
Aos poucos, a velocidade começou a diminuir e cheguei ao fim da viagem. Lá embaixo, o Fernando e alguns jovens do clube de líderes da Igreja Adventista do Riacho Grande, em São Paulo, me esperavam para, de carro, voltarmos ao morro da Pedra Bela, uma rocha escarpada que dá nome à cidade de cerca de seis mil habitantes, a 38 km de Bragança Paulista. A tirolesa foi só o “aquecimento” para os desafios que nos esperavam.

Depois de percorrer cerca de três quilômetros de estrada, voltamos a subir os mais de 200 degraus da escada que leva ao topo da Pedra Bela. Os 20 jovens de Riacho Grande, juntamente com o pastor Gerson, o Fernando e eu iríamos encarar uma tirolesa de 50 m, num paredão localizado uns 30 m à direita da tirolesa. Além da coragem, precisaríamos de força agora, já que, depois de chegar ao sopé do monte, faríamos exercícios de escalada.

Lá embaixo, descansamos um pouco, enquanto o Cassiano e o pastor Gerson posicionavam as cordas para o último desafio: a escalada. Aproveitamos para conversar um pouco sobre as atividades do clube de líderes e os privilégios de fazer parte de uma juventude tão feliz e ativa. O fisioterapeuta Ângelo Breda Filho, líder do clube do Riacho Grande, me contou como as atividades desenvolvidas por eles ajudam os jovens a crescer física, mental e espiritualmente, coisa que pude perceber no rosto e no condicionamento físico do pessoal que conversava animadamente ali naquele pedaço privilegiado da natureza.
Cordas fixadas, começamos a escalada de cerca de 25 m. Decidi não ser o primeiro a subir (nem o segundo, terceiro...). As moças e rapazes iniciaram a escalada do rochedo, de dois em dois – alguns mais ágeis, outros nem tanto. Depois de amarrada a corda de segurança em meu mosquetão, lá fui eu também. O esforço que fiz com as pernas foi enorme e nem sempre era fácil encontrar apoio para os pés e as mãos naquele paredão de mais ou menos 80 graus de inclinação. Quando havia subido uns 15 m, estava ofegante, sentia uma ligeira cãibra na perna esquerda, as mãos arranhadas e não conseguia mais encontrar apoio para os pés. Aproximei o corpo do paredão para descansar um pouco e concluí que não valia a pena prosseguir. “Já sei como é isso e experimentei o bastante para escrever o texto”, consolei-me. Avisei que iria descer, posicionei o corpo e fiz o rapel de volta ao solo. A conversa que se seguiu foi um misto de provocação e incentivo:
– Que é isso?! Vai amarelar? E, depois, vai escrever que não conseguiu subir? – atiçou o Fernando. Em seguida, ele subiu e fez bonito.
– Vai lá, Michelson! Você consegue – animaram-me alguns jovens e o Fernando, com conhecimento de causa.
Olhei para cima e mais uma vez encarei a montanha (o que a gente não faz por uma boa reportagem...). Dessa vez, resolvi ir até o fim sem parar e com passadas mais curtas, para evitar a cãibra. Deu certo. Lá embaixo, pude ouvir palmas e gritos de comemoração. Ainda bem que fui animado pelo pessoal. O gosto da vitória, da superação, é muito bom!
Recolhidas as cordas, posamos para a “foto oficial” e nos despedimos, certos de que havíamos mais uma vez experimentado o prazer de estar vivos e de pertencer a uma família que valoriza a natureza e ama seu Criador.

(Michelson Borges. Texto originalmente publicado na revista Conexão JA)
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