Fatos e lendas sobre o homem |
10. Darwin era
religioso. O cientista é talvez o mascote mais popular do
movimento ateu – sua teoria da evolução é contrária ao criacionismo, a crença
religiosa de que a humanidade e tudo no Universo são a criação de um agente
sobrenatural (Deus). No entanto, Darwin não era ateu. E, apesar ter se
declarado agnóstico durante os últimos anos de sua vida (alguém que não
acredita nem nega a possibilidade da existência de um Deus), ele mal falava sobre
suas crenças pessoais e não gostava de discutir sobre as implicações de suas
teorias em doutrinas teológicas, admitindo que sabia muito pouco sobre
religião. Quando jovem, Darwin era conhecido por ser bastante religioso. Em sua
autobiografia, ele lembrou que foi ridicularizado em uma viagem de exploração
científica por oficiais do navio da Marinha Britânica HMS Beagle por acreditar
que a Bíblia era uma autoridade final sobre a moralidade.
Embora
não fosse muito ativo nos círculos religiosos, o moço Darwin tinha uma firme
convicção de que Deus existia e de que a alma era imortal [no que estava
equivocado; confira; e leia também "Darwin diante da morte"]. Enquanto no Brasil, ele
estava tão absorto pela beleza da natureza que a proclamou como a manifestação
de um ser superior. Darwin teve dificuldade em fazer uma transição para o
agnosticismo. Quando começou a questionar a existência de Deus, ele disse que
não podia apreciar a beleza da natureza com o mesmo vigor religioso que tinha
quando era jovem, comparando a sensação como a de ser daltônico.
9. Darwin tinha gosto
por comida exótica. Darwin gostava de experimentar comidas
estranhas. Durante seu tempo na Universidade de Cambridge, ele pertencia a um
grupo de culinária chamado Glutton Club (Clube dos Glutões), cujos membros se
encontravam uma vez por semana para experimentar vários pratos “exóticos”
anteriormente desconhecidos para o paladar humano, por exemplo, a carne de
vários pássaros selvagens, como gaviões.
Quando
embarcou em sua missão no HMS Beagle, ele reacendeu seu gosto por iguarias
exóticas. Durante a viagem, Darwin foi capaz de experimentar tatus, que disse
ter gosto de pato, além de um roedor sem nome que ele descreveu como a melhor
carne que já provou. O naturalista até mesmo descobriu uma nova espécie de ave
em seu prato do jantar, que mais tarde foi nomeada em sua homenagem Rhea darwinii.
Em
Galápagos, Darwin comeu tartarugas e bebeu fluido de suas bexigas, que ele
descreveu como “bastante límpidos e com um gosto só ligeiramente amargo”. Suas
façanhas gastronômicas foram ainda mais extremas na América do Sul, onde Darwin
conta que comeu uma carne muito branca que o fez se sentir enjoado no começo,
pensando que ele estava comendo a carne de um bezerro. Logo, o cientista ficou
aliviado ao saber que estava comendo a carne de uma suçuarana, comparando o seu
gosto ao de carne de vitela.
8. As teorias de Darwin
foram usadas para defender tanto o capitalismo quanto o socialismo.
Algumas pessoas culpam as teorias de Charles Darwin pelos males do capitalismo.
Isso porque economistas logo aplicaram a ideia de seleção natural à economia e
à sociedade, dando assim origem ao darwinismo social. Os adeptos do darwinismo
social acreditam que o sucesso ou o fracasso econômico de uma pessoa é
semelhante à luta de um animal para sobreviver. Assim, eles desencorajam o
apoio do governo e atividades de caridade que ajudam os pobres, porque creem
que a espécie humana se tornará mais forte se a sociedade permitir que os
“inaptos” morram. Entre darwinistas sociais notórios estão dois dos homens mais
ricos de seu tempo, Andrew Carnegie e John Rockefeller. Embora o próprio Darwin
tenha admitido não ter uma compreensão adequada de política e economia, suas
teorias sem dúvida afetaram o crescimento do capitalismo no início do século
20. Devido a isso, a maioria das pessoas assume que a seleção natural não é bem
recebida por aqueles que se opõem a esse sistema econômico. Não é bem assim.
