
"A grande questão envolvendo o design inteligente (DI) é a sua introdução em algumas escolas americanas durante as aulas de biologia, e não nas de religião, que, a exemplo do Brasil, não fazem parte do currículo escolar no ensino público [como a TDI poderá entrar nas aulas de religião se ela não se baseia em argumentos religiosos, nem tampouco está preocupada com a natureza do Designer? O que esta matéria de IstoÉ faz é tentar blindar o darwinismo de discussões mais aprofundadas alegando que a teoria da evolução é ciência e qualquer outra teoria que se lhe oponha é religião. Nada mais falso, conforme o simpósio da Mackenzie demonstrou: a discussão ali foi puramente científica, não religiosa]. Conceitos pseudocientíficos e ainda não aceitos pela maioria da academia, como a chamada complexidade irredutível – que sustenta que certos micro-organismos biológicos são intrincados demais para terem evoluído de formas mais simples de vida –, são usados por biólogos, químicos e filósofos da ciência integrantes do movimento DI em sala de aula como uma alternativa à teoria da evolução. Em 2005, os pais de 11 alunos de uma escola pública de Dover, no Estado da Pensilvânia, entraram na Justiça para tentar impedir o ensino do DI, alegando que, na verdade, ele seria um conceito criacionista e, portanto, religioso. Eles ganharam a disputa judicial e a teoria foi banida da disciplina na escola. [Esses pais estavam errados. DI não é religião, assim como a macroevolução darwinista não é ciência empírica.]
"O evento realizado em São Paulo nos últimos dias trouxe ao Brasil dois dos mais célebres defensores do DI nos Estados Unidos. Stephen C. Meyer, doutor em história e em filosofia da ciência, é um dos criadores do movimento e um de seus mais atuantes portavozes. Autor de três livros, entre os quais o recente Signature in the Cell (Assinatura na Célula, inédito no Brasil), ele afirma que sua missão em terras brasileiras era simples: 'Viemos para suscitar a discussão – nosso trabalho é científico, e não político ou educacional', diz Meyer, um dos membros mais atuantes do Instituto Discovery, centro de pesquisas sem fins lucrativos ligado a setores conservadores da sociedade americana. 'Como eu creio em Deus, acredito que ele é o designer inteligente. Mas existem cientistas ateus que aceitam a teoria de outras formas', completa o pesquisador. [A matéria segue citando o incensado Richard Dawkins, apelando para sua pseudo-autoridade a fim de alfinetar os teóricos do DI. Não precisava ter feito isso. Atitude dispensável...]
"Voltando ao cenário brasileiro [do qual não se deveria ter saído para visitar o ateu e ultradarwinista Dawkins], vale lembrar que o colégio Mackenzie é uma instituição particular, com origens americanas e de cunho religioso desde a sua fundação." [...] [Esse último parágrafo da reportagem foi claramente redigido para induzir o leitor a pensar que a Mackenzie também se trata de uma instituição "fundamentalista" por ter origem norte-americana. Na verdade, a universidade presbiteriana deve ser parabenizada por estar cumprindo o verdadeiro papel da Academia: possibilitar o amplo debate de ideias, o ensino do contraditório e a visão crítica de uma teoria que está longe de ser unanimidade.]
[Como me disse um amigo, com uma reportagem dessas, é de se ficar inclinado a aceitar plenamente a tese de Lakatos de que uma teoria científica aceita consensualmente pela Academia poderá ser criticada e defendida, mas apenas perifericamente, nunca no seu fundamental core. A IstoÉ pegou e destacou as declarações subjetivas de teóricos e proponentes do DI bem como suas implicações ideológicas. Nem parece que o repórter esteve no simpósio; mas, como esteve, podemos concluir que o viés de sua matéria aparentemente já estava planejado. - MB]