Esse
texto se propõe a estudar a relação entre as mudanças hermenêuticas avançadas
pelo protestantismo durante os séculos 16 e 17 e o surgimento da ciência
moderna. Mediante a rejeição de interpretações místicas e alegóricas da Bíblia
e a adoção de uma leitura literal, simples e racional, a ciência foi
indiretamente influenciada a abandonar propostas filosóficas e indutivas e
adotar uma linguagem mais precisa, técnica, dedutiva e matemática.
[Clique aqui e leia esse
ótimo artigo do meu colega pastor, editor e mestre em Ciências da Religião Glauber Araújo]
Nota do físico Eduardo
Lütz: Como sempre, excelente artigo do pastor Glauber. Descreve
muito bem o cenário no qual a maior parte do entulho intelectual medieval foi
removido para que se abrisse caminho para a descoberta da Ciência, bem como a
adição do princípio positivo de conferir e testar ideias. A questão de
motivação para estudar a natureza literalmente também é fundamental do ponto de
vista humano. Mas há um detalhe fundamental que não foi mencionado no artigo.
Sem esse detalhe, ainda estaríamos andando de charrete, sem eletricidade.
Coisas como o DNA seriam apenas hipóteses impossíveis de testar diretamente. Que
detalhe é esse? O fundamento funcional da Ciência, que são os métodos
matemáticos. Todos os grandes avanços no conhecimento são consequência direta
ou indireta disso. Essa é a chave que realmente abriu as portas ao conhecimento
do mundo natural e revelou maneiras mais profundas e eficientes de estudar a
própria Bíblia.
A
ideia de ler a natureza como um livro, conforme muito bem explicado no artigo,
foi um passo importantíssimo seguido por outro que completou o fundamento: para
ler o livro da natureza, é necessário aprender a linguagem na qual foi escrito,
a qual é composta de elementos matemáticos, como disse Galileu.
Esses elementos podem ser estudados na própria natureza. Foi o que Newton fez ao descobrir o Cálculo Diferencial, sem o
qual não teríamos maneiras de estudar as leis físicas com um mínimo de
profundidade, uma vez que esse estudo depende do conhecimento de equações
diferenciais, que dependem do Cálculo Diferencial e Integral.
Muitíssimas
outras estruturas matemáticas foram descobertas com o tempo, mas nada disso
seria possível sem a descoberta do Cálculo no contexto de ser uma parte
fundamental da “linguagem” com que a realidade está escrita. E a maioria dos
métodos matemáticos da Ciência são dedutivos, não apenas indutivos como os do
experimentalismo.
Lembrando
que Matemática, quando corretamente entendida, é algo transcendental
(transcende o tempo, por exemplo), sobrenatural. São esses elementos
matemáticos que Deus nos revelou por meio da natureza que representam o
fundamento e o corpo da Ciência.
Nota da bioquímica Graça Lütz: Acabei
de ler o livro The God Delusion
[Deus, um Delírio], do Richard Dawkins. Nesse livro ele constrói todo um
raciocínio bem montado para demonstrar como a religião é algo irracional e como
religiosos são impermeáveis a ciência por manterem uma fé sem evidências. Que
quando algo é absurdo, os religiosos não questionam e dizem que é uma questão
de fé e não pode ser investigado porque não está revelado. Ele acredita que
pessoas religiosas são impermeáveis ao raciocínio, atrasam e são um obstáculo
ao progresso e aos bem-estar da humanidade. O livro, do começo ao fim, cita
exemplos de coisas que cristãos dizem e fazem. O mais doloroso é que esses
exemplos são reais e são argumentos e atitudes com que nos defrontamos todos os
dias. O problema do Dawkins é que ele confunde Filosofia e raciocínio
qualitativo, observação, coleta de dados, dados estatísticos e coisas do gênero
com Ciência. Graças a isso, ele faz as perguntas erradas, que não se aplicam, e
tira conclusões equivocadas sobre Deus. Ele também avalia o que lê na Bíblia a
partir da linguagem, cultura e pensamento atuais. Lendo o livro dele, percebi
que ele teceu uma rede bem construída (não apenas por ele, pois aproveitou
ideias que já existiam também) que forma aquele escudo de pensamento que
encontramos entre os acadêmicos e que faz com que eles fiquem impermeáveis a
argumentos criacionistas. E percebi o porquê. Ele aborda praticamente todos os
argumentos criacionistas que são usados, incluindo muito do que é ouvido em
encontros e seminários criacionistas. O que ele não aborda nem entende é
justamente Matemática. E ele não entende nada de origem da vida também. Ele
quase não apresentou um argumento válido nesse sentido.