Criação singular |
Pesquisadores
da Universidade de Oxford (Reino Unido) identificaram uma área do cérebro
humano que parece diferente de tudo que existe nos cérebros de alguns dos
nossos parentes mais próximos [sic]. A área é conhecida por estar intimamente
envolvida em alguns dos mais avançados mecanismos de planejamento e de tomada
de decisões – características que os cientistas acreditam ser únicas dos
humanos. O professor e pesquisador Matthew Rushworth, do Departamento de
Psicologia Experimental da Universidade de Oxford, explica que o corpo
científico tende a pensar que nossa capacidade de planejar o futuro, ser
flexíveis em nosso comportamento e aprender com os outros são características
particularmente impressionantes. “Em nossa mais recente pesquisa, identificamos
uma área do cérebro que parece ser exclusivamente
humana, e é provável que ela esteja relacionada de alguma forma a esses
poderes cognitivos”, diz.
Thomas
Suddendorf, professor de Psicologia da Universidade de Queensland, na
Austrália, antes mesmo do anúncio do novo estudo, já concordava com os
pesquisadores ao afirmar que uma das características-chave que nos faz humanos
parece ser a de que podemos pensar em futuras alternativas e fazer escolhas deliberadas
em conformidade com o contexto em que estamos inseridos.
Em
um artigo para o jornal Huffington Post,
ele escreveu: “Nossas mentes geraram civilizações e tecnologias que mudaram a
face da Terra, enquanto até mesmo os animais que são nossos parentes mais
próximos [sic] ainda vivem discretamente em florestas. Parece haver grande lacuna entre a mente humana e a animal, no entanto,
tem sido notoriamente difícil entendê-la.” A recente pesquisa da
Universidade de Oxford parece dar um passo adiante nesse caminho.
Imagens
de ressonância magnética de 25 voluntários adultos foram utilizadas para
identificar os principais componentes da área do córtex frontal ventro-lateral
do cérebro humano, e como eles estão conectados com outras áreas do cérebro. Os
resultados foram, então, comparados com os dados equivalentes de exames de
ressonância magnética feitos com 25 macacos.
Essa
área específica do córtex frontal ventro-lateral do cérebro – presente apenas
em seres humanos e outros [sic] primatas – está envolvida em muitos dos
aspectos mais elevados da cognição e da linguagem humana. Algumas partes dessa
região estão ligadas a distúrbios psiquiátricos, como o transtorno do déficit
de atenção com hiperatividade (TDAH), a dependência de drogas ou distúrbios de
comportamento compulsivo. A linguagem é afetada quando outras partes são
danificadas após um derrame (AVC) ou doenças neurodegenerativas. Uma melhor
compreensão das ligações e redes neurais envolvidos deve ajudar no entendimento
das mudanças no cérebro que vão junto com essas condições.
O
professor Rushworth explica que o cérebro é um mosaico de áreas interligadas.
“Queríamos focalizar essa região muito importante da parte frontal do cérebro e
observar quantas peças desse quebra-cabeça existem e onde elas estão posicionadas”,
conta.
A
partir dos dados de ressonância magnética, os pesquisadores foram capazes de
dividir o córtex frontal ventro-lateral humano em 12 áreas. “Cada uma dessas 12
áreas tem seu próprio padrão de conexões com o resto do cérebro, uma espécie de
‘impressão digital neural’, que nos dá a pista de que ali acontece algo único”,
descreve Rushworth.
Os
pesquisadores foram capazes de comparar as 12 áreas da região no cérebro humano
com a organização do córtex pré-frontal do macaco. Em geral, as regiões se
mostram muito semelhantes: tanto que 11 das 12 áreas foram encontradas em ambas
as espécies. A forma com que as regiões estão conectadas com as demais áreas do
cérebro também é muito parecida com a organização nos humanos.
No
entanto, uma área em especial do córtex frontal ventro-lateral humano não
possui nenhum equivalente no macaco: uma área chamada de polo frontal lateral
do córtex pré-frontal. De acordo com um dos autores do estudo, Franz-Xaver
Neubert, o maior trunfo da pesquisada foi justamente descobrir uma área no
córtex frontal humano que não possui equivalente algum nos macacos. “Essa área
tem sido identificada com o planejamento estratégico e as tomadas de decisão,
bem como a habilidade que os humanos possuem de realizar diversas tarefas ao
mesmo tempo.”
O
grupo de pesquisa da Universidade de Oxford também constatou que as partes
auditivas do cérebro humano estão muito bem conectadas com o córtex
pré-frontal. No caso dos macacos, essa conexão é bem menos intensa. Os
pesquisadores sugerem que isso pode ser um ponto importantíssimo e até
determinante para a nossa capacidade de compreender e produzir discursos.
Nota:
Assim como ocorre com as semelhanças genéticas entre humanos e macacos, as
pequenas diferenças entre o cérebro humano e o de macacos fazem uma diferença
abissal. Em lugar de se deterem nas aclamadas semelhanças (que devem mesmo
existir entre animais que habitam o mesmo planeta e têm fisiologia e metabolismo
semelhantes), os pesquisadores deveriam focalizar as tremendas diferenças, como
estão fazendo na pesquisa acima. E essas diferenças – misteriosas para os
naturalistas – certamente apontam para o fato de que fomos feitos à imagem e
semelhança de Deus. Evidentemente que é por causa disso que nós, humanos, temos
outra característica única entre os seres vivos: somos naturalmente mais do que
sapiens, somos religiosos. Homo religiosus. [MB]