Releitura enviesada da história |
“Vocês
sabem que a União Soviética saiu na frente dos Estados Unidos na corrida
espacial, com o Sputnik, porque começou a ensinar Darwin desde cedo, na
escola. Enquanto os Estados Unidos negava [sic] Darwin, inclusive tinha [sic]
um deputado, que agora me foge o nome, fez uma campanha para desconstruir o
pensamento cientifico de Darwin que, no entanto está cada vez mais vivo. Qual
foi o resultado? A União Soviética saiu na frente na corrida espacial. Logo os
Estados Unidos viu [sic] que perdeu [sic], e voltou [sic] a ensinar Darwin desde
lá nos primórdios da escola” (vereador Leonel Brizola [PSOL-RJ]). Eu, sinceramente, desconheço quem começou a propagar essa associação totalmente
desprovida de qualquer fundamento. A teoria evolutiva não tem qualquer relação
com foguetes ou façanhas espaciais. Identifiquei, no entanto, que se trata de
uma reescrita histórica aos moldes do ativismo ideológico: “Em nome desses
ideais [marxistas] sacrificou-se, muitas vezes, a objetividade científica e a
verdade histórica, criou-se, à margem da narração imparcial dos fatos, uma
anti-história e uma ‘paraciência’” (José Arthur Rios, sociólogo).
Os
Estados Unidos foram mal na corrida espacial pelo planejamento robusto, mas
cuidadoso, que, entretanto, valorizava mais a vida humana, enquanto os
soviéticos ocultavam seus acidentes e falhas. O programa americano era robusto,
mais difícil que o soviético, e isso traria benefícios apenas uma década
depois. Na verdade, a opção mais robusta resultou em fracassos simultâneos ao
sucesso soviético (Vanguard vs. Sputnik). Ambos os projetos foram
baseados nos desenvolvimentos de Wernher von Braun, um criacionista (que ironia,
não?). Essa parte é excluída da história porque existe a necessidade de o
foguete depender do ensino da evolução nas escolas, é claro.
A
realidade é que os EUA perderam miseravelmente em número de façanhas.
Enquanto os americanos contavam com seus cientistas e alemães para o
projeto espacial e nuclear, os russos contavam com seus próprios cientistas,
outros alemães e espiões em praticamente todos os projetos. Os americanos
mantinham certa vigilância sobre homens como von Braun e até mesmo Oppenheimer (diretor
do Projeto Manhattan).
Todos
os meus amigos “sovieticofilos” sabem e conhecem a surra aplicada pelos russos
que inclui (colando aqui só o que consta na Wiki) primeiro
míssil balístico intercontinental, o primeiro
satélite artificial (1957), o primeiro animal no
espaço (1957),
o primeiro homem no espaço (1961),
a primeira mulher no espaço,
a primeira caminhada no espaço,
o primeiro
veículo a entrar em órbita solar (1959), o primeiro
impacto na Lua (1959), a primeira
imagem do lado escuro da Lua (1959), o primeiro
pouso suave na Lua (1966), o primeiro
satélite artificial da Lua (1966), o primeiro
rover na Lua (1970), a primeira
estação espacial, a primeira
sonda interplanetária, entre outras coisas.
O
que você aprendeu hoje? Três coisas:
1.
Que, na verdade, essa narrativa é tendenciosa; o que houve foi uma oportunidade
de se inserir a teoria no currículo (o que é justo visto que políticos não têm
que decidir nada sobre isso).
2.
Que, ironicamente, era um criacionista o cara que liderava o projeto espacial
americano e já havia proposto em 1954 (três anos antes da Sputnik) seu trabalho
que foi rejeitado. Por fim, liderou o projeto que em 16 de julho de 1969
levou o homem à Lua.
3.
Que as características dessa narrativa”, repetida por aí, configuram ativismo
sutil, o mais persuasivo e perigoso de todos. Isso tem raízes ideológicas da
mesma natureza que o ativismo político.
(Junior D. Eskelsen, TDI Brasil)
Nota:
Quanto a outros detalhes embaraçosos da história do darwinismo, os fãs de
Darwin ficam bem quietinhos (confira). [MB]