Em seu blog “Darwin e Deus”, no site do jornal Folha de S. Paulo, o jornalista Reinaldo José Lopes informou recentemente
que será reabilitada a obra de Pierre Teilhard de
Chardin (1881-1955), jesuíta francês que também foi paleontólogo e realizou uma
série de estudos pioneiros sobre evolução humana na China. “Desde os anos 1960,
as obras de Chardin estão marcadas com um ‘monitum’, ou advertência, da
Congregação para a Doutrina da Fé, órgão responsável pela pureza doutrinária do
catolicismo”, explica Reinaldo. “O que acontece é que diversos livros do
religioso, que analisam o fenômeno evolutivo por um prisma teológico e
religioso, fazem uma espécie de fusão ousada do cristianismo com o evolucionismo,
o que deixou parte da Igreja Católica contrariada.”
Acontece que os membros do Conselho Pontifício para a Cultura,
do Vaticano, acabaram de votar em peso em favor do fim do “monitum”, o que
significa que o pensamento e a obra de Chardin realmente poderão ser
reabilitados. “É de se esperar que o papa Francisco siga a recomendação porque
fez uma menção elogiosa ao trabalho de seu colega jesuíta em sua encíclica
ambiental, a Laudato Si”, prevê
Reinaldo.
E
assim vemos revelada claramente a posição ideológica católica evolucionista
teísta segundo a qual Deus teria Se valido de processos evolutivos para trazer
a vida à existência e ao seu estágio atual – sendo Deus, então, o criador da
cruel seleção natural, do conceito de sobrevivência do mais apto e, claro, da
morte como fator de “purificação” e seleção das formas de vida.
Ao
esposar essa ideia, o Vaticano e o papa lançam por terra o relato da criação e,
consequentemente, o santo sábado, memorial dessa criação realizada em seis dias
literais de 24 horas. Isso sem contar que comprometem também a obra redentora
de Jesus, afinal, se a história do pecado igualmente se encontra no relato
alegórico do Gênesis, o que Jesus veio fazer aqui? Por que Ele morreu na cruz
para expiar a culpa por algo que não aconteceu de fato? Por que Ele é
considerado o segundo Adão, se o primeiro nem existiu?
Eu
sua encíclica Laudato Si, o papa
Francisco dedica um capítulo à defesa do descanso dominical como uma das
possíveis soluções para o aquecimento global. Evidentemente que, para defender
um dia que não é verdadeiramente um dia de repouso, o papa precisa tirar para
escanteio o verdadeiro dia de repouso. Assim, nada mais conveniente que a
teoria da evolução para contestar o relato bíblico e relativizá-lo a tal ponto
que qualquer doutrina possa ser relida e redefinida ao bel-prazer dos teólogos
evolucionistas do Conselho Pontifício para a
Cultura.
A polarização se tornará cada vez mais evidente: de um lado
estarão o “fundamentalistas” teimosos em sua defesa da interpretação literal
dos primeiros capítulos da Bíblia e da vigência da lei de Deus (o que inclui o
quarto mandamento); de outro estarão os teólogos liberais que relativizam e
mitologizam o relato da criação, defendendo um dia de descanso criado pelo
homem.
De que lado você estará?
Michelson Borges
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