Os beija-flores, tão pequenos e belos, são popularmente
conhecidos como colibris, pertencem à ordem Apodiformes e à família Trochilidae. Dentro
desse grupo encontramos a menor ave conhecida: o
colibri-abelha-cubano, com menos de 2g. As espécies de beija-flor vivem
nas Américas. A maior diversidade encontrada está na região
setentrional das Cordilheiras dos Andes, com 290 espécies. No Brasil, já foram
identificadas 84 espécies. Os beija-flores não são aves sociáveis, apresentam
poucos comportamentos cooperativos conhecidos. Um deles tende
a ocorrer quando elas precisam se unir para expulsar predadores do seu
território, defendem seu espaço por meio de vocalizações e também por confrontos diretos, mesmo
quando sozinhos.
Os machos atraem as fêmeas para acasalar usando
"música", voos radicais quase indistinguíveis a olho nu e
plumagens atraentes. A interação deles ocorre principalmente
durante a reprodução, depois, a responsabilidade de construir ninhos,
incubar os ovos e cuidar dos filhotes é da fêmea.
O movimento de suas asas é tão acelerado que
nossos olhos não são capazes de acompanhá-los; por isso os biólogos comumente utilizam câmeras de
precisão, de alta velocidade, para estudá-los. Em reportagem da National Geographic Brasil (agosto/2017), ornitólogo Christopher
Clark analisou os movimentos dos colibris-abelha-cubano - as
manobras aéreas realizadas pelos machos durante o cortejo sexual, uma sequência de
movimentos que não leva mais de um segundo, estes não distinguíveis
a olho nu. Para a análise foi necessária uma
câmera de precisão, que divide cada segundo de ação em 500 quadros,
possibilitando uma observação detalhada dos movimentos aéreos.
Durante o regime nazista, os primeiros helicópteros estavam
em aperfeiçoamento. Nesse período, os beija-flores atraíram muito a
atenção dos estudiosos. O conhecimento de tal complexidade poderia
ser de grande importância para o desenvolvimento dessas
máquinas, tendo em vista a capacidade dos beija-flores de
pairar imóveis no ar por 30 segundos ou mais.
Em julho de 2014, um estudo conduzido por
David Lentink, professor assistente de engenharia mecânica em Stanford, trouxe novamente comparações
e aprofundamentos da dinâmica do voo dos beija-flores
com os helicópteros: análises quantitativas das asas dessas aves
foram realizadas, indicando que elas geram sustentação de maneira mais eficiente
que as melhores lâminas de micro-helicópteros. Tais descobertas
podem ajudar na construção de veículos robóticos ainda mais potentes e
inspirados nesses pássaros.
"Um helicóptero é realmente o dispositivo flutuante
mais eficiente que podemos construir. Os melhores beija-flores são ainda melhores,
mas acho incrível que estamos chegando perto. Não é fácil igualar o desempenho
deles, mas se nós construirmos asas melhores com melhores desempenhos, poderíamos aproximar
dos beija-flores " (LENTINK).
Boa parte das aves produz força de sustentação com o
movimento descendente das asas, o que as impele para a frente. Os
beija-flores, diferentemente, geram forças de sustentação tanto ascendente quanto descendente,
além de serem capazes de voar "de ré".
Tyson Hedrick é pesquisador da Universidade de
Carolina do Norte, especializado em biomecânica dos animais. Em uma de suas pesquisas, utilizou uma
câmera capaz de filmar mil quadros por segundo, com um equipamento de raio
X acoplado. Com isso, pôde observar os ossos das asas dos
beija-flores em movimento, percebendo que eles não se movem para cima
e para baixo com deslocamento vertical do ombro, durante o bater das
asas, mas dão pequenos giros. Eles promovem sustentação
movendo suas asas tanto para cima quanto para baixo, gerando vórtices - que são
movimentos circulares ao redor de um centro de rotação. Assim, eles
conseguem pairar e realizar manobras.
Seu cérebro equivale em média a 4,2% do peso do
corpo; proporcionalmente, é um dos maiores do reino animal. Algumas das
suas espécies são capazes de bater as asas até cem vezes por segundo. Durante
o repouso, seu batimento cardíaco é de em média 500 a 600 vezes por
minuto; quando em atividade, podem superar mil batimentos por
minuto.
De onde vem toda essa energia? 90% do seu alimento
é néctar, que confere a manutenção para um metabolismo acelerado; os
outros 10% são pólen e artrópodes, fontes de lipídios e proteínas.
Essas aves são o grupo de vertebrados com a
mais elevada taxa metabólica existente. Para repor suas energias, precisam
alimentar-se a cada 10 ou 15 minutos. Com um hipocampo grande e volumoso, eles
são capazes de lembrar a localização das flores em seu
território, além de saber quando elas estarão com boa disponibilidade
para a coleta do néctar.
Se os beija-flores tivessem o tamanho de um ser humano
de porte médio, teriam que beber uma lata de refrigerante a cada minuto
que estivessem pairando no ar, devido ao acelerado consumo de calorias durante
o voo.
Conforme o site Stanford News, períodos superiores
a 42 milhões de anos, com a ação da seleção natural, teriam "transformado"
os beija-flores nos organismos voadores mais eficientes do mundo,
especialmente pela sua capacidade de pairar no ar.
Tamanha eficiência e complexidade poderiam ser resultado
da ação de milhões de anos somados à ação da seleção natural? Esses
dois fatores atuantes tornariam possível a origem dessa
"máquina" com elevado grau de eficiência?
Macho de uma espécie de beija-flor tentando atrair a fêmea para acasalar
Referências:
GOLLER, Benny; ALTSHULER,Doug. Beleza Fugaz. Nacional Geographic Brasil
Rumo à Lua. São Paulo, Abril Print, ano 18, nº 209, agosto,2017
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Ed. Nova Fronteira S.A., Rio de
Janeiro, Brasil, 1997.
WILLIAMSON, S. A field guide to hummingbirds of North America. Houghton Mifflin Company,
Boston, NY, USA,2002.
Del HOYO,J.;ELLIOT,A.& SARGATAL, J. Handbook of the Birds of The
World. Vol. 5: Barnowls to Hummingbirds.Linxs Edicions,Barcelona,
1999.
Animal Diversity Web - ADW, Trochilidae hummingbirds.
Disponível em: http://animaldiversity.org/site/accounts/information/Trochilidae.html.
Acesso em: 08 Mai 2018
Beija-flores da Estação Experimental Cascata – Embrapa Clima Temperado / Bergmann …[et.
al.] – Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2010.
Standford News - Hummingbirds vs. helicopters:
Stanford engineers compare flight dynamics. Disponível
em: https://news.stanford.edu/news/2014/july/birds-versus-bots-073014.html.
Acesso em: 10/5/2018.
(Moema Patriota é bióloga, graduanda em MBA em Gestão Ambiental, https://www.facebook.com/polegarverde/, https://www.youtube.com/channel/UCcv3W7tpnaDR1vYO2UfBp1w)
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