Connelly e Crowe: Noé e esposa |
Russell
Crowe enfureceu o mundo árabe mais conservador. E o católico. E o judeu. Sua
interpretação de Noé – o “único justo” em quem Deus pôde confiar para resgatar
em Sua arca uma amostra de cada ser vivo do planeta, antes de arrasá-lo com o
dilúvio universal – está lhe rendendo críticas e censuras tanto de Estados como
de comunidades específicas que consideram que o filme ofende a sua fé. O veto
mais severo foi anunciado pelos Emirados Árabes Unidos, Catar, Bahrein e
Kuweit, que, alegando que o filme “entra em conflito”, com o islã, decidiram
não projetar o longa, estrelado também por Jennifer Connelly e Anthony Hopkins.
Egito e Jordânia estão decidindo o que fazer, mas, conforme indica o
departamento de relações públicas da Paramount Pictures, espera-se que também
cancelem a estreia, prevista para 28 de março (21 de março no Brasil). O que mais incomoda esses países é a aparição física na
tela de Noé, quando “qualquer representação de um profeta ou de seus
companheiros” é considerada haram,
ou seja, pecaminosa, como recordou a Universidade Al Azhar, do Cairo, uma das
mais importantes escolas teológicas sunitas do mundo, que recomendou a
proibição do filme. “Fazemos isso por respeito aos sentimentos religiosos não
só do islã, ele entra em conflito com muitas religiões”, afirmou, por sua vez,
o Conselho Nacional de Meios de Comunicação dos Emirados.
Nos
Estados Unidos, grupos católicos de Nova York, Washington e Nova Inglaterra
fizeram protestos diante dos cinemas que já exibem seu cartaz, porque entendem
que o filme desvirtua uma das histórias mais conhecidas da Bíblia. Alguns
judeus, para quem Noah/Noé é igualmente uma referência essencial, avaliam que
sua figura e sua relação com Deus foram tratadas de forma “frívola”, como
afirma o rabinato hassídico de Jerusalém.
O
diretor, o judeu Darren Aronofsky (de Cisne Negro e A Fonte da
Vida), defende que foi “muito respeitoso” com a história original, e que os
crentes nela encontrarão “valores”, e os ateus, “emoção”. A Paramount incluiu
uma nota no começo do filme explicando que foram tomadas “licenças artísticas”
no relato [como a inclusão de uma filha adotiva de Noé e cenas de magia], mas
esse detalhe não acalmou seus críticos.
Alheio
ao ruído, Crowe tenta ganhar espectadores de peso. Via Twitter, convidou o
papa Francisco para ver o filme, dizendo que ele provavelmente gostará de Noé “por
sua mensagem poderosa, fascinante e evocadora”. Precisou até pedir desculpas
aos gestores da conta do pontífice (@Pontifex) por tantos retuítes que recebeu.
Noé está
sendo notícia nos últimos dias porque, além da polêmica religiosa, houve uma
denúncia de Emma Watson sobre a dureza da filmagem com Aronofsky. Convencido de
que o filme deve enviar uma mensagem ambientalmente respeitosa, o diretor
proibiu a distribuição de água em garrafas plásticas aos atores, para não
poluir. Watson bebeu água de um galão, parada havia três semanas, e se
intoxicou. O diretor, então, a obrigou a atuar doente, para ter “mais
realismo”, conforme contou a Hermione de Harry Potter.
(El País)