Charles
Darwin, na verdade, teve uma enorme influência positiva também no extremo
oposto do espectro. Enquanto os darwinistas sociais viam as teorias de Darwin
como uma forma de justificar a ganância e a opressão, Karl Marx a viu como uma
alegoria para as lutas de classes. O filósofo alemão usou A Origem das Espécies de Darwin como a base biológica do
socialismo. Conforme um organismo luta para sobreviver em um ambiente hostil, a
classe toda também deve lutar contra aqueles que a estão explorando – uma luta
de classes que Marx disse ter observado na sociedade. A influência do
naturalista em Marx foi tão grande que o famoso socialista planejava dedicar
seu livro, Das Kapital, a ele, um
gesto que Darwin respeitosamente recusou.
7. Darwin também
estudou psicologia. Durante seu tempo no Beagle, Darwin
teve o privilégio de se deparar com várias culturas ao redor do mundo. Havia
barreiras linguísticas óbvias que o impediam de se comunicar com moradores
locais, mas ele observou que as emoções que as pessoas manifestavam –
felicidade, tristeza, medo e raiva – não pareciam diferir muito de cultura para
cultura. Este seria o início da menos conhecida carreira de Charles Darwin em
psicologia, e do eventual desenvolvimento do conceito de emoções universais. Ele
se correspondeu com muitos cientistas para estudar esse fenômeno, incluindo um
médico francês chamado Guillaume Duchenne. Duchenne estudou os músculos faciais
humanos e propôs que todos os rostos humanos manifestavam até 60 tipos
diferentes de emoções. Ele é mais famoso pelas fotos que capturou de rostos
de pessoas estimuladas com choques elétricos para produzir esses 60 tipos
de emoções.
No
entanto, Darwin discordava que todas as 60 emoções eram universais. Ele
acreditava que apenas algumas delas eram comuns a todos os seres humanos. Para
testar sua hipótese, o cientista realizou um experimento utilizando 11 das
imagens de Duchenne. Em ordem aleatória, ele as mostrou uma de cada vez para 20
participantes, perguntando-lhes o que achavam. Quase todos concordaram que
algumas mostravam certas emoções como raiva, felicidade e medo. O restante das
fotos, no entanto, pareceu mais ambígua e os participantes não concordaram em
uma única emoção. Isso confirmou a teoria de Darwin de que existiam apenas
algumas emoções universais.
Ele
também se envolveu com a psicologia social. O naturalista tinha interesse no
conceito humano de compaixão. Ele acreditava que nosso senso de compaixão moral
decorria de nosso desejo natural de aliviar o sofrimento dos outros.
Coincidentemente, suas ideias sobre a compaixão eram muito semelhantes aos
ensinamentos do budismo tibetano. Recentemente, ao saber sobre os escritos de
Darwin sobre o assunto, o 14º Dalai Lama declarou: “Agora estou me chamando de
darwinista.”
6. Darwin tinha ideias
loucas sobre casamento. Darwin se casou com sua própria
prima, Emma Wedgewood. Esse fato de sua vida é bem conhecido. O que ele pensava
sobre casamento, entretanto, não é. Antes de juntar os trapos, o cientista
escreveu uma lista divertida de prós e contras sobre as facetas do casamento. Uma
parte de Darwin pensava que casar era sobre ter filhos: “Crianças – (se for do
agrado de Deus) – objeto a ser amado e com quem brincar – melhor do que um cão
de qualquer modo.”
Darwin
também gostava da ideia de uma companheira: “Meu Deus, é intolerável pensar em
gastar toda a vida como uma abelha, trabalhando, trabalhando e nada depois.
Não, não, não vou fazer isso. Imagine viver todos os dias solitariamente em uma
casa suja e nebulosa em Londres. Só imagine a si mesmo com uma boa esposa em um
sofá macio, com uma boa fogueira, e livros e música, talvez. Compare essa visão
com a realidade suja da rua Great Marlborough.”
Por
outro lado, Darwin sentia que tomar o caminho do celibato também tinha seus
benefícios: “A liberdade de ir aonde se gosta. Conversa de homens inteligentes
em clubes. Não ser forçado a visitar parentes, e se curvar em cada discussão.
Não ter a despesa e ansiedade das crianças. Perda de tempo. Não poder ler à
noite. Gordura e ociosidade. Talvez minha esposa não goste de Londres, então a
solução seria o exílio e eu pareceria um tolo.” Esses são apenas alguns dos
itens que Darwin incluiu em sua lista, que prova que ele era como qualquer
outro cara.
