Isso é igualdade? |
O deputado federal do Acre Moisés Diniz disse que o
isolamento de candidatos sabatistas - que guardam o sábado por convicção
religiosa e só trabalham ou estudam após o pôr do sol - durante as provas do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é “uma tortura”. No Acre, 538 candidatos
sabatistas se inscreveram no Enem 2016, segundo dados do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Com 3h de diferença do
Distrito Federal, os candidatos tiveram que esperar dentro de sala de oito a
nove horas para começar as provas. O exame foi aplicado nos últimos dias 5 e 6.
Diniz afirmou que a situação dos jovens adventistas no Acre é ainda pior por
conta do fuso horário. Ele lembrou que os candidatos tiveram que entrar nos
locais de provas às 10h e só começaram a fazer as provas às 18h. “Para mim,
isso é uma tortura e fere a Constituição. Com o tempo de prova, podemos dizer
que os jovens ficaram cerca de 12h confinados, sem poder se alimentar bem e
descansar o corpo. Na verdade, eles concorreram de forma desigual, pois ficam
exauridos fisicamente”, disse o deputado.
Diniz informou que deve apresentar uma proposta na
próxima semana na Câmara Federal que discipline a questão dos sabatistas, tanto
nas provas do Enem, como em concursos públicos que são realizados aos sábados. “O
Estado, mesmo sendo laico, acredito que possa respeitar essa convicção das
pessoas. No Brasil, quase 80 mil jovens adventistas realizaram o Enem em 2016.
Se formos pensar em um concurso público, cerca de 100 mil adventistas do Brasil
estão sendo privados de concursos ou estão sendo obrigados a passar por
situações tão vexatórias”, concluiu.
A líder de jovens da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Rio Branco, Nayara Lessa, disse que considera o isolamento dos sabatistas durante o Enem uma “intolerância religiosa”. Segundo ela, é preciso pensar uma forma que seja mais igualitária, já que ao começar a prova após oito horas de espera eles estão exaustos. “Consideramos uma intolerância religiosa prender um grupo de cristãos (sabatistas) em uma sala de aula por nove horas, sentados e calados para, somente após esse tempo torturante, começarem sua prova. Sim, nós fizemos essa escolha, mas consideramos um tratamento desrespeitoso a nós”, afirmou Nayara.
O agricultor Maicon Caruta, de 31 anos, participou da
prova pela terceira vez. Ele conta que levou alimentos, suco e água para passar
o tempo, mas, mesmo assim, disse que quase desistiu de fazer o exame. “Quando
deu 14h, senti um desejo imenso de desistir por causa da minha coluna que
estava doendo demais de ficar muito tempo sentado. Aí quando comecei a prova,
não tinha mais concentração, estava exausto demais para fazer quatro horas e
meia de prova. E no domingo [6], foi ainda pior porque eu estava muito cansado,
já que saí no sábado às 23h10”, contou Caruta.
O estudante André Martins, de 24 anos, disse que
desistiu de fazer o Enem neste ano devido ao tratamento que recebeu durante a
prova em 2015. Segundo ele, não vai voltar a fazer o exame até que a situação
dos sabatistas seja revista. O jovem disse que uma possibilidade seria mudar a
prova para domingo e segunda, ou os candidatos sabatistas fazerem as provas no
mesmo período dos privados de liberdade [sim, os presidiários podem fazer as provas em outro dia, os guardadores do sábado, não]. “Não tem como, por mais que você queira prestar o Enem, conseguir uma boa
pontuação, não existe preparo psicológico quando vai fazer a prova. É uma
pressão total ficar dentro de uma sala, sem poder conversar e sem poder se
mover”, disse o jovem.