Muito
falatório circundou a tragédia de Newtown, mas é interessante notar que muitas
vezes a politicagem impede soluções políticas sérias e possíveis para o bem
comum. Em seu artigo “The solution to gun violence is clear” ( É óbvio ver
a solução para a violência com armas domésticas), o jornalista Fareed
Zakaria aponta aquilo que todos sabem. Ele nos relembra de que as três causas
da violência são: (1) problemas psicológicos de algumas pessoas, (2) ambiente
violento causado pela cultura popular de massa e (3) controle do porte de armas.
Ele mostra como o forte controle de armas, como ocorre na maioria dos países
industrializados, melhora a situação. O Japão, terra dos videogames violentos, registra praticamente zero homicídios. Na
Inglaterra e na Ilha de Wales, ocorrem 50 mortes por armas para cada 100 mil
pessoas, contra 1.666/1.000.000 nos EUA (97% a mais). Fareed continua
informando que os Estados Unidos possuem 5% da população mundial e 50% das
armas de proteção pessoal do globo; e tem 30 vezes mais homicídios com armas de
fogo do que a França ou a Austrália.
Ele
cita no fim de seu artigo que pouco antes da tragédia da escola de Nentown,
numa outra escola primária na província de Henan (China), um psicopata machucou
23 crianças com uma faca, sendo contido antes de fazer o pior. A diferença foi
clara: lá o psicopata não conseguiu uma semiautomática.
Pessoas
psicóticas há em todos os lugares, portanto, é impossível eliminar psicopatas
até porque muitos normais seriam tidos como tais e presos, ao passo que muitos
“normais” podem ter atitudes estranhas e violentas. A cultura violenta é um
fenômeno mundial (lamentavelmente). Ela é inevitável porque a liberdade de
expressão é intocável, por enquanto; além do fato de essa mesma liberdade ser
usada para expressar mensagens cristãs e mensagens nobres. É praxe de regimes
autoritários começarem a perseguir aqueles que trazem mensagens questionáveis,
mas juntamente perseguirem aqueles que trazem opiniões diferentes, ideias
religiosas diferentes do convencional.
Mas
nada impede os governos de controlar o porte de armas. Nada? Nada deveria, mas
aí é que entram os lobbies, os
mensalões, a deturpação da democracia que faz da Assembleia Legislativa não uma
casa de leis para o bem da população, mas um balcão de negócios que destrói as
condições de vida das pessoas e até mesmo as própria vida das pessoas; quando a
avareza e a covardia fazem com que legisladores se submetam pelo suborno a
interesses mesquinhos de empresários inescrupulosos e ávidos por lucros
exorbitantes por quaisquer meios.
O
caso norte-americano é que, explorando uma cultura individualista, num país em
que adquirir uma arma é mais fácil do que tirar carteira de motorista, a NRA (National
Rifle Association [Associação Nacional do Rifle]) e outras entidades afins
bancam todos os senadores e deputados que podem. Dinheiro eles tem para bancar
todos, mas alguns recusam ser bancados. Logo, todas as vezes que um presidente
tentar fazer tal controle terá que enfrentar a imensa bancada da bala.
Em
30 de março de 1981, foram baleados por um psicopata o então presidente Ronald
Reagan, James Brady (relações públicas de Reagan que ficou imobilizado por
causa do atentado), entre outros. Mesmo com a família Brady pressionando por
leis para controlar armas, só conseguiram uma lei bem modesta em 1994, 13 anos
depois. Aí você vê que antes de os loucos atirarem em criançinhas com uma
pistola semiautomática, outras pistolas com a ajuda de outros pistolões já
atiraram muita grana no bolso dos “fazedores” de leis.
(Sílvio Motta Costa é
professor em duas escolas na Rede Estadual e na Rede Municipal da grande São
Paulo)