Eventualmente,
ele decidiu se casar com sua prima de primeiro grau Wedgewood, com quem teve dez
filhos e viveu feliz por 43 anos até sua morte, em 1882.
5. Darwin fez tratamentos
de saúde nada científicos. Embora tenha havido muitas
especulações sobre o que deixou Darwin muito doente durante o curso de sua
vida, ele não recebeu um diagnóstico preciso de sua condição até mais de cem
anos após sua morte (ele morreu de insuficiência cardíaca, e pesquisadores
especulam que tinha doença de Chagas que teria contraído aqui no
Brasil). Por causa das limitações da medicina em sua época, não havia nenhum
tratamento satisfatório para ajudá-lo a lidar com seus variados sintomas, mas o
cientista encontrou conforto em uma terapia com água muito questionável.
Em
uma carta que enviou a seu amigo íntimo, o botânico Joseph Dalton Hooker,
Darwin reclamou que vinha sofrendo de vômitos contínuos. Ele também relatou
tremores nas mãos e tontura, que presumiu ser resultantes do impacto do vômito
incessante em seu sistema nervoso. Ao ler um livro de um certo Dr. Gully sobre
uma terapia da água, o naturalista se interessou pelo tratamento, e mudou-se
com sua família para um apartamento alugado perto da clínica do especialista,
para receber cuidados.
O
Dr. Gully submeteu Darwin a vários procedimentos estranhos, como aquecê-lo com
uma lâmpada até que ele transpirasse apenas para esfregá-lo violentamente com
toalhas embebidas em água fria. Darwin também recebeu banhos frios nos pés e
teve que usar uma compressa úmida em seu estômago durante o dia todo.
Surpreendentemente, o naturalista achou o tratamento bizarro e não científico
bastante eficaz, dizendo ter visto grandes melhorias em sua saúde após o oitavo
dia de consulta com o Dr. Gully. Na mesma carta endereçada a Hooker, ele
declarou que tinha certeza de que a cura da água não era charlatanismo. Acho
que ninguém havia ouvido falar em efeito-placebo na época. [Aqui o autor do
artigo revela sua ignorância a respeito da hidroterapia. Ponto para Darwin.]
4. Darwin, o detetive
de terremotos. Pelo menos 25 grandes terremotos foram
registrados no Chile desde 1730, sendo que todos mataram milhares de pessoas.
Darwin teve a oportunidade desagradável de presenciar a consequência de um
deles – o terremoto de Concepción de 1835. Foi um tremor muito forte, com
magnitude de 8,8 na escala Richter. O terremoto demoliu toda a cidade em meros seis
segundos.
Durante
o tempo do terremoto, Darwin estava viajando com o Beagle. Quando chegou a
costa de Concepción, imediatamente começou a investigar a natureza e a origem
do tremor. Ele descreveu a devastação como “o espetáculo mais terrível e
interessante que já viu”. O cientista fez observações sobre as sequelas do
terremoto, notando que o litoral do Chile havia se tornado permanentemente
elevado, particularmente na ilha de Santa Maria, que havia crescido três metros
a partir da sua altitude de origem. Ele reuniu suas próprias observações e as combinou
com testemunhos da população local para reconstruir os acontecimentos antes e
durante o terremoto. Depois de semanas de trabalho, Darwin descobriu que o
terremoto podia ter sido causado por uma cadeia de vulcões ao longo da costa do
Chile, que entrou em erupção pouco antes de sua ocorrência.
3. Se convertendo em
cristão novamente. Durante a segunda metade do século 19,
Darwin já era bastante popular nos círculos científicos. No começo dos anos
1880, quando estava se aproximando de sua morte, uma mulher chamada Elizabeth
Hope estava apenas começando a se tornar conhecida no movimento evangelístico.
Darwin
e Hope pertenciam, obviamente, a dois mundos diferentes. Um encontro de ambos
parece muito improvável, mas um artigo de 1915 do jornal batista Boston Watchman Examiner alegou
exatamente isso. O texto detalhava como Darwin convidou a jovem Elizabeth para
visitá-lo, e supostamente confessou seu arrependimento em ter desenvolvido a
teoria da evolução. Ele teria pedido à evangelista que compartilhasse com seus
vizinhos a mensagem de Jesus Cristo e da salvação que ele traz para a
humanidade.
