Mesmo
sem nenhum inseto responsável, as formigas-correição trabalham coletivamente
para construir pontes usando o corpo a fim de se locomover pela selva. Uma nova
pesquisa norte-americana revelou as regras matemáticas simples que levam a esse
comportamento grupal complexo. Um artigo sobre as descobertas foi publicado na
revista Journal of Theorical Biology,
incluindo membros do Instituto de Tecnologia de Nova Jersei, Universidade
Harvard, Universidade de Scranton e Universidade James Madison. As
formigas-correição formam colônias com milhões de indivíduos, mas não têm casa
permanente. Elas vivem atravessando a selva todas as noites em busca de novos
locais de alimentação. Ao longo do caminho, realizam cálculos logísticos para se locomover, incluindo construir pontes
com seus próprios corpos. Os insetos gerenciam
essa coordenação sem nenhum líder e com recursos cognitivos mínimos – cada
formiga é praticamente cega e tem um cérebro minúsculo incapaz de entender esse
elaborado movimento coletivo.
Quando
formigas em marcha encontram uma lacuna no caminho, elas diminuem o passo. O
resto da colônia vem atropelando os indivíduos parados. Nesse ponto, conforme
explica um dos autores do estudo, Simon Garnier, diretor do Swarm Lab do
Instituto de Tecnologia de Nova Jersei, duas regras simples tomam lugar. A
primeira delas diz às formigas paradas que elas devem permanecer assim, afinal
de contas, outras formigas estão andando pelas suas costas. Se alguém passasse
por cima de você, você também provavelmente não se mexeria. Esse mesmo processo
se repete nas outras formigas: quando passam a primeira e se deparam com o
buraco, elas também congelam e são “pisoteadas” por insetos vindo atrás. Dessa
forma, as formigas constroem uma ponte longa o suficiente para abranger
qualquer espaço à sua frente.
O
comportamento não é tão simples assim, no entanto. Considere um obstáculo em V
na frente das formigas: elas têm a possibilidade de contorná-lo, mas percorrer
todo o caminho pode ser cansativo demais. Construir uma ponte na parte mais
larga da lacuna minimizaria a distância, só que elas nem sempre fazem isso –
podem percorrer um pedaço do caminho e criar uma ponte menor, por exemplo. Isso
sugere que algum outro fator desempenha um papel nesse cálculo inconsciente.
As
formigas presas na “ponte” não estão disponíveis para outras tarefas. A
qualquer momento em uma marcha, uma colônia pode manter 40 a 50 pontes, formadas
com uma a 50 formigas. Isso significa que até 20% da colônia pode ficar “presa”
em pontes a cada vez. Nesse ponto, uma rota mais curta não vale a pena se
muitas formigas são necessárias para criar uma ponte mais longa.
Só
que as formigas não têm ideia de quantas das suas companheiras de colônia estão
livres. E é aí que a segunda regra entra. À medida que as formigas individuais
formam pontes, elas criam uma “sensibilidade” por serem pisoteadas. Quando o
tráfego sobre suas costas diminui – talvez porque muitas outras formigas estão
ocupadas construindo outras pontes –, a formiga descongela e retorna à marcha.
Com
base nas observações dessas formigas na selva panamenha em 2014, os
pesquisadores criaram um modelo que quantifica a sensibilidade dos insetos ao
trânsito em cima deles, e prevê quando uma colônia vai superar um obstáculo e
decidir, em certo sentido, que é melhor dar a volta em vez de criar uma ponte.
A evolução aparentemente
equipou esses animais com os “algoritmos” certos para agir coletivamente da
melhor forma possível. [!!!!!!]
Muitos pesquisadores
trabalhando no desenvolvimento de robôs têm dificuldade em criar tais
algoritmos que permitirão que suas máquinas realizem feitos semelhantes. Esse estudo pode ajudá-los; de qualquer
forma, a natureza parece estar muito à frente da tecnologia nesse quesito,
cumprindo tarefas de forma mais confiável e a um menor custo.
Por
fim, é muito possível que existam mais comportamentos inexplorados envolvidos
nesse processo do que essas duas regras simples. “Descrevemos as formigas como
simples, mas nem entendemos direito o que elas estão fazendo. Sim, elas são
simples, mas talvez não sejam tão simples quanto pensamos”, opinou Melvin
Gauci, pesquisador da Universidade Harvard, que estuda robotização coletiva.
(QuantaMagazine, via Hypescience)
“Vai ter
com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio.” Provérbios 6:6
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