O
renomado jurista Ives Gandra da Silva Martins comenta o artigo de Ayaan,
ressaltando o relato de que ao menos 24 cristãos foram mortos em uma igreja
incendiada no Egito em 2011, e que na Nigéria, no dia de Natal, dezenas de
cristãos foram assassinados ou feridos, além de outros casos de perseguição.
Confira
abaixo a íntegra do artigo “O crescimento da cristofobia”, publicado no Jornal do Brasil:
Ayaan
Hirsi Ali publicou na revista Newsweek,
de 13 de fevereiro passado, artigo fartamente documentado sobre a guerra que os
países islâmicos estão desencadeando contra os cristãos, atingindo sua
liberdade de consciência, proibindo-os de manifestarem sua fé e
assassinando quem a professa individualmente ou mediante atentados a Igrejas ou
locais onde se reúnam.
Lembra
que ao menos 24 cristãos foram mortos pelo exército egípcio, em 9 de outubro de
2011; que, no Cairo, no dia 5 de março do mesmo ano, uma igreja foi incendiada,
com inúmeros mortos; que, na Nigéria, no dia de Natal de 2011, dezenas de
cristãos foram assassinados ou feridos, e que no Paquistão, na Índia e em
outros países de minoria cristã a perseguição contra os que acreditam em Cristo
tem crescido consideravelmente. Declara a autora que “os ataques terroristas
contra cristãos na África, Oriente próximo e Ásia cresceram 309% de 2003 a
2010”. E conclui seu artigo afirmando que, no Ocidente, “em vez de criarem-se
histórias fantasiosas sobre uma pretensa ‘islamofobia’, deveriam tomar uma
posição real contra a ‘cristofobia’, que principia a se infestar no mundo
islâmico. Tolerância é para todos, exceto para os intolerantes”.
Entre
as sugestões que apresenta, está o Ocidente condicionar seu auxílio
humanitário, social e econômico a que a tolerância para com os que professam a
fé cristã seja também respeitada, como se respeita, na maioria dos países
ocidentais, a fé islâmica.
Entendo
ser o Brasil, neste particular, um país modelo. Respeitamos todos os credos,
inclusive aqueles que negam todos os credos, pois a liberdade de expressão é
cláusula pétrea na nossa Constituição. Ocorre, todavia, que as notícias sobre
esta “cristofobia islâmica” são desconhecidas no país, com notas reduzidas
sobre atentados contra os cristãos, nos principais jornais que aqui circulam.
Um homossexual agredido é manchete de qualquer jornal brasileiro. Já a morte de
dezenas de cristãos, em virtude de atos de violência planejados, como expressão
de anticristianismo, é solenemente ignorada pela imprensa.
Quando
da Hégira, em 622, Maomé lançou o movimento islâmico, que levou à invasão da
Europa em 711 com a intenção de eliminar todos os infiéis ao profeta de Alá.
Até sua expulsão de Granada – creio que em 1492 – os mulçumanos europeus foram
se adaptando à convivência com os cristãos, sendo que a filosofia árabe e
católica dos séculos 12 e 13 convergiram, fascinantemente. Filósofos de
expressão, como Tomas de Aquino, Bernardo de Claraval, Abelardo, Avicena,
Averróes, Alfa-rabi, demonstraram a possibilidade de convivência entre credos e
culturas diferentes.
Infelizmente,
aquilo que se considerava ultrapassado reaparece em atos terroristas, que não
dignificam a natureza humana e separam os homens, que deveriam unir-se na busca
de um mundo melhor. Creio que a solução apresentada por Ayaan Hirsi Ali é a
melhor forma de combater preconceitos, perseguições e atentados terroristas, ou
seja, condicionar ajuda, até mesmo humanitária, ao respeito a todos os credos
religiosos (ou à falta deles), como forma de convivência pacífica entre os
homens. É a melhor forma de não se incubarem ovos de serpentes, prodigalizando
auxílios que possam se voltar contra os benfeitores.