A
história era muito atraente para os evangélicos, é claro. Saber que a mente por
trás da teoria da evolução retratou suas próprias ideias e se converteu ao
cristianismo não só lhes dava uma forma de responder aos chamados
“evolucionistas”, como também reafirmava sua fé na história bíblica da criação.
No
entanto, a lenda desse encontro bizarro foi desmascarada tão rapidamente e
facilmente quanto se espalhou. Na autobiografia de Darwin, ele repetidamente
menciona sua dissociação com o cristianismo e conclui que o agnosticismo seria
a descrição mais correta para seu estado de espírito. Seu filho, Francis
Darwin, proclamou que seu pai manteve uma visão agnóstica no fim da sua vida
até a morte. A esposa de Darwin, que era muito religiosa e teria gostado de
vê-lo voltar ao cristianismo, nunca mencionou qualquer conversa do tipo antes
da morte do marido. Ela lembrou que suas últimas palavras foram: “Lembre-se
como você tem sido uma boa esposa para mim” e que ele não tinha “o menor medo
de morrer”.
2. As neuroses de
Darwin. Enquanto Darwin sofria de muitos males físicos,
alguns biógrafos se mostraram mais intrigados com seu estado de espírito. Em
suas cartas aos amigos, o cientista revela que sofria de pensamentos obsessivos
que, em suas próprias palavras, eram “horríveis”. Esses pensamentos, que
ocorriam principalmente durante a noite, causavam-lhe grande angústia. Em uma
carta a seu grande confidente Dr. Hooker, Darwin escreveu: “Eu não conseguia
dormir e tudo o que eu havia feito no dia me assombrava vivamente à noite com
uma repetição desgastante.”
Ele
era paranoico com o fato de que passaria sua enfermidade para os filhos. Ele
também era infinitamente crítico de sua aparência física, acreditando ser
bastante feio. O cientista precisava de constante reafirmação de outras
pessoas, além de proferir um mantra centenas de vezes para aliviar seus
pensamentos obsessivos.
O
psiquiatra e biógrafo de Darwin John Bowlby observou que o gênio não foi capaz
de lamentar corretamente a morte de sua mãe quando era jovem, o que pode ter
levado a sua neurose. Foi em face dessas dificuldades mentais que Darwin se
tornou um dos pensadores mais influentes da história.
1. O projeto mais
ambicioso de Darwin. Há 200 anos, havia uma pequena e
isolada ilha vulcânica no sul do Atlântico, a 1.600 quilômetros ao largo da
costa da África, chamada Ilha de Ascensão. Seca e sem vida, ela ficou desabitada
desde sua descoberta em 1501 até 1815, quando a Marinha Real Britânica a usou
como uma estação militar para manter um olho sobre Napoleão durante seu exílio
na vizinha Ilha Santa Helena.
Hoje,
Ascensão não é mais triste e desolada. A ilha agora possui uma paisagem
exuberante e uma população de cerca de 1.100 pessoas, graças a Darwin. Sua
viagem de cinco anos com o Beagle estava prestes a terminar quando o navio
passou por lá. A vista da ilha apocalíptica de cones vulcânicos vermelhos
brilhantes e lava negra inspirou o cientista curioso. Pouco depois de Darwin
voltar para a Inglaterra, ele e seu amigo John Hooker criaram um plano simples
para convertê-la em uma “pequena Inglaterra”.
Com
a ajuda da Marinha, os dois colheram diferentes espécies de plantas de todo o
mundo para levar para a ilha, de 1850 em diante. Na década de 1870, o pico mais
alto de Ascensão tornou-se significativamente mais verde, com eucaliptos,
pinheiros, bambus e bananeiras. Plantas que geralmente não são vistas lado a
lado em outros lugares do mundo foram vistas juntas pela primeira vez na ilha –
e resolveram o problema da falta de água no local.
Enquanto
ecossistemas geralmente se desenvolvem ao longo de milhões de anos [segundo a
cronologia evolucionista], o artificial criado por Darwin e Hooker floresceu
apenas em uma questão de décadas [e Darwin provou que certas coisas não
precisam ser tão lentas assim]. De acordo com o ecologista britânico David
Wilkinson, a Nasa poderia aprender muito com o método dos cientistas quando começar
a fazer o mesmo em Marte.
(Listverse, via
Hypescience)