Mais um mito darwinista |
Darwinistas
frequentemente utilizam os peixes dipnoicos, ou seja, peixes ósseos portadores
de bexiga natatória como um exemplo do suposto “fato” de que esse órgão
originalmente projetado para uma finalidade (flutuação) poderia ser convertido em
outro órgão para uma finalidade completamente diferente (respiração).[1] Portanto,
de acordo com a visão darwinista, o sistema respiratório humano nada mais é do
que uma bexiga natatória avançada que foi otimizada por meio da seleção natural
e de mutações genéticas. A alegação é de que Darwin pôs um fim à questão ao
mostrar a possibilidade de que as bexigas natatórias pudessem se transformar em
pulmões em anfíbios (a propósito, não demonstrado por fósseis), evoluindo
posteriormente para pulmões de répteis, de aves e de mamíferos (especialmente
os pulmões de humanos).
A
estória começa da seguinte forma: peixes precisavam de um ambiente mais
eficiente para atender ao aumento da demanda de oxigênio. Para isso, eles
inicialmente passaram a se concentrar perto da superfície da água (a propósito,
estando expostos à predação). Então, a partir das brânquias, a evolução deu
origem à bexiga natatória, que depois supostamente teria resultado nos pulmões.
Mas a estória não para por aí, podendo ser encontrada na maioria dos livros
didáticos:
“Perto
do fim do Devoniano [supostamente mais de 250 milhões de anos atrás], uma das
linhagens de peixes barbatanas-lobo conseguiu se mover para a terra. As
barbatanas desses animais, já grossas e musculosas, foram talvez adaptadas para
se mover lentamente através de águas rasas e vegetação aquática espessas; seus
antepassados já haviam começado há muito tempo antes a contar com a respiração
do ar, assim como muitos peixes que vivem em águas estagnadas hoje. [...]
Quarenta milhões de anos após as incursões pioneiras de plantas, a invasão dos
vertebrados de terra estava em curso.”[2: p. 559]
O
naturalista britânico Charles Darwin observou e descreveu da seguinte forma a suposta
evolução das estruturas especializadas que participam da respiração dos peixes:
“Dois
órgãos distintos por vezes realizam simultaneamente a mesma função no mesmo
indivíduo; para dar um exemplo, há peixes com guelras ou brânquias que respiram
o ar dissolvido na água, ao mesmo tempo que respiram o ar livre nas suas
bexigas natatórias, sendo este último órgão munido de um ductus pneumaticus para seu
abastecimento, dividindo-se em partições vasculares. [...] Nesses casos, um dos
dois órgãos poder-se-ia modificar e aperfeiçoar facilmente, de maneira a
realizar por si todo o trabalho, sendo auxiliado durante o processo de
modificação pelo outro órgão; e então esse outro órgão poderia ser modificado
para outra finalidade completamente distinta, ou poderia ser completamente
eliminado.”[1: p. 147]
Bela
especulação! Porém, o que Darwin não sabia é que o oxigênio entra na bexiga
natatória dos peixes pelo sangue em vez de por uma traqueia.[3] Somente
décadas mais tarde é que se descobriu que “o transporte ativo de oxigênio na
bexiga natatória pela glândula gás é um transporte de oxigênio molecular”.[4:
p. 521] Portanto, tudo aponta para um sistema irredutivelmente complexo. Como
bem observaram Brauner e colaboradores, “a transição da respiração aquática
para a aérea está associada a mudanças fisiológicas dramáticas em
relação à troca gasosa, regulação iônica, equilíbrio ácido-base e excreção de
resíduos nitrogenados”.[5: p. 1.433]
Após
mais de um século, essa hipótese ainda hoje apresenta muitos obstáculos. Se não
bastasse, como resolver mais uma situação nitidamente irônica: o peixe iria
sufocar se estivesse exposto ao ar durante longos períodos.[3] Isso porque
a concentração de oxigênio dissolvido em água é de cerca de um trigésimo em
relação ao ar.[6: p. 284] Mas, mesmo com esse aumento de oxigênio, um
peixe iria rapidamente asfixiar se fosse levado para fora da água, embora
estivesse em um ambiente com aumento de oxigênio. Brânquias são
inoperáveis em ambientes secos, e líquidos destroem fisicamente os alvéolos
nos pulmões.[6: p. 284]
Mas,
então, qual seria a evidência que Darwin possuía para afirmar a transmutação de
um órgão em outro? Bem, nenhuma! Darwin alegou que todos os fisiologistas da
época admitiam que “a bexiga-natatória é homóloga, ou ‘idealmente semelhante’ em
posição e estrutura, aos pulmões dos animais vertebrados superiores”.[1: p. 148]
Para ele, então, a homologia seria suficiente para acreditar que a seleção
natural converteu efetivamente uma bexiga-natatória em um pulmão, ou um órgão
exclusivamente usado para respirar. Porém, como afirma o biólogo molecular Dr.
