Um exemplo de vida |
Orlando Ritter
dedicou mais de 60 anos ao ensino e ao criacionismo, duas de suas paixões
No
modesto apartamento em que vive com a esposa Edda, em Campo Grande (MS),
Orlando Rubem Ritter ainda guarda algumas orquídeas de sua coleção que chegou a
cerca de 600 exemplares, quando morava no campus paulistano do Unasp, na casa
nº 7, que ocupou por 56 anos, enquanto lecionou e exerceu cargos administrativos
naquela instituição. Além das orquídeas, Orlando guarda também a preciosa
coleção de selos que exibe com orgulho, descrevendo em detalhes a história de
cada um. Embora o peso dos 91 anos completados neste mês esteja visível no
corpo, a mente do professor Ritter (ou “Ritão”, como muitos de seus alunos o
conheciam) continua viva, clara e prodigiosa.
Filho
do pastor e administrador Germano Ritter, Orlando nasceu em Porto Alegre (RS),
no ano de 1924. O pai valorizava muito a educação adventista e ajudou a fundar
colégios como o IAP, no Paraná, e o Iasp, em Hortolândia (SP). Por conta de sua
função na organização adventista, Germano viajava muito de trem, tendo levado o
filho em algumas dessas viagens. Não foi por acaso que Orlando se apaixonou
pelas duas coisas: educação e trens.
Em
1930, com apenas seis anos, Orlando visitou pela primeira vez o Colégio
Adventista de São Paulo, na região praticamente deserta do Capão Redondo (hoje
uma “loucura” de prédios, casas, comércio e trânsito intenso). Na época, o
“nosso Colégio” (como era mais conhecido) tinha apenas 15 anos de existência, e
o pequeno Ritter não poderia ter imaginado que viveria 67 anos naquela “ilha”
de saber e de tranquilidade – a colina de onde saíram centenas de pastores e
profissionais para servir à obra adventista no Brasil e fora dele.
Em
1932, enquanto o mundo enfrentava a crise decorrente da quebra da bolsa de
valores de Nova York, Orlando (já alfabetizado graças à leitura de livros e
revistas da Casa Publicadora Brasileira) começou seus estudos formais no
Colégio Adventista. Em certo culto jovem (na época chamados de reunião dos
Missionários Voluntários), Orlando teve a oportunidade de ver a apresentação de
um menino que lhe chamou a atenção: Siegfried Schwantes, que anos depois seria
seu professor.
Com
13 anos de idade, em março de 1938, Orlando tomou uma decisão importante: abriu
mão de férias prolongadas no Rio Grande do Sul para voltar a São Paulo e se
matricular no primeiro ano ginasial. Embarcou num trem em Cachoeira do Sul, fez
conexão em Santa Maria e chegou a São Paulo. Foi sua primeira grande viagem
sozinho. Em sua autobiografia O Professor, ele recorda: “Jamais me esquecerei
das paisagens sulistas, bem como da decisão de ter preferido a educação
adventista a um bom período de férias em minha terra natal.”
O
DESAFIO DA USP
Aluno
dedicado, Orlando prosseguiu brilhantemente na vida escolar. Seu objetivo era
concluir os estudos pré-universitários para, então, ingressar no curso de
Teologia e se tornar pastor. Mas Deus tinha outros planos para ele. Em 1943, o
diretor de Educação da União Sul-Brasileira, professor Renato Oberg, desafiou
alguns alunos de bom aproveitamento a ingressar na Universidade de São Paulo
(USP), a fim de se prepararem para ser professores no Colégio Adventista. Nevil
Gorski e Orlando aceitaram o desafio e se tornaram os primeiros professores
adventistas no Brasil com formação em universidade pública. Ambos cursaram
Matemática.
A
partir de 1944, Orlando teve que conciliar seus estudos universitários com o
magistério de matemática e física no Colégio Adventista. De um ano para o
outro, Ritter passou de aluno a professor e não mais parou de lecionar até sua
aposentadoria, no fim de 2003.
Em
1949, Orlando se casou com Edda Martinelli Balzi. A lua de mel foi no Rio de
Janeiro. E eles foram de trem a bordo do Cruzeiro do Sul, num camarote especial
reservado para viajantes ilustres. Um presente de amigos.
Na
parede do orquidário da casa nº 7 podia ser lido: “Neste lugar Deus também é
adorado / Em meio aos resplendores da natureza / Por haver ele estas joias
assim criado / Com tanto amor, com tanta beleza!” Nessa casa, Orlando e Edda
criaram seus quatro filhos.
Em
1950, Orlando começou a lecionar Astronomia e Geologia Criacionista para o
curso de Teologia. Mais tarde, essas disciplinas foram agrupadas numa só,
conhecida como Ciência e Religião. Orlando elaborou um material didático
pioneiro: as apostilas “Estudos em Ciência e Religião”. E lecionou essa matéria
por 42 anos.
Quando
subia ao púlpito, esse homem quieto e circunspecto se tornava um gigante da
oratória. Quem teve o privilégio de assistir a pelo menos uma de suas palestras
deve se recordar dos argumentos claros, da lógica impecável, do português
irretocável e da autoridade impressa em cada palavra.
PIONEIRISMO
CRIACIONISTA
A
ideia de se organizar uma entidade criacionista, no fim de 1971, está
diretamente ligada à pessoa de Orlando Ritter e à realização de uma semana
cultural organizada no ano anterior, em São Carlos, pelo pastor Leondenis
Vendramin, então distrital na cidade. Nesse evento, vários palestrantes, na
maioria professores do Colégio Adventista (então rebatizado como Instituto
Adventista de Ensino), foram convidados a expor assuntos de interesse cultural
e científico. O professor Ritter apresentou uma palestra sobre datação com
carbono radioativo. No fim de sua fala, ele indicou bibliografia crítica sobre
o assunto, fazendo menção à Creation Research Society, entidade criacionista
norte-americana, fundada havia cerca de dez anos e que vinha publicando sua
revista trimestral com artigos muito bem fundamentados.
O
impacto desse contato do professor Ritter com os futuros fundadores da
Sociedade Criacionista Brasileira (SCB) os inspirou a publicar, inicialmente,
traduções em português dos artigos daquele periódico dos Estados Unidos. “Dessa
forma, com o influxo inicial proporcionado pelo professor Ritter, e com o
subsequente apoio da Creation Research Society, que autorizou a tradução dos
artigos, foi possível estabelecer informalmente a Sociedade Criacionista
Brasileira”, conta o Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira, presidente-fundador da
SCB.
No
mês de março, por ocasião de uma celebração alusiva aos cem anos do Unasp,
Orlando Ritter foi homenageado com outras figuras importantes do criacionismo
no Brasil. No fim da tarde do sábado, dia 7, com o Salão de Atos lotado, Ritter
pegou o microfone e falou brevemente sobre a regularidade e a predizibilidade
das séries de eclipses do Sol e da Lua, por meio dos quais é possível confirmar
as datas dos reinos de Israel, Judá, Assíria e Babilônia e a própria
interpretação profética. Agradeceu a homenagem e adicionou mais uma pequena
aula às suas mais de 40 mil aulas ministradas durante sua carreira.
E
uma vez mais o “Ritão” se mostrou como o gigante que é.
(Michelson Borges,
Revista Adventista)
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