Okinawa, Japão [leia mais aqui e aqui].
Loma
Linda conquistou o status de única
Zona Azul americana devido à maciça presença dos adventistas do sétimo dia, que
promovem estilo de vida saudável no qual dieta vegetariana, exercícios,
ausência de álcool e cigarro e forte vínculo espiritual são parte integrante.
Segundo
o médico brasileiro Hildemar Feliciano dos Santos, professor na Universidade
Adventista local, essa Zona Azul americana cresce em importância pelo fato de
as demais zonas localizadas na Itália e Japão estarem ameaçadas pelos modernos
hábitos de alimentação, disseminados de modo agressivo pelos restaurantes fast foods. “Os descendentes daqueles
longevos nessas Blue Zones já não seguem o regime de seus antepassados e
provavelmente não vão viver longos anos como viveram seus pais e avôs”, informa
o médico.
Médicos,
nutricionistas e outros profissionais de saúde, munidos de evidências
científicas, criaram na cidade o Movimento de Saúde de Loma Linda e lutaram
bravamente para impedir a instalação do restaurante , relata o médico.
O
interesse econômico falou mais alto e o pequeno exército de brancaleone
vegetariano foi vencido com o duvidoso argumento de que o projeto já estava por
demais avançado para qualquer recuo na programação. A batalha durou sete horas
e só acabou à meia-noite do dia 13 de dezembro de 2011.
O
embate teve repercussão nacional. “Muitas reportagens estão sendo feitas sobre
a injusta derrota”, lamenta o médico que participou da luta até o último
momento. “Jornais como o Los Angeles
Times e o New York Times
estiveram entrevistando os membros do movimento de Loma Linda e simpatizando
com a causa”, relata o profissional brasileiro que promete continuar promovendo
o movimento de saúde de Loma Linda entre seus habitantes.
Entre
o pesado arsenal de munições utilizadas pelos defensores da saúde, um argumento
fornecido por levantamento local: estatísticas mostram que num raio de seis
quilômetros a partir de um restaurante tipo fast
food a prevalência de obesidade infantil aumenta 5% ou mais.
Assustadas
com o gigantesco número de crianças obesas que aumenta a cada ano – 30% delas
sofrem com essa doença atualmente –, e projeções que indicam 2020 como o ano em
que todos os americanos estarão com excesso de peso, outras cidades começam a tomar
atitudes. São Francisco está lutando contra o McDonald’s pelo costume de dar
brinquedinhos para crianças que compram seus “alimentos” e a universidade de
Vanderbilt fechou no mês passado – janeiro, 2012 – o McDonald’s que funcionava
nas dependências de seu centro médico.
O
correspondente de Vida Integral conclui lembrando que “há uma epidemia de
enfermidades modernas como diabetes, excesso de colesterol, obesidade, pressão
alta, doenças cardíacas e derrames cerebrais que estão relacionadas diretamente
com o tipo de alimentação”.