
Tive que ler esse livro em cumprimento parcial dos requisitos da disciplina de Filosofia, em meu curso de Estudos em Teologia, no Unasp. E fiquei fascinado. Não tanto pela ficção, em si (o desfecho até deixa a desejar), mas pelos diálogos habilmente construídos pelo autor.
“Jesus e Sócrates são certamente os dois homens mais influentes que já existiram, pois dão origem aos dois segmentos da civilização ocidental: a cultura bíblica (judaico-cristã) e a clássica (greco-romana)”, escreveu Kreeft logo na Introdução. Portanto, é o tipo de leitura que ajuda até mesmo a entender as bases sobre as quais nossa própria cultura está edificada.
Cristão e admirador de Sócrates, Kreeft se vale do filósofo para criticar a noção moderna de progresso, os valores da cultura ocidental e a forma como os cristãos nominais encaram o cristianismo. Se eu fosse resumir numa única frase o conteúdo da obra, seria: a razão em busca da verdade. Mas a verdade pode ser encontrada? “Sócrates” entende que sim e responde socraticamente com uma pergunta: “Se você não tem esperança de chegar, então como pode viajar esperançosamente? Não há pelo que esperar” (p. 39).
Na página 62, há o seguinte diálogo interessante:
“Bertha [colega de faculdade de “Sócrates”]: Eu apenas interpreto [a Bíblia] à luz das minhas convicções honestas.
“Sócrates: Mas você não poderia interpretar qualquer livro e quaisquer palavras de outro à luz das convicções deles em vez das suas?”
Vinte e quatro páginas adiante: “Se você escrevesse um livro para contar aos outros quais são as suas crenças, e eu o lesse e o interpretasse segundo as minhas crenças, que seriam diferentes das suas, ficaria feliz?” É exatamente isto que o Sócrates de Kreeft faz ao longo do livro: analisa as Escrituras sem preconceitos (já que ele não os tem, por ter vivido 400 anos antes de Cristo e não ter tido contato com a cultura judaica) e propõe que o leitor faça o mesmo, permitindo que elas falem por si mesmas, sem ser interpretadas.
Nessa busca pela verdade, “Sócrates” acaba tendo um “encontro” com Jesus e com o verdadeiro cristianismo que salta das páginas do Novo Testamento e que contrasta com o arremedo de cristianismo que muitos vivem atualmente.
Na página 138, outro personagem do livro cita Chesterton e diz que uma mente aberta é semelhante a uma boca aberta: só é útil se houver alguma coisa sólida para mastigar.
O livro de Kreeft estimula o pensamento e o ato de abrir a mente, mas oferece alimento sólido para ocupar o espaço. Por isso, merece ser lido.
Michelson Borges