Assas sem músculos: inúteis |
Modelos
computacionais sugerem que há uma chance de 65,2% de conseguir uma mutação bem-sucedida
dentro de uma geração. Também assume que praticamente todas as gerações irão
produzir uma mutação favorável.[1] Depois de mais 27 mutações, haveria um
órgão novo e funcional. Mas o que o conhecimento científico atual na área
de mutagênese diz a respeito da Drosophila melanogaster? A mosca-da-fruta, D. melanogaster, é um organismo modelo
genético bem estudado e altamente dócil para a compreensão dos mecanismos
moleculares de doenças humanas. Sugere-se que muitas propriedades
biológicas, fisiológicas e neurológicas básicas são compartilhadas entre a
mosca-da-fruta e os humanos. A D.
melanogaster contém aproximadamente 14 mil genes, enquanto o ser humano
possui cerca de 19 mil.[2-4] Sabe-se que 75% dos genes de doenças humanas
conhecidas têm uma correspondência com o genoma da mosca.[2, 3] Quando o genoma
total de ambas as espécies é comparado, 44% das proteínas humanas são similares
às da mosca-da-fruta.[7]
Os
geneticistas começaram a criar a mosca-da-fruta logo após a entrada do século 20,
e desde 1910, quando a primeira mutação foi relatada, mais de 3.000 mutações
têm sido identificadas.[8] Todas as mutações são prejudiciais ou inofensivas; nenhuma
delas produziu uma mosca-da-fruta mais bem-sucedida.[9] Em
2010, um estudo norte-americano acompanhou em laboratório mais de 600 gerações
de D. melanogaster, e descobriu que é
raro o surgimento de alelos incondicionalmente vantajosos por meio da seleção
natural.[10] Pesquisas têm demonstrado cada vez mais os limites do poder
seletivo desse mecanismo sobre as espécies. Entretanto, está bem estabelecida sua
influência em alterar o equilíbrio das frequências gênicas em distintas
populações.[11-13] Quando as populações se deparam com mudanças ambientais e migram
para uma nova área, por exemplo, a seleção natural favorece a combinação de
características que farão o organismo mais bem-sucedido (adaptação) nesse novo
ambiente.[9]
No
entanto, também deve ser considerado o custo de fitness (perda de aptidão/função) que a mosca-da-fruta sofre por
manter sua variedade genética ou quando há ganho de uma nova função. Em 2003, um
estudo suíço demonstrou que cada nova capacidade de aprendizagem (nova função
metabólica, por exemplo) confere um maior custo ao organismo; no caso da mosca,
esse custo seria representado por uma diminuição na capacidade competitiva de
suas larvas.[14] Outro exemplo de custo de fitness
pode ser encontrado em bactérias que passaram a metabolizar citrato na presença
de oxigênio (o que geralmente não ocorre), no entanto, essa nova função
provavelmente resultou da perda de informação genética.[15] Mais ainda:
bactérias tiveram um crescimento mais rápido e um aumento na capacidade
competitiva das cepas a custo da perda de genes por mutações deletérias, o que
resultou em diminuição de seus genomas.[16] Em termos práticos o que está sendo
sugerido é que alterar um recurso para melhor pode mudar outro para pior,
portanto, na análise do balanço, não houve diferença entre o saldo inicial e o final.
