Ricardo Castro |
“Tenho
35 anos, sou casado, tenho um filho e espero outro para novembro. Nasci em
Brasília, fiz minha formação em São Paulo, moro nos EUA e estou de férias no
Rio. Sou um cientista católico devoto. Não vejo contradição entre religião e
ciência, e a fé em Deus me dá inspiração para trabalhar e vencer.” Essa
declaração corajosa foi feita pelo cientista Ricardo Castro, em entrevista
concedida ao jornal O Globo (confira). É interessante notar que ela vem menos de uma semana depois da declaração de
“fé” de outro cientista, o britânico Stephen Hawking (confira). Castro é nanocientista e seu trabalho já obteve vários prêmios
internacionais, ensina e pesquisa há cinco anos e meio na Universidade da
Califórnia (UCDavis). Leia a entrevista abaixo:
O que é, mais
precisamente, nanotecnologia?
É
uma ciência que desenvolve materiais com propriedades diferentes em função do
tamanho reduzido. Fazemos interferência em átomos. Há muitas coisas por aí que
se dizem nanotecnológicas sem ser. Há uma certa moda nano. Nem tudo o que
fazemos é sexy como o marketing das indústrias gostaria.
O que você faz, na
prática?
Investigo
como atuam as interações entre átomos de um material e que alterações podemos
fazer para aperfeiçoá-lo. Toda a matéria é governada pelas interações em nível
nano. Sabemos por testes que isto ou aquilo funciona, mas não como, nem o que
acontece com as propriedades desse material. Há pouca ciência básica nessa
área, é fundamental se queremos avançar. É o que faço: tentar entender o nano e
controlá-lo.
No que você está
trabalhando no momento?
São
vários projetos, mas um dos que mais gosto está no programa Ciência Sem
Fronteiras, em que atuo com pesquisadores brasileiros e a indústria local.
Estudamos como melhorar as propriedades de um material muito usado chamado
aluminato de magnésio. É uma cerâmica cristalina e resistente, substitui o
vidro. É usada em blindagem, exploração offshore.
Hoje, é feita com cristais grandes. Se a produzimos com nano, cristais menores,
ela se torna mais resistente e transparente, só que é muito sensível ao calor.
Tentamos substituir um átomo por outro e obter um material muito melhor, mais
estável.
Fale de outros
projetos.
Meu
trabalho interessa, por exemplo, ao Departamento de Energia dos EUA porque
nosso grupo estuda materiais com aplicação nuclear, que podem ajudar a resolver
o problema do lixo atômico e tornar a atividade nuclear mais segura e com menor
custo.
Que materiais?
Um
deles é a zircônia, uma das cerâmicas mais usadas do mundo. Pode ser empregada,
por exemplo, em células de combustível. A nanozircônia é ainda mais resistente
e durável. Porém, fica instável no calor. A manipulação atômica, no entanto,
pode torná-la mais resistente às altas temperaturas e mecanicamente. A
nanozircônia é resistente à radiação, ela a captura. Em testes, fica intacta.
Por isso, é tão promissora. E, pelo mesmo motivo, minha pesquisa interessa ao
Departamento de Energia, ao Laboratório de Los Alamos e à UCDavis.
Você é um cientista
brasileiro de nível internacional. Como vê a ciência no Brasil?
O
Brasil forma excelentes cientistas e produz ciência de boa qualidade. Fiz toda
a minha formação aqui e consegui reconhecimento lá fora. Mas a ciência
brasileira precisa se abrir mais, precisa se internacionalizar. Necessita de
uma estrutura mais ágil, motivadora, produtiva, competitiva. O pesquisador
brasileiro é muito menos competitivo que o americano, por exemplo. O brasileiro
tem grandes qualidades, é adaptável e criativo. Todavia, falta a ele autoestima
quando no exterior. E mais foco em resultado.