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A física Tiffany Summerscales |
Uma
física adventista do sétimo dia faz parte da equipe internacional que ocupou as
manchetes mundiais ao anunciar a primeira detecção das ondas gravitacionais, uma descoberta que promete abrir uma nova era na
astronomia. Tiffany Summerscales, professora associada de Física na Universidade Andrews, nos
Estados Unidos, auxiliou na pesquisa realizada pelo LIGO Collaboration,
que detectou as ondas gravitacionais provocadas pela colisão de dois buracos
negros a bilhões de anos luz da Terra. Segundo ela, a descoberta, publicada na
revista Physical Review Letters há
duas semanas, dá aos cientistas uma nova ferramenta para explorar o Universo.
“Imagino as ondas gravitacionais como sendo a verdadeira ‘música das esferas’”,
pontua Tiffany. “Os detectores do LIGO são os rádios que construímos a fim de
podermos ouvir essa música. Até agora obtivemos apenas a primeira nota – bem,
um gorjeio, na verdade – mas sabemos que há mais que poderemos ouvir quando
aprendermos a sintonizar melhor os nossos rádios.”
Graduada
em 1999 pela Universidade Andrews, em Berrien Springs, Michigan, ela começou a
trabalhar com a equipe do LIGO Collaboration, com mais de mil físicos,
enquanto fazia o doutorado, uma década e meia atrás, na Penn State
University, na Pennsylvania. Tiffany falou sobre a importância da descoberta e
do que a física significa para ela como adventista do sétimo dia, em uma
entrevista para a Adventist Review.
Qual foi exatamente sua
contribuição nesse projeto?
Sou
membro do LIGO Collaboration há 15 anos ou mais. Esse é o grupo de
pessoas que ajudam na concepção e melhoria dos detectores, analisam os dados
produzidos e fazem ciência com esses dados. Especificamente, tenho trabalhado
em dois tipos de projetos. Meus alunos e eu fazemos parte de uma equipe que
trabalha no desenvolvimento e testes de um dos algoritmos de computador que
analisa os dados e tenta caracterizar os sinais das ondas gravitacionais que
são encontradas. Nós também participamos em atividades educacionais e de
sensibilização pública.
O que a descoberta das
ondas gravitacionais significa para você, pessoalmente?
É
muito emocionante. Todos nós na Collaboration trabalhamos em prol desse
momento, por muito tempo – alguns por mais décadas do que eu. Foi necessário um
longo tempo para tornar os detectores suficientemente sensíveis para medir
essas tênues ondas do espaço. Agora que as medimos, podemos nos tornar os
astrônomos de ondas gravitacionais que sempre desejamos ser. Usar as ondas gravitacionais
para investigar os mistérios do Universo será formidável. Eu espero surpresas.
Você pode dar alguns
palpites das possíveis surpresas?
As
ondas se produzem melhor diante de alguns eventos astronômicos dos quais temos
o mínimo conhecimento. Até agora, só fomos capazes de ver as estrelas e as
nuvens de gás orbitando ao redor e sendo atraídas aos buracos negros. Os
buracos negros em si não emitem luz, mas sim produzem ondas gravitacionais. Ao
medir essas ondas, seremos capazes de ver como é o espaço imediato ao redor dos
buracos negros. Atualmente, não temos uma boa forma de testar como se comportam
as regiões de gravidade muito forte.
Outro
exemplo é o das explosões de supernovas que resultam no colapso de uma estrela
maciça no final de sua vida. Vemos a explosão pelo lado de fora, mas não
podemos ver o que acontece no centro. O núcleo da estrela entra em colapso até
que ele se torna tão denso que os átomos se esmagam, até que todo o núcleo se
torna uma grande bola de nêutrons, um tipo como um único átomo imenso (menos os
prótons). Ninguém sabe como se comporta essa substância nêutron-estrela, porque
não podemos fazer isso no laboratório, mas as ondas gravitacionais serão
produzidas a partir do centro da supernova e trarão informações de como se
parece esse tipo de matéria.
O que essa descoberta
significa para os adventistas?
Uma
vez que os adventistas são seres humanos, significa que temos um novo tipo de
astronomia para aprender mais sobre o Universo. Para mim, aprender mais a
respeito do Universo é muito inspirador, pois ele contém ecos da grandeza de
Deus.
Ampliando esse
pensamento, como você vê a mão de Deus em seu trabalho?
O
espaço é vasto, impressionante e de uma beleza “de cair o queixo”. Na verdade,
diariamente eu passo ainda mais tempo trabalhando com os alunos. Há muitas
oportunidades aí para ver Deus operando na vida deles e os levando a se
tornarem jovens adultos com grande potencial para impactar positivamente o mundo.
Qual é seu verso bíblico
favorito e por quê?
Posso
escolher dois? Miqueias 6:8 e Eclesiastes 3:11. O primeiro porque resume nosso
relacionamento com Deus e destaca o que é mais importante: a justiça, a
misericórdia e a humildade, que são diferentes aspectos do amor. Eclesiastes
3:11 destaca a maravilha de Deus e de Sua criação, e a parte “pôs na mente do
homem a ideia da eternidade” me faz lembrar de como me sinto quando penso na
vastidão do espaço.
Há algo que você gostaria
de acrescentar e que eu não lhe perguntei?
Eu
gostaria de incentivar os leitores a buscar mais informações. Há vídeos online com gráficos realmente
legais que fazem um trabalho melhor de explicar o que foi descoberto e que não é
fácil transmitir com palavras. Um bom lugar para começar é: ligo.caltech.edu/detection
(Equipe ASN, Andrew McChesney)