
Ao ler a matéria do Rubem Holdorf, vieram-me à lembrança muitos dos momentos que passamos na “Primeira Greve do Fumo”, como chamávamos. Lembro-me do representante da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, na coordenação da campanha, o Dr. Jayme Zlotnik, hoje presidente da Associação Paranaense Contra o Fumo. Sua ação decidida e disposta foi importante para que a greve não morresse antes de acontecer. A pressão para que ela não ocorresse foi forte. O governo estadual havia recentemente atraído a gigante do tabagismo Phillip Morris para o Paraná. No acordo, através de financiamentos e privilégios que envolveram o Banco de Desenvolvimento do Paraná, o governo chegou a ter interesses de sócio na indústria. Mas a firmeza do Dr. Jayme Zlotnik foi vitoriosa e o governo tomou uma atitude de isenção, como se o chamamento para a greve não fosse coisa dele. E a presença da Igreja Adventista nesse movimento deve muito a ele.
Há cerca de um ano, quando a Assembleia Legislativa do Paraná estava discutindo o projeto de lei que proibiu o fumo em lugares públicos fechados, como bares e restaurantes, houve forte pressão contrária de diversos setores contra. Para contrabalançar, encontrei o Dr. Jayme Zlotnik, acompanhado da chefe da Divisão de Riscos Cardiovasculares da Secretaria de Saúde, Iludia Rosalinski, e da pneumologista Luci Bendhack, presidente da Sociedade Paranaense de Penumologia e Tisiologia, dando apoio incondicional ao deputado Artagão de Mattos Leão, relator do projeto.
Considero-o um personagem de conduta louvável. Lembro-me do Dr. jaime como um exemplo vivo de fidelidade, mesmo na vida particular e na sua crença. Por exemplo: logo depois do dia da greve, que ocorreu só em Curitiba, mas que havia alcançado seu objetivo de levantar 130 mil assinaturas pela aprovação de leis anti-fumo, a Igreja Adventista resolveu interiorizar o movimento. Fomos até o Dr. Jayme, que nos abriu todo apoio possível na época, principalmente em termos de material impresso, cartazes, folhetos, etc. Mas, nas negociações, no início de setembro, um dia ele desapareceu, procuramos por ele, mas sem sucesso. Achamos até que havia se arrependido do apoio. No dia seguinte, estava lá de novo apoiando e incentivando. Explicação: como judeu praticante, havia se recolhido para a reflexão e comemoração do Yon Kippur (Dia da Expiação). Isso ele fez num meio em que outros judeus não mais levavam tão a sério essas comemorações.
Nossa ação no interior atingiu mais de 20 cidades, onde foram feitas campanhas durante o mês de outubro, com distribuição de cartazes, até passeatas e coletas de mais assinaturas.
Não posso também deixar no esquecimento o apoio que tive de alguns líderes da Igreja Adventista. É o caso de meu chefe na então Associação Paranaense, o pastor Valdomiro Reis. Na época, ele dirigia os departamentos dos Jovens Adventistas, Comunicação e Temperança. Foi ele quem disponibilizou os recursos desses departamentos, foi o responsável pela convocação dos Desbravadores e dos Jovens Adventistas para as manifestações.
Também foi importante a carta branca que o então presidente da Associação Paranaense, pastor Davi Moroz, deu para que o projeto fosse levado adiante. Um dos pontos importantes foi a possibilidade do uso do nome da Igreja Adventista na “Greve do Fumo”.
Nosso papel foi o de ponte entre a Igreja e a Secretaria da Saúde. Numa negociação que deu excelentes resultados.
(Odailson Elmar Spada, jornalista)