Ferramentas de pedra, fogueiras e adornos recém-encontrados no
Mato Grosso e datados de quase 30 mil anos [segundo a cronologia evolucionista]
têm dado combustível a uma discussão histórica na arqueologia moderna: a data
de chegada dos seres humanos às Américas. Há diferentes teorias, desde as que
afirmam que o evento ocorreu há cerca de 12 mil anos até as que apostam em 100
mil anos ou mais [idem]. A descoberta recente foi feita no sítio arqueológico
de Santa Elina, a 80 km de Cuiabá. Os arqueólogos responsáveis pelas
escavações, Denis Vialou e Águeda Vilhena Vialou, do Museu Nacional de História
Natural da França, afirmam que essa região brasileira já era habitada há pelo
menos 27 mil anos.
“Uma prova é a presença de
mais de 300 objetos de pedra lascada, com serrilhados e retoques, que só
poderiam ter sido feitos pela mão do homem”, afirma Águeda, que
realiza escavações na região da Serra das Araras desde 1995.
Outra prova da presença humana, segundo ela, são restos de
fogueiras. O material encontrado foi datado por três métodos diferentes,
envolvendo desde radiocarbono 14 até luminescência ótica. Segundo Águeda, o
sítio de Santa Elina traz uma tripla raridade:“A primeira é que ocupações humanas
pleistocênicas (entre 2,588 milhões e 11,7 mil anos atrás) são raras e por
enquanto lá é o único local descoberto no centro do continente sul-americano.”
A segunda e a terceira raridades dizem respeito aos adornos
encontrados: alguns foram feitos com ossos de preguiças-gigantes do gênero
Glossotherium, já extinto. “É o primeiro caso no Brasil de uma perfeita
associação do homem com a megafauna extinta”, explica ela. “Há a confecção de
objetos simbólicos com ossos da megafauna, transformando-os em adornos.”
A discussão sobre a data de chegada da Humanidade às Américas
remete aos tempos de Cristóvão Colombo, quando desembarcou no Caribe em 12 de
outubro de 1492. Ele foi recebido pelos tainos, um povo amistoso, que o
navegador genovês a serviço da Espanha achou que fossem indianos, pois estava
convencido que havia chegado à Índia – e permaneceu com essa convicção até a
morte. O descobridor da América não sabia, mas sua chegada ao continente
marcou, na verdade, o reencontro de duas linhagens evolutivas do Homo sapiens, que estavam separadas havia pelo menos 50
mil anos [sic]: a sua própria, europeia, e a dos primeiros americanos,
mongoloides, aparentados com os povos asiáticos. Desde então, persiste o
mistério: Como e quando os povos encontrados por Colombo chegaram às Américas?
Teorias não faltam. A mais antiga e resistente é o modelo
conhecido em inglês como Clovis-first (Clóvis-primeiro). Deve seu nome a um
sítio arqueológico assim denominado, descoberto em 1939, no Novo México,
Estados Unidos.
No local, foram encontrados artefatos de pedra lascada, datados
de 11,4 mil anos. Segundo essa teoria, defendida principalmente pela comunidade
arqueológica americana, a chegada teria ocorrido há cerca de 12 mil anos. Já o
chamado “modelo das três migrações”, sugerido em 1983 por Christy Turner, se
baseia num amplo levantamento de diversidade dentária, que concluiu ter havido
três levas migratórias da Sibéria para a América.
A primeira, há 11 mil anos, teria dado origem a todos os índios
das Américas Central e do Sul e à maioria dos povos nativos norte-americanos. A
segunda teria chegado há 9 mil anos e originou os índios ancestrais dos Apaches
e Navajos, sobretudo na costa pacífica do Estados Unidos e Canadá. A última
seria bem mais recente, há 4 mil anos, e composta pelos ancestrais dos esquimós
e povos aleutas (no Círculo Polar Ártico). [...]
Há ainda uma terceira teoria sobre a ocupação da América. Bem
mais polêmica, ela foi proposta pela arqueóloga Niéde Guidon, com base em suas
descobertas em vários sítios arqueológicos no sul do Piauí. Para ela, o homem
chegou à região há nada menos que 100 mil anos[sic], vindo diretamente da
África, cruzando o Atlântico, numa época em que o planeta também estava num
período glacial, com o mar 120 metros abaixo de seu nível atual. [...]
Nota: Deixando de lado as hipóteses para o
povoamento das Américas (porque nem os cientistas chegam a um consenso), é interessante
notar a evidência não muito considerada de que seres humanos foram
contemporâneos da megafauna, um tipo de vida maior, mais forte e exuberante que
a atual e que alguns pesquisadores relacionam com o período antediluviano. Por enquanto
foram encontrados apenas artefatos humanos. Quem sabe quando chegará o dia em
que serão descobertos fósseis provando que o ser humano fazia parte dessa
megafauna, sendo mais forte e mais alto que seus descendentes atuais? [MB]