
Coutinho faz uma comparação: "Não existe almoço grátis. Mas os portugueses e restantes parceiros viveram em Marte. E acreditaram que seria possível não produzir como os alemães, mas consumir como eles. [...] Como escrevia recentemente Theodore Dalrymple no City Journal, o comportamento das massas foi promovido pela corrupção democrática dos seus líderes. Foi promovido por governos sucessivos que, alçados ao poder, alimentavam a fantasia do bolso infinito, uma forma indireta de subornarem os seus eleitorados."
E conclui: "Os gregos não foram apenas fraudulentos na forma como manipularam seus indicadores econômicos para enganar Bruxelas. A fraude grega é a fraude portuguesa, ou espanhola, ou irlandesa, ou italiana. É a fraude de professar que é possível viver continuamente acima das posses de cada um. Azar. Com a crise financeira de 2008, e a imperiosa necessidade de salvar as economias do abismo, as dívidas dispararam para a estratosfera e a Europa olhou-se no espelho pela primeira vez. Sobretudo a Europa periférica, que vivia de empréstimos para pagar empréstimos, um perfeito esquema Ponzi que aterrorizou os mercados. E agora? Antes do euro, a desvalorização da moeda era o caminho lógico para aumentar a competitividade das economias. Por outras palavras: os países empobreciam voluntariamente, mas eles continuavam a flutuar. Com o euro, a desvalorização está interdita aos países relapsos. Mas a fatura será igual: empobrecer. E, quem sabe, um dia contar aos netos que a festa foi boa enquanto durou."
Nota: O criativo título desta postagem foi sugerido pelo amigo Marco Dourado, que comentou comigo: "A Europa está enrascada: vulcão interrompendo o tráfego aéreo, o fantasma do terrorismo... E agora esse abraço coletivo de afogados por causa da moeda única, o Euro, que impede a penalização individual dos países irresponsáveis." Essa situação me fez viajar no tempo, 20 anos atrás. Na época, exatamente no dia 27 de outubro de 1990, eu havia apresentado o tema da volta de Jesus no grupo de jovens católico do qual eu ainda fazia parte. Poucos meses antes, estudando as profecias de Daniel, havia me deparado com o relato impressionante do capítulo 2, no qual a história da humanidade é esboçada por meio de uma estátua formada por partes de metais diferentes: a cabeça de ouro, que representa Babilônia; o peito e os braços de prata, símbolo dos medos e persas; o ventre de bronze, que representa a Grécia; as pernas de ferro, símbolo do Império Romano; e os pés de barro misturado com ferro (na verdade uma mistura imiscível), representando a fragmentação do Império Romano e a formação das nações da Europa que seriam em parte fortes, em parte fracas e nunca mais se reunificariam, a despeito de vários esforços históricos. Quando expliquei isso para meus amigos, muitos deles expressaram incredulidade. Estávamos em plena fase 1 da União Econômica e Monetária (UEM) e já havia ocorrido a liberalização completa dos movimentos de capitais na União Europeia. Em dezembro do ano seguinte, o Tratado de Maastricht seria assinado, instaurando a União Europeia e prevendo uma moeda única no espaço de livre circulação de capitais. O tratado entrou em vigor em 1º novembro de 1993. A unificação da Europa parecia fato consumado. E "minha" interpretação da profecia, ilusão. Saí daquela reunião um tanto frustrado, mas com a certeza de que a profecia era certa. Tanto que escrevi num papelzinho que carrego até hoje dentro de minha Bíblia de estudos: "Hoje, 27/10/90, de acordo com a profecia de Daniel 2, declaro que a Europa jamais se reunificará, como prova do iminente retorno de Jesus Cristo." O tempo passou rápido. A Europa não se reunificou; a União Soviética (sim, também sou desse tempo) caiu; e o evangelho do reino está sendo pregado em todo o mundo, como testemunho a todas as gentes, e então virá o fim (Mt 24:14). Amém![MB]