Tem
uma hora na vida de um homem em que ele precisa saber quando sair de cena. Aliás,
essa sabedoria do “quando parar” deveria ser inata a todos. Homens e mulheres,
cada qual sabendo bem quando é a hora certa de tirar o time de campo. Se esse
bom-senso fosse geral, a humanidade se veria livre de mais um disco do Restart,
Michael Jackson não teria se sobrecarregado e morrido por um novo show, Serra não sairia mais candidato a
nada e o Felipe Andreoli ia parar de jogar bolinhas em um balde. Mas
não. A gente observa o contrário. Tem gente que insiste no mesmo erro e não
aprende. Que força uma barra danada a troco de coisa alguma, ou de muito pouco.
E eu não quero ser mais um desses que dá cabeçada e não muda.
Antes
que muitos dos leitores que me odeiam possam comemorar, não. Não vou abandonar
minha carreira, sair do CQC, sair da TV, voltar pro teatro infantil ou pra lata
de lixo onde alguns acham que nasci. Também não vou largar esse blog ou pedir
as contas no Yahoo!. Mais simples que isso: eu vou parar, definitivamente, de
ir a baladas.
Ontem,
pela última vez, fui a duas casas noturnas. Duas na mesma noite. E me dei conta
de que meu tempo passou. Aconteceu, fiquei velho para festas bombásticas. Às
vésperas de completar 36 anos, caiu a ficha que não consigo mais compactuar da
histeria, bebedeira, loucura e hipocrisia que existe na noite e em seus
personagens.
Eu
já sabia, mas demorei pra entender de verdade: na balada ninguém é seu amigo
realmente. E a premissa da eterna felicidade da noite com seus aditivos e
barulheira é uma contradição com o que a vida pede da gente no dia seguinte,
com seus compromissos e duras responsabilidades.
Antes
que mais de 300 pessoas comecem a me agredir aqui dizendo que eu sou um
tremendo mala, que não sei me divertir, que não posso julgar quem gosta de
festas, etc., deixa eu escrever uma coisa: é tudo bem mais simples. Eu adorava
toda essa bagunça das madrugadas. Mas tô ficando velho mesmo. Não consigo mais.
O
erro não está nos lugares e nas pessoas que querem que eu dance e grite, está
em mim. Envelheci. Aliás, nem dá pra chamar isso de erro. Envelhecer é uma
dádiva, ainda que assuste um pouco.
À
medida que o tempo passa, a gente somatiza rabugices e manias. Comigo isso fica
claro nas baladas. O som muito alto me incomoda. Ter que socializar o tempo
todo também. Lutar como um gladiador por um copo de vodca com energético mais
ainda.
A
gente passa a se preservar mais também. A iminência de sempre ter que “se dar
bem” fica em segundo plano. A cobrança por emanar felicidade a todo momento
cai. Você não aceita mais que espanquem sua conta bancária na saída. Uma hora
você decide não ser mais do agito e se sente melhor. Você se aceita como é, com
suas contradições e realidade.
Eu
agora quero mais bares e jantares a dois. Mais filme em casa e uma ou outra
festa temática por semestre, como um casamento de amigos, um lançamento de
produto, um encerramento de evento. Vez ou outra, e olhe lá, alguém vai dizer
que me viu numa balada – mas vai ser uma coisa pontual, como as festas do
Iquinho, amigo do Cami Colombo, que são bem boas e raramente rolam em casas
noturnas.
Enfim,
foi bem legal enquanto durou. Acho que ainda levarei comigo, por muito tempo,
um pouco dos milhares de litros de álcool que consumi nas noites, bem como
parte da memória de bocas que beijei, entre mulheres lindas e outras que nem
deveriam ter nascido. Espero que meu corpo não recorde muito dos cigarros que
fumei e nem das vezes que abracei mais o vaso sanitário do que uma gata que
tenha me dado mole.
Foi
bom enquanto durou. Mas agora, acabou. A propósito: alguém sabe onde tem um bom
lugar para jogar gamão?
Nota:
Esse texto de “despedida” do Rafael Cortez é mais um raio x que mostra o
tamanho do vazio de uma vida focada no prazer pelo prazer. Concordo com ele
que, em certo sentido, envelhecer é uma bênção – desde que esse
envelhecimento/amadurecimento ocorra sob os olhos de Deus. Senão, sabe o que
pode acontecer? O indivíduo sairá do êxtase cegante característico dos quinze
aos vinte e poucos anos e adentrará a maturidade cheio de nostalgia e com
saudades do tempo em que achava que
era feliz. Pensará no que deixou para trás e nas oportunidades perdidas, e, ao
olhar para frente, não conseguirá contemplar nada de muito bom. Não tem jeito.
De qualquer forma, maduros ou imaturos, os seres humanos que vivem negando o
fato de que foram criados por Ele e para Ele somente encontram o vazio e vão se
arrastando pela vida (ou sendo arrastados por ela) de balada em balada, em
busca de um anestésico para o senso de nulidade. Espero que Cortez continue
nessa estrada do amadurecimento e descubra, finalmente, que o fim pode ser o
começo.[MB]