Desde
que o ser humano rejeitou a proposta de Deus para sua vida e deu ouvidos a
Satanás, até agora, não parou de buscar a tal felicidade que lhe foi prometida
em troca da desobediência aos princípios divinos. Vejamos: a Eva foi prometido
que ela não morreria e ainda seria semelhante a Deus, conhecedora do bem e do
mal (Gn 3:4), entre outras coisas. Ora, ser igual a Deus significa ser tudo,
inclusive imortal, justo e poderoso só para ficarmos nesses três atributos que
compõem a personalidade divina e que tanto buscamos nas diversas formas de
organizações sociais que implementamos. Todavia, tudo o que conseguimos é
injustiça, opressão e morte. Por que será que não conseguimos construir uma
sociedade plena em que reine justiça amor e paz? Crendo ou não, só existe uma
resposta: porque fizemos a opção errada, ou melhor, nossos pais lá no Éden
fizeram essa opção, ao acreditar no inimigo de Deus e em suas falsas promessas.
O
homem, quando pecou, perdeu a capacidade de continuar bom, praticar a justiça e
viver uma vida repleta de amor, como queria seu Criador. Em lugar dessas
virtudes, seu coração se encheu de ódio, cobiça inveja e desamor para com seu
semelhante, que, aliás, é a causa de todo sofrimento na atualidade. Thomas
Hobbes, um dos artífices do Estado moderno, em sua obra O Leviatã, argumenta que o homem possui uma sede de poder imensa
que só termina quando morre. Para ele, o “poder é a condição sine qua non da felicidade. Riquezas, honra
e ciência são apenas formas de poder”. Com isso, quero dizer que não basta
suprimir o Estado para por fim a todo sofrimento, inclusive a falta de
liberdade total, o problema está no homem e não em um tipo de instituição que
ele inventou que, por sinal, vai refletir todas as suas idiossincrasias, sua
visão de mundo, etc.
Falar
do Estado como se ele fosse algo que desceu do céu para reinar absoluto sobre
todos, sem vínculo com a sociedade que o engendrou, é um pouco de exagero,
mesmo que não seja esse o objetivo do nosso amigoTucker; mas é isso que ele deixa transparecer quando se refere ao Estado
da forma como se referiu. Embora, utilize um eficiente aparato ideológico para
parecer neutro e governar acima das classes, o Estado nada mais é que a representação
fiel da classe hegemônica que o estruturou e o comanda. E, no Ocidente, temos
como referencia o Estado burguês estribado nos valores ocidentais, que tem na
democracia burguesa o pilar central de sua existência. Sim, é com base nessa
democracia que o Estado burguês constrói sua estrutura ideológica de
sustentação política, econômica e social.
Mas
o que é essa tal democracia? Como e onde surgiu? Bem, tal como a conhecemos, a
democracia burguesa é um regime de governo que tem na vontade da maioria a sua
funcionalidade, maioria essa que representa “a vontade do povo, para o povo e
pelo povo”. Surgiu na Grécia antiga, um país escravocrata, naquela ocasião,
onde mulheres e estrangeiros não tinham vez nem voz. E onde só eram
considerados cidadãos homens casados pertencentes à aristocracia agrária, que
se reuniam uma vez por mês para debater os problemas das cidades, daí serem
considerados cidadãos. Essa minúscula pincelada na historia da democracia já
nos permite uma reflexão sobre ela na atualidade, observando como ela conservou
sua essência, apesar do longo período que nos separa do seu surgimento. Como é
notória, a democracia burguesa já nasce como um regime de exceção, portanto, já
nasce coxa, manca capenga ou coisa parecida, já que, para exercê-la, era
necessário ser rico, homem e não estrangeiro.
O
tempo passou e muita coisa foi modificada para que tivéssemos, hoje, a
democracia que temos. Porém, esse regime é o mesmo que permite a uns poucos
terem tudo e muitos terem nada; é o mesmo regime que legitima a convivência da
miséria com a opulência, banalizando a pobreza extrema como se fizesse parte da
ordem natural das coisas. Ou seja, a democracia continua excludente e desigual.
Essa historia de governo do povo, para o povo e pelo povo não passa de grande
falácia. Primeiro, porque povo não governa; a massa por si só é disforme e
desorientada, e ao se organizar para escolher um representante, perde seu
caráter espontâneo de massa porque serão uns poucos que comandarão a vontade de
muitos. Partindo desse princípio, o que aconteceu ao Andrew
não é nenhuma novidade; entretanto, longe de mim achar que não devemos buscar o
melhor para nós e para a sociedade de um modo geral, todavia, devemos
reconhecer que a perfeição neste mundo nunca será alcançada – o motivo, penso
que já deixei bem claro acima.
Bem,
isso é o que temos. Um Estado que nos permite o mínimo de liberdade não porque
seja bom, mas para sua própria funcionalidade. Por outro lado, podemos lutar
pela utopia de uma sociedade sem Estado, que, mesmo se fosse possível estruturá-la,
não iria muito longe se não mudássemos nossa natureza caída, egoísta e
opressora. Acontece que para termos tal sociedade seria necessário atingirmos
um grau elevadíssimo de consciência, capaz de nos autogerir sem a necessidade
do “homem artificial” ou Estado, segundo Hobes, coisa que me parece
completamente impossível. Mas não estamos proibidos de pagar para ver; quando,
por acaso, conseguirem essa façanha extraordinária, me chamem apenas para
contemplar esse paraíso terrestre, pois, se acaso eu viesse a querer habitar
num lugar como esse certamente iria corrompê-lo, simplesmente com minha
presença.
Sendo
assim, meu caro Tucker, nossa esperança está na Pedra de Daniel 2:34, que ao
atingir a base da estátua do sonho de Nabucodonosor representando todos os
sistemas corruptos deste mundo, a esmiúça e a destrói para sempre, e em seu
lugar estabelece um reino eterno no qual reinarão a justiça, o amor e a tão
sonhada democracia perfeita que tanto almejamos.
(Kleiner Michiles é sociólogo
e colaborador do Núcleo de Cultura Política do Amazonas)