sexta-feira, novembro 20, 2009

Por que há alguma coisa em vez de nada?

“O verdadeiro problema não é ‘O que havia antes?’, mas a questão fundamental: ‘Por que há alguma coisa em vez de nada haver?’ Leibniz formulou essa questão há mais de dois séculos, e hoje não estamos mais adiantados. O físico teórico está como qualquer um de nós: confrontado com essa questão, nada sabe, não tem a primeira palavra da resposta. Portanto, nosso ponto de partida seria: ‘Há alguma coisa, há a matéria.’ A questão ‘Como surgiu essa matéria?’ é do domínio da física. A questão ‘Por que há matéria em vez de nada haver?’ cabe à metafísica. (...)

“Há uma segunda questão que, em meu entender, é tão importante quanto a primeira e se pode enunciar de modo um pouco poético dizendo: ‘Por que há música em vez de ruído?’ Isto é, por que a matéria é organizada em vez de estar sem organização? Podemos muito bem imaginar que, mesmo havendo matéria (nossa primeira questão), essa matéria nunca tenha sido organizada, tenha permanecido um magma informe. Porém, constatamos que ela se organiza, e ao longo de sua história a matéria está continuamente se organizando. Pode-se responder: a matéria organiza-se porque existem leis, forças. Evidentemente, o problema não está resolvido, só foi deslocado. Pois pode-se formular a questão: ‘Por que existem leis?’ Com efeito, sabemos muito bem que a existência das leis deduz-se justamente da observação da organização! A primeira constatação é que há organização no Universo, como prova, por exemplo, o próprio fato de estarmos aqui falando dela. Quando me escutam, há um número fantástico de reações químicas que se produzem em nossos cérebros e nos permitem enunciá-las. Pois bem, tudo isso manifesta a existência de estruturações, de organização e de leis. Quer dizer que há música. Portanto, podem-se tomar como ponto zero do conhecimento duas afirmações. A primeira: ‘Há alguma coisa em vez de nada haver? (Leibniz). A segunda: há música, em vez de ruído...”

(Hubert Reeves, “L’origine de La matière”, La Matière Aujourd’hui, p. 106, 108 – citado por Denis Lecompte, em Do Ateísmo o Retorno da Religião)

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