O milípede recém-descrito (Burmanopetalum inexpectatum) visto em
âmbar (Crédito da foto: Leif Moritz)
Uma equipe de paleontólogos da
Bulgária e da Alemanha encontrou uma nova espécie de diplópode ou milípide, popularmente
conhecido como “piolho de cobra”, em âmbar de Mianmar (antiga Birmânia). Usando
as mais recentes tecnologias de pesquisa, os cientistas perceberam que não
estavam apenas manipulando o primeiro fóssil de diplópode da subordem Burmanopetalidae,
mas, especialmente, um indivíduo que, além de muito pequeno, apresentava uma
morfologia tão incomum que se desviava drasticamente de seus equivalentes
contemporâneos.[1]
Seu corpo, levemente enrolado na
forma de um S, foi preservado tão perfeitamente que surpreendeu a equipe ao
observá-lo no âmbar amarelo-limão. Os cientistas perceberam que o
artrópode era uma espécie recém-descrita de diplópode com uma morfologia tão
distinta que revisa o que os pesquisadores têm postulado sobre quando e como esses
artrópodes evoluíram. Os resultados desse novo estudo foram publicados em
2 de maio de 2019, na revista ZooKeys.[1]
Os diplopodes são uma classe de
artrópodes altamente diversificados, com mais de 11 mil espécies
descritas. Apelidada de Burmanopetalum
inexpectatum, a espécie de artrópode recém-descoberta de “99 milhões de
anos” [segundo a cronologia evolucionista], tem cerca de 8,2 milímetros de
comprimento e estava envolta em âmbar no vale de Hukawng, no estado de Kachin,
no norte de Mianmar.[2]
Imagem processada em 3D |
A fim de analisar e confirmar que o
Burmanopetalum era de fato uma novidade, os cientistas utilizaram a
microscopia de raios-x 3D para construir um modelo virtual do animal,
incluindo seu esqueleto, anatomia interna e abundância de pernas minúsculas. A
extraordinária e perfeita conservação do milípide possibilitou a observação dos
minúsculos detalhes de sua morfologia, os quais raramente são preservados em
fósseis.[1]
“Foi uma grande surpresa para nós que
esse animal não possa ser colocado na atual classificação de milípedes”, relatou
Storev.[1] As características que o diferem dos demais gêneros existentes
de Callipodida estão relacionadas ao seu tamanho diminuto (menos de 1 cm
de comprimento), olhos compostos por cinco ommatídeos (unidades formadoras
dos olhos compostos) bem separados, ausência de cerdas pleurotérgicas e
seu telson espatulado, que tem o dobro do tamanho do penúltimo anel do
corpo.[2]
Como resultado, Stoev, juntamente com
seus colegas Dr. Thomas Wesener e Leif Moritz, tiveram que revisar a
classificação atual do diplópode e introduzir uma nova subordem (Burmanopetalidea)
e uma nova família (Burmanopetalidae).
Curiosamente, o artrópode estudado
não foi o único descoberto nesse depósito âmbar específico. Pelo
contrário, foram encontradas aproximadamente 529 espécimes de diplópodes,
contudo foi o único representante da sua ordem. É por isso que os
cientistas o chamaram de Burmanopetalum
inexpectatum: “inexpectatum”
significa “inesperado” em latim, enquanto o epíteto genérico “Burmanopetalum” se refere ao país da
descoberta (Myanmar, antiga Birmânia). O âmbar birmanês provou ser uma fonte
importante de fósseis de artrópodes, contendo aproximadamente 849 espécies de artrópodes
descritos.[2]
Nota: Primeiramente,
conforme outros artigos já postados, reforço que os fósseis de âmbar são
datados com idade na casa dos “milhões de anos” em virtude da camada
estratigráfica em que são encontrados, além dos fósseis de idade nela contidos,
não sendo assim uma datação direta.
É fantástico verificar que a cada
nova espécie descoberta, especialmente as bem preservadas em âmbar, podemos
contemplar a complexidade anatômica e morfofisiológica dos indivíduos, apesar dos
supostos “milhões de anos” geralmente a eles atribuídos.
Algo que me chama muito a atenção é a
complexidade visual dos seres vivos. A nova espécie relatada apresenta olhos
compostos por cinco ommatídeos, um número bem maior que em outras. As imagens
formadas pelos omatídeos são unidas como em um mosaico. As libélulas, por
exemplo, possuem mais de 28 mil omatídeos nos olhos. Em biologia, omatídeos são
unidades formadoras dos olhos compostos de um artrópode qualquer,
com exceção dos aracnídeos, que têm olhos simples. Os omatídeos podem ir
de um pequeno número até aos milhares. São formados por um conjunto
de células fotorreceptoras rodeadas por células de suporte
(células pigmentares).
A parte exterior do omatídeo contém
uma camada transparente, denominada cristalino, que funciona como
uma lente, responsável pelo foco da imagem. A luz é transmitida às células
fotorreceptoras que a transformam num impulso nervoso. Cada omatídeo
funciona como um olho individual e possui seu nervo óptico individual.
Nesse sentido, a nova espécie, “supostamente” mais primitiva, tem um conjunto
óptico muito complexo para um ancestral.
Nesse sentido, ressalto que a visão tem
sido objeto de assombro durante toda a história, devido às suas funções
críticas. Certamente a existência de olhos compostos e completamente funcionais
em indivíduos que “antecedem” outros tem feito com que, de quando em quando,
evolucionistas pensantes questionem seriamente a base de sua origem.
Permanece o questionamento sobre a
ausência de ancestrais evolutivos que apresentem sistemas corpóreos com menor
complexidade, a fim de fundamentar os dados das árvores evolutivas dos seres
vivos, propostas pelos evolucionistas. O que percebemos é um constante
“adequamento” por parte dos evolucionistas, ora acrescentando um ancestral, ora
retirando e colocando outro, conectando indivíduos outrora separados, separando
outros anteriormente conectados.
O curioso nesse artigo é que a nova
espécie descoberta apresenta grande similaridade com as demais representantes
contemporâneas. Apesar dos “99 milhões de anos” a ela atribuídos, as variações
adaptativas não são significativas e estão dentro de um padrão aceitável e
explicável de baixas variações.
(Liziane Nunes Conrad Costa é formada em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia [UNIPAR], especialista em Morfofisiologia Animal [UFLA] e mestranda em Biociências e Saúde [UNIOESTE]. É diretora-presidente do Núcleo Cascavelense da SCB [Nuvel-SCB])
Referências:
[1] IMBLER, Sabrina. Found: A
99-Million-Year-Old Millipede, Perfectly Preserved in Amber. Atlas Obscura. May
02, 2019. Disponível em: https://www.atlasobscura.com/articles/millipede-preserved-in-amber (acesso
em 7/5/2019).
[2] STOEV, Pavel; MORITZ, Leif;
WESENER, Thomas. Dwarfs under dinosaur legs: a new millipede of the order
Callipodida (Diplopoda) from Cretaceous amber of Burma. ZooKeys, v. 841,
p. 79, 2019. doi: 10.3897/zookeys.841.34991 disponível em: https://zookeys.pensoft.net/article/34991/
(acesso em 7/5/2019).
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