
Cartazes, camisetas com inscrições contra o cigarro, Clube de Desbravadores, Jovens Adventistas, Escolas Adventistas, universitários, todos unidos e mobilizados com mais 38 entidades da sociedade paranaense se prepararam para a campanha e anunciaram na mídia o “Manifesto grevista”:
“Povo de Curitiba! Os fabricantes de cigarros têm interesses óbvios em induzir a juventude ao vício. Mas é nossa obrigação defender a saúde de nossos filhos. Fumar não é um hábito normal ou elegante como sugere a propaganda. Ao contrário, é um vício antissocial e anti-higiênico. Fumar só faz bem aos que lucram com a venda de cigarros. Está na hora, portanto, de dar uma resposta aos que pensam que a população será eternamente passiva. Está na hora de fazer um protesto coletivo contra o fumo.
“Faça a greve do fumo!
“Paraná, um estado de alerta contra o fumo.”
Com certeza, essa foi a primeira, única e, talvez, última vez na história que a Igreja Adventista promoveu uma greve. As redações relutaram em ceder espaço aos grevistas. Explica-se: o ambiente nas redações da imprensa é mais poluído e nojento do que muitas das grandes cidades brasileiras. O ar é empestado pela sufocante fumaça de cigarros, charutos e cachimbos. Ali não se respeita o não-fumante. Na manhã de 29/8, o jornal O Estado do Paraná noticiava a campanha nacional contra o fumo, extravasando o projeto para além das divisas estaduais. A matéria “Pobres são os que mais fumam” encorajava as pessoas a não fumarem das 10 às 11 horas daquela manhã de sexta-feira. Vinte anos antes, uma campanha semelhante, mas não tão abrangente, havia sido desenvolvida no Rio Grande do Sul. A manchete do dia se baseava no manifesto “PARANÁ: UM ESTADO DE ALERTA CONTRA O FUMO”. Segundo a Associação Paranaense de Combate ao Fumo, criada em 6/8/1980, duzentas mil pessoas participaram da jornada.
No sábado, o mesmo jornal expunha o título “Durante uma hora a greve do fumo”. Em centenas de faixas e cartazes se liam frases contra o mau hábito do fumo. Algumas chegavam à hilaridade, ironizando slogans semelhantes das publicidades de cigarro: “Saúde: uma preferência nacional” (“Hollywood, preferência nacional”); “Saúde: para quem sabe o que quer” (“Free: para quem sabe o que quer”); “Eu gosto de levar vantagem em tudo. Leve vantagem você também. Tenha mais saúde” (“Eu gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também. Fume Vila Rica. O fino que satisfaz”, estimulava o ex-jogador de futebol Gérson, garoto-propaganda da Souza Cruz).
Entre tantas ideias, o governo proibiu e recolheu muitas faixas com sentenças irônicas, mas criativas, como “Fume o fino que satisfaz - ao câncer”, redigido pelos jovens adventistas da Igreja Central. A Revista Adventista de outubro de 1980 (p. 17, 22) noticiava que “Adventistas fazem ‘greve’ em Curitiba”, com aspas, sinal da resistência existente na época e a preocupação com qualquer sintonia aos movimentos sindicais em processo de crescimento na ocasião. Na reportagem enviada à RA, os números indicavam a coleta de 130 mil assinaturas pelos adventistas e 33 mil contatos posteriores, resultado da campanha. E a repercussão foi tão grande que a agência de publicidade P.A.Z. depois avisou que o consumo no dia da greve contra o fumo sofreu uma queda de 10 a 15%, inclusive nas compras de cigarro. Quinze dias depois, as indústrias de cigarro, extremamente apavoradas, lideradas pela Phillip Morris, recém-instalada em Curitiba, exatamente no terreno que havia pertencido ao Instituto Adventista Paranaense (IAP), colocaram modelos em trajes sumários na Boca Maldita, Rua das Flores, distribuindo cigarros de graça para ver se recuperavam o prestígio. A Phillip Morris achava que era vingança dos adventistas pela desapropriação do colégio.
(Ruben Holdorf é jornalista e professor no Unasp, campus Engenheiro Coelho)