A
capa da revista Veja desta semana é
um retrato perfeito dos tempos em que vivemos, de uma geração definida pela indefinição, como bem definiu o amigo Odailson Fonseca. O
título interno da matéria é “Amigues para sempre”, numa referência ao tal “gênero
neutro”, que faz com que certas palavras terminem em “e” para suprimir os “a” e
“o”, relacionados a mulher e homem. O texto diz que, “se voltassem hoje ao
mundo dos vivos, o escritor Álvares de Azevedo, o poeta Manuel Bandeira e o ex-presidente
Floriano Peixoto estranhariam muitas coisas. E uma delas seria o cabeçalho da
prova de biologia aplicada no ano passado no colégio em que eles estudaram, o
Pedro II, no Rio de Janeiro, o terceiro mais antigo em atividade no Brasil. Ao
lado do campo a ser preenchido com o nome de cada estudante, a prova trazia a
palavra alunx, em vez de ‘aluno’ ou ‘aluna’. Todos na classe conheciam o
significado daquele xis. Em mensagens trocadas nas redes sociais, jovens e
adolescentes usam a letra, assim como o ‘e’, para suprimir a identificação
masculina ou feminina em palavras como ‘amigx’ ou ‘queridx’ – na versão com ‘e’,
mais pronunciável, ‘amigue’ ou ‘queride’. É o chamado gênero neutro, utilizado
basicamente em duas situações: a pedido, quando o outro diz que quer ser
tratado assim, ou por iniciativa de quem escreve – e prefere não cravar se o
destinatário é homem, mulher, e assim por diante.”
Por
que “assim por diante”? Porque não são mais apenas dois gêneros, atualmente. “No
Brasil, o Facebook acrescentou, em março passado, no espaço destinado à
identificação do usuário, dezessete novas opções de gênero, além do masculino e
feminino. Nos Estados Unidos são mais de cinquenta. A lista inclui cross gender, sem gênero e ainda uma
alternativa para personalizar a resposta”, informa a Veja.
Mencionando
dados de um levantamento da agência de publicidade J. Walter Thompson, a
matéria dá conta de que 76% dos jovens brasileiros não dão importância à
orientação sexual dos outros e 82% concordam que as pessoas devem explorar mais
a própria sexualidade. Outra pesquisa, coordenada pela psicóloga Luciana Mutti,
em Porto Alegre, revelou que 20% dos adolescentes entrevistados já haviam tido
relações com pessoas de ambos os sexos.
Veja
explica que, para a chamada geração Z, a sexualidade é fluida e as preferências
nessa área podem mudar ao longo da vida. “Um indivíduo do sexo masculino, por
exemplo, pode passar boa parte da existência sentindo-se atraído por outros
indivíduos do sexo masculino e mais tarde mudar de ideia – o que não
necessariamente quer dizer que começará a gostar de mulheres.”
Embora
essas mudanças sociais assustem pela velocidade com que vêm se processando, a
gênese delas é algo que vem lá de trás na História. Na verdade, este cenário
atual só foi possível porque a corrosão de certos paradigmas e valores e de uma
cosmovisão vem ocorrendo há muito tempo. Os pilares da tradição judaico-cristã
tiveram que ser chutados (ou reinterpretados por cristãos liberais) a fim de
que se pudesse defender a ideia de que gênero é, antes de tudo, uma construção
social, não uma criação de Deus. A Bíblia deixa bem claro no primeiro capítulo
de seu primeiro livro (o Gênesis) que um casal é composto por um homem e uma
mulher, e que o casamento é a união íntima desses dois seres diferentes numa
relação heterossexual monogâmica e de fidelidade.
O
abandono da cosmovisão criacionista, inclusive por parte de muitos cristãos,
levou a este estado de coisas. A mitologização do relato da criação tornou tudo
“fluido” (a la Bauman). Relativizou
tudo e tornou válido o vale-tudo. É o mundo das certezas incertas; dos
fundamentos de areia movediça. Aonde vamos parar com essa perda de referenciais
absolutos? Alguma sociedade pode sobreviver assim?
O
curioso é que, embora preguem a tolerância, os defensores dos múltiplos gêneros
não toleram críticas. E a chamada da capa da Veja desta semana é prova disso. Ela diz, embaixo da palavra
vendável em letras garrafais “Sexo”: “Na revolução de costumes da geração z,
eles e elas se dizem ‘neutros’ e ‘a sexualidade é fluida’... E você não tem
nada com isso!”
Então
só me resta aceitar tudo? Não posso nem dar minha opinião? Não tenho nada com a
vida dos outros, mas eles podem criticar minha religião e me chamar de
fundamentalista porque sou criacionista e defendo o casamento heterossexual? Que
tolerância é essa que só tem uma via de mão única? A sociedade do “livre pensar” não quer que eu pense diferentemente do zeitgeist reinante!
É
claro que o assunto é muito mais complexo do que isso. É claro que nascem
pessoas geneticamente pertencentes a um gênero, mas que possuem características
físicas de outro. É claro que há homens e mulheres que, por uma série de
fatores e motivos, acabam tendo ou desenvolvendo atração por pessoas do mesmo
sexo. Mas daí a dizer que tudo isso é normal e proibir essas pessoas de buscar
uma solução que não passe pela simples aceitação do “fato”, é muita
intolerância.
O
cristão não pode e não deve ser homofóbico, porque não pode e não deve
hostilizar qualquer tipo de pessoa. O cristão não pode e não deve forçar
ninguém a nada e precisa respeitar a decisão dos outros, já que o próprio Deus
os respeita. Só não me venham dizer que eu não tenho nada a ver com esse
assunto! Só não me venham empurrar para o gueto dos ditos preconceituosos
(coisa que não sou) nem me amordaçar, porque, quando isso acontecer (e,
infelizmente, vai), aí teremos perdido todos os traços de civilidade e teremos
nos transformado numa nova Sodoma, com pessoas se entregando às suas paixões e
desejos desenfreados, com o apoio da mídia e das autoridades – se é que elas
ainda terão alguma autoridade.
Não sei se Julian Huxley disse isto mesmo, mas a frase é mais do que verdadeira: “A razão de nos lançarmos sobre a Origem das Espécies é que a ideia de Deus interfere com nossos hábitos sexuais.”
Não sei se Julian Huxley disse isto mesmo, mas a frase é mais do que verdadeira: “A razão de nos lançarmos sobre a Origem das Espécies é que a ideia de Deus interfere com nossos hábitos sexuais.”
O
mundo se tornou complexo. Estamos cortando o galho em que estamos sentados. Sem
fundamentos, as paredes caem. Daqui a pouco, só sobrarão os escombros de uma
sociedade perdida; de um mundo sem rumo.
Lamento
lhes dizer, “amigues”, mas isso não será para sempre...
Michelson Borges