Cientistas
anunciaram nesta quarta-feira a descoberta do que acreditam ser os mais antigos fósseis de nossa espécie, o Homo sapiens. Datados em cerca de 300 mil anos [segundo a cronologia evolucionista], os
restos desencavados no sítio de Jebel Irhoud, no Marrocos, são pelo menos 100
mil anos mais velhos que vestígios encontrados anteriormente em Omo Kibish,
Etiópia, do outro lado do continente africano, e que até agora eram as mais
antigas evidências de nossa espécie. Segundo os pesquisadores, a grande
diferença na idade e a enorme distância entre esses registros fósseis, somadas
a detalhes na sua anatomia e ferramentas de pedra lascada também achadas no
sítio marroquino podem mudar
radicalmente nossa compreensão sobre o surgimento e evolução do Homo sapiens. “Hoje somos a única
espécie humana na Terra, mas há milhares de anos havia vários grupos de
diferentes humanos espalhados pela África, Europa e Ásia”, lembra Jean-Jacques
Hublin, paleoantropólogo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária,
na Alemanha, do Collège de France, em Paris, e líder da equipe de cientistas
responsável pela descoberta, relatada em artigo publicado nesta quarta-feira na
prestigiada revista científica Nature.
“Tudo isso levanta a importante questão sobre a origem de nossa espécie e como
ela se espalhou pelo planeta.”
Até
o momento, os fósseis de Omo Kibish e outros restos muito antigos também
encontrados na Etiópia e outros países do Leste da África alimentavam a hipótese mais aceita pelos especialistas
[já falei aqui sobre o significado de consenso entre cientistas] de que o Homo sapiens evoluiu de forma
relativamente rápida nessa região aproximadamente 200 mil anos atrás, se
dispersando depois pelo continente e o resto do mundo. Os achados em Jebel
Irhoud, no entanto, indicam que essa evolução foi bem mais lenta e espalhada,
com vários grupos de Homo sapiens “arcaicos” se
desenvolvendo e interagindo pela África até adquirirem todas as características
anatômicas que distinguem os humanos modernos de outras espécies mais antigas
de nosso gênero, no que os pesquisadores defendem ser uma “origem
pan-africana” do Homo sapiens.
“Nos
últimos 20 anos, as evidências paleoantropológicas e genéticas apontavam que
o Homo sapiens surgiu há
cerca de 200 mil anos em algum lugar no Leste da África”, explica Hublin. “Nossos
resultados desafiam essa noção tanto com relação à idade quanto à localização e
condições geográficas. Este material representa a própria raiz de nossa
espécie, os mais antigos fósseis
de Homo sapiens encontrados
não só na África como em qualquer outro lugar do planeta.”
O
sítio de Jebel Irhoud não é uma novidade para os especialistas. Os primeiros
fósseis e ferramentas de pedra foram encontrados no local ainda nos anos 1960
durante operações de mineração. A interpretação na época, porém, era de que os
restos eram relativamente recentes, com aproximadamente 40 mil anos de idade,
representando uma forma antiga e africana dos neandertais, nossos “parentes”
humanos mais próximos. Mas as características morfológicas dos fósseis, com uma
mistura de traços aparentemente modernos com outros mais arcaicos, não “casava”
muito bem com essa idade presumida do sítio nem com sua classificação como
pertencentes ao Homo
neanderthalensis, intrigando alguns pesquisadores.
Diante
disso, em 2004 os cientistas liderados por Hublin lançaram um projeto para
reanalisar os fósseis originais e retomar as escavações em Jebel Irhoud, além
de refazer sua datação. O trabalho no local revelou ainda mais restos do que parecem ser ao menos cinco indivíduos,
três adultos, um adolescente e uma criança, além de mais ferramentas de pedra
lascada. E foi com essas novas peças do quebra-cabeça, aliadas a técnicas e
tecnologias mais modernas de análise e datação, que os pesquisadores chegaram a
suas conclusões potencialmente
revolucionárias sobre as origens de nossa espécie.
