Obra do acaso cego ou de design? |
Todos
nós temos conhecimento de que o desenvolvimento das engrenagens foi um marco na
história da nossa engenharia. Não é mesmo? Pois bem, a partir do surgimento
dessas pequenas (ou enormes) rodas dentadas, os humanos passaram a ser capazes
de construir máquinas cada vez mais complexas. O grande trunfo desse mecanismo
é que ele permite coordenar, de um jeito bem simplificado, diferentes processos
que ocorrem ao mesmo tempo dentro de um dispositivo mecânico, e isso é apenas
um exemplo. O potencial das engrenagens é tão grande que elas são velhas
conhecidas dos inventores – a esfera de Arquimedes,
por exemplo, reproduzia os movimentos do Universo por meio de engrenagens há
mais de dois mil anos. São elas que fazem um relógio de ponteiro funcionar, e
foram elas que acabaram virando um símbolo de tudo o que remeta a fábricas ou
indústrias. Charlie Chaplin captou essa essência como ninguém e a reproduziu
com graça e brilhantismo em Tempos Modernos.
Mas
poucos sabem que as engrenagens não são uma invenção do ser humano. Muito
antes de nós a natureza já havia “notado” a eficiência e a precisão que elas
proporcionam – e, não à toa, a evolução acabou criando uma estrutura biológica
que cumpre à risca o papel das engrenagens. A mesma lógica que funciona tão bem
nas máquinas também é encontrada nas patas traseiras de um pequeno inseto
do gênero Issus. O mecanismo não deve em nada àqueles
encontrados nas bicicletas ou nas embreagens de carro.
Cada
dente, por sua vez, é arredondado para absorver o choque e evitar que as partes
se quebrem. O sistema garante total sincronia ao movimento das patas do
bichano – elas sempre se movem dentro de 30 microssegundos uma da outra.
Um microssegundo equivale a um milionésimo de segundo. Tamanha precisão é
fundamental para a sobrevivência do inseto, já que seu meio de transporte,
basicamente, se resume aos saltos poderosos que dá para se locomover. Durante o
momento crítico da propulsão, qualquer discrepância na velocidade das patas,
por menor que seja, seria o bastante para fazer com que o pequeno Issus perdesse o controle e saísse rodopiando por
aí.
De
acordo com o ponto de vista da seleção natural, ele viraria uma presa fácil
para predadores, e provavelmente sua espécie acabaria sendo extinta. “Essa
sincronia precisa seria impossível de ser atingida através de um sistema
nervoso, pois os impulsos neurais levariam tempo demais para suprir a
coordenação extrema que é exigida”, explicou Malcolm Burrows, do Departamento
de Zoologia da Universidade de Cambridge. O pesquisador liderou um estudo a respeito das engrenagens do
inseto.
Nota: E aí, o que você acha desta “lógica”? Engrenagens
feitas pelo ser humano foram obra do gênio de seus criadores, design inteligente puro; a engrenagem
encontrada na natureza, supercomplexa, finamente ajustada, com precisão de
milissegundos, é obra da evolução cega. Dá para acreditar? [MB]