No
tocante às experiências realizadas com as moscas-da-fruta, os neodarwinistas
alegam que observaram a origem de novas espécies (especiação), considerando a
definição simplista padrão de “espécie” como sendo uma “população
reprodutivamente isolada”. Em 1974, foi realizado na Inglaterra um estudo
experimental em duas subespécies preexistentes da mesma espécie de D. melanogaster com o objetivo de
determinar se mudanças nas preferências de acasalamento poderiam ser induzidas.[17] Isso
incluiu a morte artificial de híbridos entre as cepas (um processo que não
necessariamente imita a natureza). Os resultados demonstraram que um isolamento
reprodutivo incompleto foi estabelecido. Em 1956, um estudo escocês já
havia demonstrado apenas um isolamento sexual parcial.[18]
A
mudança biológica mais evidente que o exemplo reprodutivo documentou foram
diferenças de comportamento em pequena escala em relação ao cortejo (namoro),
especificamente em mudanças na quantidade de “lambidas” e “vibração” que os
machos realizam com as fêmeas para iniciar o acasalamento.[19] Porém, tudo
o que foi observado são alterações nos comportamentos de iniciação ao namoro
(lambidas e vibrações) mudando entre as cepas. Ambas as linhagens foram “similares”
antes das experiências, e essas pequenas alterações nos comportamentos de
acasalamento se mantiveram muito semelhantes após os experimentos. Mais uma
vez, nenhuma mudança biológica significativa foi observada, e o isolamento
reprodutivo completo (por exemplo, especiação) não foi estabelecido.
Ou asas atrofiadas |
Outra
pesquisa experimental selecionou artificialmente certas características
comportamentais, mas produziram apenas “ligeiro” isolamento sexual ou “isolamento
reprodutivo incipiente”, devido a “mudanças no comportamento sexual”.[20] O artigo sugere que o completo isolamento reprodutivo
não foi encontrado: “Se a seleção para geotaxia e fototaxia sempre e
necessariamente produz uma mudança no comportamento sexual, e se a contínua
seleção pode levar a divergência sexual em qualquer lugar próximo ao
isolamento [reprodutivo] completo, só pode ser decidido por novos experimentos”.
Nesse caso, não somente o completo isolamento não foi alcançado, mas a mudança
biológica significativa também não foi atingida.[19] Além desses, podemos citar
outros estudos que não encontraram o completo isolamento reprodutivo em
espécies de moscas-da-fruta.[21, 22]
A
manipulação de genes foi mais uma tentativa de progressão evolutiva das
moscas-da-fruta a qual resultou em aspectos de monstros. A mais popular, a
partir de uma perspectiva evolucionista, foi a experiência com os genes
chamados HOX (uma abreviação de Homeobox) utilizados pelo organismo durante o
desenvolvimento embrionário. Nesse sentido, os cientistas imaginaram que seria
mais simples para a evolução operar através da mutação desses genes (isso foi
antes de os estudos recentes mostrarem que o desenvolvimento embrionário é mais
influenciado pelo DNA regulador, e não por genes). Foi então que, em 1987, um
estudo experimental observou mutações no complexo do gene Antennapedia (Antp) da
mosca-da-fruta, que resultou no crescimento de pernas na cabeça em vez de
antenas.[23] Também foi observado que mutações no gene Homeobox geraram moscas
com quatro asas.[24] As asas extras não tinham músculos e representaram peso
morto. Para Stephen Meyer, “moscas mutantes que produzem quatro asas sobrevivem
hoje apenas em um ambiente cuidadosamente controlado e somente quando
pesquisadores qualificados meticulosamente orientam seus estudos por meio de um
estágio não funcional após o outro. Essa experiência cuidadosamente controlada
não nos diz muito sobre o que mutações não direcionais podem produzir na
natureza”.[25: p. 105]
Enfim,
assim como ocorre com a D. melanogaster,
as evidências revelam o acúmulo de mutações deletérias em outros seres vivos,
levando à degeneração e à perda de informação genética em um curto espaço de
tempo.[16, 26-30] A entropia genética corrobora essas evidências ao afirmar que
há maior acumulação de mutações prejudicais do que qualquer outro
tipo, e que esse acúmulo ocorre tão rapidamente que a seleção natural não
poderia detê-lo.[31] O que não se observa é um aumento de nova informação
genética, já que para o “surgimento” de novos genes e/ou órgãos funcionais e
planos corporais seria necessário acréscimo de muita informação complexa e
específica. Assim, décadas de estudos de laboratório e de campo nas populações
selvagens sugerem que a seleção natural só atua nas variações que já existem na
população e, mesmo assim, de forma limitada. Os sobreviventes dos mais de cem
anos de torturas em laboratório ainda são apenas moscas.
(Everton Alves)
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