Fatos detonaram a "descoberta" |
Certamente
todos se lembram da festa entre os cientistas no ano passado, quando veio à
tona o anúncio da descoberta de evidências das ondas gravitacionais
primordiais, flutuações que teriam sido causadas pela inflação cósmica, período
do Universo no qual ele teria aumentado de tamanho de forma dramática em uma
fração de segundos. A descoberta foi comemorada não só como uma evidência do
Big Bang, mas como efeito previsto por uma das hipóteses sobre os primeiros
momentos do nosso universo. Os cientistas usaram os dados do telescópio BICEP2
para medir a polarização da radiação cósmica de fundo, e esta estava de acordo
com a previsão da teoria. Faltava apenas o veredito da equipe de cientistas do
satélite Planck, que deveria confirmar a descoberta. Depois, era só esperar o
Nobel.
O
problema maior apontado na época era que o modelo da distribuição da poeira
galáctica, usado para descontar o efeito dela sobre a radiação cósmica de
fundo, poderia ser falho. A poeira interestelar também pode emitir luz
polarizada, por isso os astrônomos do BICEP2 procuraram a região que parecia
ter muito pouca luz polarizada vinda de poeira.
Entretanto,
de lá para cá, a descoberta foi ficando cada vez mais em xeque. Novos estudos
apontaram que a luz polarizada emitida por poeira interestelar poderia ser
maior do que supunham os astrônomos do BICEP2. O golpe final veio em setembro,
quando pesquisadores europeus usaram os dados do satélite Planck para mostrar
que as leituras obtidas pelo BICEP2 provavelmente eram devidas à poeira
interestelar. A confirmação veio na última semana.
O
resultado atual (não existe resultado final em ciências) é que a evidência da
inflação não era evidência. Não dá para descartar o modelo da inflação por
conta disso, mas é preciso realizar mais trabalhos para encontrar as provas
previstas por esse modelo. Agora, é voltar ao laboratório e procurar novas
evidências.
Nota:
O site Inovação Tecnológica publicou isto: “A teoria da inflação cósmica,
elaborada há cerca de 30 anos por Alan Guth e Andrei Linde, propõe que essa
fase de crescimento exponencial do Universo nas frações de segundo após o Big
Bang deixaria marcas na radiação cósmica de fundo, uma radiação de micro-ondas
presente em todo o céu e que os cientistas acreditam
ser um resquício do Big Bang. [...] O anúncio da ‘descoberta’, feito em março
do ano passado, foi saudada [sic] por algumas revistas como a ‘descoberta do
século’, mas imediatamente suscitou questionamentos de vários cientistas, que contestaram
os dados do BICEP2 alegando justamente que a polarização detectada poderia ser
devida à poeira presente na galáxia. E o ‘mico’ parece ter sido pago por uma
prática pouco condizente com o rigor científico: em sua medição, os cientistas
usaram um mapa da radiação cósmica de fundo sem nenhum detalhamento, retirado
de uma apresentação feita em um congresso.”
Note
que a própria famosa radiação de fundo é a base da crença dos cientistas de que teria havido um Big Bang. Com base
numa hipótese, supõe-se que, se o Universo se expandiu a partir de um ponto,
ele ainda estaria em expansão. Aí surgiu a segunda hipótese, fundamentada na
primeira. Mas essa também não conta com evidências conclusivas. Infelizmente,
muitas pessoas que leem sobre essas ideias ou assistem a documentários e
programas de TV creem que elas são fatuais. Quantos saberão que a tal “descoberta
do século” era falsa? Quem vai pedir desculpas pelo estardalhaço/sensacionalismo
feito na mídia?
A
conclusão da matéria acima é reveladora: “Não dá para descartar o modelo da
inflação por conta disso, mas é preciso realizar mais trabalhos para encontrar
as provas previstas por esse modelo. Agora, é voltar ao laboratório e procurar
novas evidências.” Quando a hipótese interessa aos naturalistas, mesmo que
careçam de evidências, eles trabalham em cima dela. Não a descartam e saem à
busca de novas evidências. No entanto, quando o assunto é design inteligente e/ou criacionismo, eles nem se dão ao trabalho
de analisar os argumentos. [MB]