A
história de Zack Kopplin, ativista de 19 anos, começa em 2008. Foi nesse ano
que o estado americano da Louisiana, onde ele vive, aprovou a Lei “Louisiana
Science Education Act”, que permite que professores levem material suplementar
fora do currículo para as salas de aula, dando liberdade para que sejam
ensinadas, por exemplo, teorias criacionistas e nada sobre evolução. Na época,
Kopplin estava na escola e escreveu uma redação revoltada sobre isso em sua
aula de inglês. Hoje, cinco anos depois, ele estuda história na Universidade
Rice e é um dos ativistas mais temidos pelos criacionistas. Isso porque na
época em que a lei foi aprovada, professores não apenas levavam material extra
sobre criacionismo para a aula, mas passaram a substituir livros de ciência por
textos religiosos. E, em 2010, o estado precisou decidir quais seriam os novos
livros a serem usados em escolas públicas - criacionistas queriam barrar livros
baseados em teorias científicas [como sempre, a mídia não deixa claro que
macroevolução não se trata de sinônimo de ciência]. “Achei que alguém mais
fosse se manifestar sobre isso, que alguém tomaria uma atitude. Mas ninguém fez
nada. Então eu agi”, conta Koppling.
Ele
criou duas petições para impedir que professores levem material criacionista
para as escolas e, com a ajuda da senadora Karen Carter Peterson, pretende
criar a terceira.
As
suas primeiras tentativas foram derrotadas em votações parlamentares, com o argumento
de que muitas escolas que trabalham com material criacionista são privadas. “Eles
podem ensinar o que quiserem em escolas particulares, mas o estado usa dinheiro
público e deve prestar contas ao público”, argumenta. Zack também conta que não
é contra o ensino de religião, mas é contra o ensino de religião em aulas de
ciência.
Os
esforços de Zack ainda não alcançaram o objetivo esperado, mas eles não
passaram despercebidos - fundamentalistas já o acusam de anticristo e, acredite
se quiser, ele foi acusado até de causar o furacão Katrina.
Kopplin
não se preocupa apenas com o ensino de criacionismo, mas na falta de preparo de
crianças americanas. “Aqui negamos conceitos de domínio público, como as
mudanças climáticas e vacinas”, explica. Para resolver isso, ele acredita em
uma melhor educação e em mais verba para o desenvolvimento científico - segundo
ele, os EUA deveriam destinar um trilhão de dólares para a ciência. De acordo
com ele, as futuras gerações precisarão cada vez mais da ciência para terem
condições de vida melhores.
(Galileu)
Nota:
Há muitas nuances sutis numa notícia como essa. Primeiramente, Kopplin não está
de todo errado em suas reivindicações. O evolucionismo é uma hipótese
científica (embora em grande parte possa ser considerado ciência histórica) e
merece ser estudado. Há aspectos desse modelo que ajudam a compreender o
funcionamento da vida e a adaptação dos seres a ela, como a seleção natural e
as mutações, por exemplo. Como fenômeno cultural, o criacionismo bíblico também
merece espaço de discussão nas salas de aula, quem sabe em aulas de filosofia
ou mesmo de religião. Mas isso dificilmente seria feito de maneira apropriada,
afinal, quantos professores realmente sabem o que é criacionismo?
Lamentavelmente, essa controvérsia é tratada de maneira muito “apaixonada” nos
Estados Unidos e vem misturada com política por lá. As declarações deselegantes
de certos religiosos norte-americanos mais exaltados (como a afirmação de que Kopplin
seria o anticristo!) apenas denigrem o cristianismo. O ideal mesmo seria
treinar os professores (e convencê-los disso) para que sejam capazes de ensinar
um evolucionismo crítico, destacando seus aspectos factuais (bastante
limitados) e suas insuficiências epistêmicas e aspectos metafísicos (como a
macroevolução e o naturalismo ontológico/filosófico). Para encerrar, uma
ponderação: Será que a mídia daria o mesmo destaque (ou abordaria o assunto de
maneira respeitosa), caso um jovem se insurgisse contra o ensino dogmático da
evolução nas escolas? Duvido muito.[MB]