Hublin mostra parte de um crânio esmagado sob rochas |
Além
disso, mandíbulas e dentes em boas condições, assim como outros pedaços da
cabeça, encontrados nas novas escavações mostraram que os indivíduos tinham rostos praticamente indistinguíveis dos
humanos modernos. “São faces como de pessoas com que você cruzaria na rua
hoje”, conta o pesquisador.
A
caixa craniana dos fósseis, porém – apesar de grande e comportando um cérebro
com volume compatível com o dos humanos atuais –, ainda apresentava um formato alongado típico de espécie humanas
mais arcaicas, enquanto a nossa tem uma forma chamada “globular”. De acordo
com os cientistas, essa combinação de traços sugere que a face dos humanos modernos “evoluiu” antes de seus
cérebros, fenômeno também já observado no caso dos neandertais.
“A evolução existe, e é esta razão por que
representantes de nossa espécie de 300 mil anos atrás não são exatamente como
nós hoje”, defende Hublin. “Com esta surpreendente mistura de características
modernas e arcaicas, temos uma imagem mais complexa do surgimento de nossa
espécie, que ela demorou mais a se desenvolver até assumir a morfologia que tem
hoje. A história de nossa espécie é muito mais que só a evolução de nosso
cérebro. Há 300 mil anos, várias formas de Homo sapiens que não eram exatamente como os humanos modernos
vagavam pela África, numa dispersão que precede o desenvolvimento das nossas
características modernas. Algumas dessas populações viviam isoladas, mas
outras, por questões ambientais, se conectaram e interagiram, trocando
características e genes que, alimentados pela seleção positiva, moldaram o que
somos hoje. Dizia-se que o ‘berço da Humanidade’ era o Leste da África, mas
nosso Jardim do Éden, na verdade, é
do tamanho da África.”
(O Globo)
Nota: Não
canso de me espantar ao ver como é fácil uma história tão bem comprovada e
descrita, de repente, ser radicalmente mudada. E como ficam os livros, as
revistas e os documentários que venderam a história como fato? O
pesquisador-chefe logo deu um jeito de ser alçado à fama com uma declaração
bombástica calculada para “causar” na mídia: trata-se dos “mais antigos fósseis
de Homo sapiens encontrados
não só na África como em qualquer outro lugar do planeta”. Uau! Bem, isso até
que sejam encontrados novos fósseis (na verdade, fragmentos) mais antigos que os
obriguem a fazer uma nova edição na história. Note, também, como meras
variações no formato do crânio são interpretadas como evidências de evolução. O
que aconteceria se as pessoas da figura aí ao lado morressem e, depois de algum
tempo, seus ossos fossem encontrados, sem que se conhecesse a contemporaneidade
deles? Poderiam ser classificados como uma sequência evolutiva, dadas as
diferenças anatômicas? Ah, mas o que dizer da datação dos fósseis? Bem, foi
usada nesses fósseis do Marrocos a datação por termoluminescência, método
sabidamente sensível a variações de condição ambientais e que depende de muitas
hipóteses – mas, se for usado para “descobrir” novidades sobre a evolução,
então é cem por cento seguro! Finalmente, a revelação dos óculos conceituais
com os quais os pesquisadores do Marrocos (e todos os evolucionistas) enxergam
a realidade: “A evolução existe, e é esta razão por que representantes de nossa
espécie de 300 mil anos atrás não são exatamente como nós hoje.” Partem de uma
crença apriorística e tiram suas conclusões a partir dela. A evolução existe,
por isso esses “representantes da nossa espécie” não podem ser simplesmente
seres humanos “modernos” (de, no máximo, uns quatro mil anos atrás) com diferenças
anatômicas como as que são encontradas em pessoas que habitam o planeta hoje. E
por que não? Porque “a evolução existe”, e ponto final. [MB]
Se resquícios dessas pessoas de Botsuana fossem encontrados um dia... |
...os evolucionistas poderiam nos contar uma história como essa aí. |