Michael Denton, “os fundamentos evolutivos da homologia ficam mais severamente
abalados com a descoberta de que essas estruturas, aparentemente homólogas, estão
determinadas por genes diferentes nas espécies distintas”.[7: p. 149]
Como
bem descreveu Darwin, os peixes dipnoicos (a piramboia, por exemplo) possuem um
duplo sistema para respiração. Além de guelras, eles têm a bexiga natatória
(pulmão), sendo essa característica a que tem levado os darwinistas a verem
nele um vínculo entre os anfíbios e os peixes. Mas teriam esses peixes realmente
alguma ligação com os anfíbios que supostamente deram origem aos vertebrados
terrestres? A resposta é não! Primeiro, porque os peixes dipnoicos fazem parte
de um grupo totalmente separado.[8: p. 65] Segundo, porque os ossos de seu
crânio diferem dos ossos dos primeiros anfíbios fósseis encontrados.[9: p. 137]
E, por último, porque os próprios paleontologistas evolucionistas assumem que “a
origem das principais características de tetrápodes [anfíbios] permaneceu
obscura por falta de fósseis que documentem a sequência das mudanças evolutivas”.[10:
p. 757]
Até
pouco tempo atrás, por exemplo, era “fato” que os anfíbios tinham evoluído do peixe
celacanto, que possui nadadeiras lobadas (isto
é, com projeções ósseas robustas) e uma bexiga natatória cheia de óleo. Porém, novas
análises filogenéticas estão fazendo um verdadeiro estrago na classificação
taxonômica evolutiva baseada em aspectos morfológicos. Atualmente, os peixes
com bexigas natatórias têm sido considerados mais intimamente relacionados com
os mamíferos do que com o próprio celacanto.[11] Contudo, não podemos nos
esquecer de que peixes com bexiga natatória (pulmonados) têm tamanho do genoma aproximado
de 133 bilhões de pares de bases, enquanto os seres humanos têm um tamanho
de genoma de cerca de 3,5 bilhões de pares de bases.[12] Na melhor das
hipóteses, baseado puramente em tamanho do genoma, poderíamos dizer que o ser
humano compartilha uma similaridade de apenas três por cento com os peixes
pulmonados.
Um
golpe ainda mais amargo para os evolucionistas (que não veremos em livros
didáticos) é que o registro fóssil veio à tona forçar uma reversão de 180 graus
na estória sobre a “bexiga natatória para pulmão”. A presença de pulmões
em fósseis de placodermos (classe de peixes extintos) demonstra serem os
pulmões muito mais “antigos” do que as bexigas natatórias, o que sugere que
todos os peixes primitivos jawed também já o teriam;[13, 14] então, seguindo esse
raciocínio, os pulmões é que deveriam ter evoluído para bexigas natatórias, ao contrário
do que seria esperado.
Mas
o que a fisiologia dos peixes tem a nos dizer? Os peixes dipnoicos possuem a
bexiga natatória, um órgão projetado para que essas criaturas melhorem seu
desempenho ao subir e descer na água. A bexiga natatória possui uma glândula
que permite a expansão ou o encolhimento desse órgão, alterando, portanto, o
volume da entrada de gás em seu interior.[15] Os gases acumulados na bexiga
natatória apresentam em sua composição oxigênio, gás carbônico e nitrogênio.[16]
Aliás, é devido a esses gases no interior da bexiga natatória que os peixes boiam
depois de mortos. A concentração desses gases varia de espécie para espécie.
Ademais,
em algumas espécies de peixes, principalmente de água doce, o grau de
funcionalidade desse projeto vai além: a bexiga se encontra ligada com o
labirinto do ouvido interno, onde o animal obtém um sentido preciso da pressão
da água (e, portanto, da profundidade).[17] Por esse motivo, acredita-se que essa
ligação também auxilia o sentido da audição dos peixes. Se não bastasse, alguns
peixes fazem com que suas bexigas natatórias vibrem por meio do uso de músculos
super-rápidos a fim de produzir e emitir sons, característica vantajosa para o
acasalamento e a geração de descendentes.[18]
Outro
ponto interessante diz respeito ao mecanismo de flutuação da bexiga natatória,
o qual proporciona flutuabilidade neutra perfeita a um peixe, e ele pode desse
modo evitar gasto de energia para não afundar.[16] Há, entretanto, uma regra
importante para que esse projeto se mantenha funcional e otimizado: o peixe
deve permanecer a uma profundidade específica. Se nadar abaixo dessa
profundidade, a bexiga será comprimida pelo aumento da pressão na água, a
flutuabilidade diminuirá e o peixe precisará nadar ativamente para evitar que
afunde mais. Também já se sabe que o fato de um determinado peixe possuir uma
bexiga natatória está mais relacionado ao ambiente em que vive do que a sua
posição taxonômica. Alguns peixes que vivem no fundo, por exemplo, são
desprovidos de bexigas natatórias e parece razoável que a flutuabilidade neutra
não lhe seja necessária.
Os
proponentes do design não contestam a
ideia de que bexigas natatórias e pulmões se desenvolvem a partir dos mesmos
tecidos básicos, embora a hipótese específica da “origem a partir” do
divertículo do intestino anterior seja desafiada.[19] No modelo
evolucionista, isso é interpretado em termos de ancestralidade comum; no
modelo do design inteligente, em
termos do mesmo projeto básico de construção, com variações criativas sobre o
mesmo tema. Se dotado com brânquias, pulmões, ou uma combinação de ambos (a piramboia,
por exemplo), todos os peixes, vivos ou extintos, parecem ser (ou terem sido)
bem equipados para as exigências do seu modo de vida. Portanto, o chamado “fato”
da evolução de pulmões de bexigas natatórias finalmente (e evidentemente) acaba
por ser apenas mais um mito.
(Everton Alves)
Referências:
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