
Isso porque os teens, os jovens, não namoram, “pegam”, “ficam”. Sentimento? Parece não fazer parte do vocabulário dessa geração “estilosa”, que está muito mais preocupada com o modelo do celular que chegou ao mercado do que com as pessoas, muito menos na família.
Mônica agora tem curvas, perdeu alguns quilos para entrar no tipo magricela e sensual e fazer parte do gueto. Num grupo, à la geração Malhação, muito antes do pensar em ser pessoa o sexo já entrou de mente adentro e transformou o corpo e uma vida que ainda estão por vir.
Quando a Turma da Mônica e o grupo de Luluzinha e Bolinha cresceram (de gibi infantil para linguagem teen), foram com eles a beleza da inocência nas narrativas e a ausência da maldade. (...)
Por que temos que reforçar o discurso da competição, excelência, magreza, beleza, superioridade – que já está sendo ingerido diariamente no nosso cotidiano?
Desabafo à parte, a reflexão está muito mais calçada na possibilidade de novas maneiras de expor esse tal real que vivemos. Onde deixamos de exercitar o lúdico, os sonhos, as cores primárias, a ficção, os erros e falhas do aprender a crescer e colocamos tudo isso de forma engessada na prateleira do mercado midiático como um produto à venda em prestação ou à vista.
Os “erros” do Cebolinha ao trocar o “r” pelo “l” nunca antes foram absorvidos por nenhuma criança por se identificar com essa imagem. A forma “dominadora” de Mônica em querer administrar a situação não interferiu no crescimento de muitas meninas depois das leituras. A sujeira do Cascão não foi exemplo seguido até então por ninguém a ponto de comprometer a saúde das crianças. O “comer, comer” de Magali não deixou garotas obesas por acharem tudo normal. Nenhuma mulher virou feminista porque entendeu que Luluzinha era superpoderosa sozinha e não precisava dos meninos. E os garotos não rejeitaram as meninas porque Bolinha tinha um clube só de “homens”.
Se nada disso aconteceu, o que tem a ver a evolução tecnológica com o discurso inocente dos gibis da Turma da Mônica, Luluzinha e Bolinha? Parece que adulto não gosta mesmo de falar para criança. Gosta de escrever para jovens que já pensam que são adultos.
(Teresa Leonel, socióloga e jornalista)
Logo abaixo do texto da socióloga Teresa foi postado o seguinte comentário de Ângelo de Souza, jornalista do Rio de Janeiro: “Não são adultos que não gostam de escrever para crianças, é o mercado que quer vender tudo para todos, o que só é possível quando o desejo de consumir (que passa por identificação e projeção) torna-se incontrolável, como numa criança, induzindo a uma espécie de rebeldia contra a disciplina, como num adolescente, e a gastos que só um adulto pode fazer. O melhor dos mundos, para o mercado, é habitado por pessoas com idade mental de 6, libido de 15 e a conta bancária do papai ou do vovô bem-sucedidos (e eles, também, taradões gostam de ver a Mônica cheia de curvas, quem duvida?).”